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N.º 017, Adar 5689 (Fev-Mar 1929)







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N.° 17                            PORTO - Adar de 5689 (Fevereiro-Março de 1929)                      ANO III
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Tudo se ilumina                     _______  ___  _______ |=|____  _______                    ...alumia-vos e
para aquele que                    |____   ||_  ||  ___  ||____  ||_____  |                   aponta-vos o ca-
busca a luz.                            | |   |_| \_\  | |    / /   _   | |                   minho.
                                        | |       _____| |   / /   | |  | |
       BEN-ROSH                         |_|      |_______|  /_/    |_|  |_|                          BEN-ROSH

                                                  (HA-LAPID)

                                      Órgão da Comunidade Israelita do Porto

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DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH)   || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARIO DO PORTO, Lda
            Avenida da Boavista, 854-PORTO             ||           Rua.de S. Bento da Victoria, 10
(Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) ||   ---------------- P O R T O ----------------
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ENTREVISTA COM O

Decano dos cripto-judeus do Porto

Por informações vindas de Bragança soubemos
da existencia no Porto dum velho cripto-judeu origi-
nário daquela cidade. Resolvemos ir procura-lo e
assim fizemos.

O sr. João Antonio Ferreira, um simpatica ancião
de 80 anos, bem conservado ainda, recebeu-nos ama-
velmente, logo que declinamos a nossa identidade e
lhe dissemos qual o fim da nossa visita.

Começou por dizer-nos que tinha oitenta anos já
feitos pois nascera em Bragança a 22 de Janeiro de
1849, que tinha ainda uma vista excelente e que fa-
zia a pé sem dificuldade o trajecto desde a sua resi-
dencia em S. Mamede até ao centro da cidade do
Porto. Disse mais que estava nesta cidade ha trinta e
tantos anos, onde fora negociante e tendo-se retirado
dos negocios vive hoje duns parcos rendímentos.

-Pode indicar-nos nomes de familias de Bragan-
ça de origem judaica?

-Sim, nos respondeu. Estes que vou dizer são de
puro sangue judaico: Bernardo Ferreira, Antonio Jo-
sé da Costa, João Antonio Ferreira, José Bernardo
Ferreira, Maria Augusta Nunes, Sá Vargas. Manuel
Lopes dos Santos, Luíz Saldanha, Antonio Marcelino
Saldanha, João Antonio Nunes, José Castro, Henrique
de Lima, Manuel Mendes Pereira, Francisco de Bar-
ros, Manuel de Barros, Manuel de Sá Pilão, Antonio
de Sá Pilão, José de Lima Furtado. (este não é nada
ao farmaceutico Furtado de Bragança), Pedro Au-
gusto Lobo, Luiz Carneiro, Antonio Carneiro, Anto-
nio dos Passos Furtado, Albano Augusto Borges, Ma-
nuel Guimarães, Francisco Guimarães e José Guima-
raes, Manuel Sá Pereira, Antonio de Sá Pereira, Fran-
cisco Salisio de Sá Pereira, Belisario de Leão, Lucíno
de Leao, Guilherme Braga, José de Lima, Miguel de
Lima Furtado, José Placido de Lima; o medico Fur-
tado, pae do farmaceutico Furtado; Domingos Lo-
Pes, Antonio Lopes, José Lopes da Silva, Antonio
Franco, João Franco. João Pisarro; José de Barros
Que tem uma farmacia na rua do Bomjardim, no
Porto, proximo á Praça Marquez de Pombal; Antonio

José de Carvalho, que tem um estabelecimento de
fazendas no Bairro Alfama, em Lisboa; Francisco de
Carvalho, que mora no Largo do Intendente Lisboa;
Miguel Augusto Nunes, de Rebordelo de Vinhais;
Joao Augusto Nunes, José Nunes, de Rebardelo; Te-
nente Joaquim Augusto Nunes, de Rebordelo. resí-
dente em Chaves; Dias, tio do medico Guilherme
Braga, negociante em Vinhais. Não sei se me esque-
ce algum. Há muitos mais judeus, mas são familias
já misturadas. Estes que indiquei, em todo o ano,
não punham os pés na igreja.

-Em Bragança tinham sinagoga ou oratorio?

-Não senhor. Reuniam-se em casa uns dos ou-
tros para fazerem as rezas?

-Tinham pessoas encarregadas do culto ?

-Havia um velho, chamado Luiz Carneiro, a
quem chamavam Sacerdote judaico e havia mais uns
3 ou 4, entre os quais esteve Manuel de Barros, avó
do fermaceutico residente no Porto. Havia tambem
umas mulheres, a quem chamavamos sacerdotisas,
que tinham a missão de ensinaram a religião ás
creanças.

-Lembra-se de alguns ritos?

-Assisti a muitas rezas mas não sei nenhuma
de cór. Lembra-me que aos sabados e dias de jejuns
colocavam umas toalhas brancas de linho pela ca-
beça emquanto diziam as orações.

-Ainda hoje nós usamos no judaismo oficial uns
mantas brancos franjados, quando fazemos certas
orações; dissemos nós, e este manto damos o nome
de Taleth. Recorda-se de mais alguns ritos?

--Em cada ano, durante a lua de setembro, des-
de o seu começo, não entrava carne de porco em ca-
sa nenhuma. Durante essa lua observavamos alguns
jejuns, e em alguns deles só se comia á noite comida
de peixe. Uns faziam 4, outros 3 e outros 2 jejuns
nesse mês.

Todas as sextas-feiras acendiam urnas luzes espe-
ciais.

Em todas as festas judaicas era uso tomar no fim


 
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