6 HA-LAPID ========================================= EMIL LUDWIG POR LYGIA TOLEDANO EZAGUY Para mim, Emil Ludwig não morreu. Quem deixa o mundo, conseguindo antes da sua partida, oferecer à terra, aquele fruto de semente espiritual que germinou, espa- lhando pelo coração e cérebro do homem, a luz que ilumina e jamais se apagar,-é imortal! Emil Ludwig será no Céu, agora, uma das estrelas mais cintilantes, bela, perdurá- vel, a embelezar o Infinito. Emil Ludwig-Israelita pela raça, a quem foi concedida autorização para tro- car o apelido hebraico de Cohn pelo de Ludwig, desaparecera, sim, mas não dos olhos da nossa alma. Os seus leitores devem-lhe muito, porque ele não foi ape- nas, o novelista ou o poeta. Não! Ele foi o grande observador, o profundo analista, o extraordinário psicólogo; o céle- bre homem de letras, excepcional nas suas expressões e nos seus coloridos. O seu verdadeiro triunfo, obteve-o, ele, como biógrafo. Revelador das realidades humanas, não esqueceu-Bismark, Gui- lherme II, Estaline, Venizelos, Masarik, Ratheneau, Briand, Lloyd George, etc.. Mas, Emil Ludwig, como tantos outros gênios da Literatura israelita, não foi pou- pado pelos nazis. Ao receber as perigosas e provocadoras manifestações de ódio desses anti-semitas. hoje detestados por quase todo o mundo..., refugiara-se, naturalizando-se suíço. As suas obras literárias, publicadas na Alemanha-pátria onde nascera, foram reti- radas das numerosas livrarias para a boca das fogueiras, e essas famintas destruido- ras, ávidas e sedentas de tornar em cinza negrida e nua, os pensamentos vivos pela Arte, e perfeitos, pela consciência, obede- ceram, assim, aos seus carrascos. Mas não, Contra o imorredouro nin- guém pode. E nem com o deslizar dos séculos se apaga o que atinge o auge do que é belo e eterno pela essência! Hoie em Portugal, país católico, mas nosso amigo, recebemos a confirmação das minhas palavras: Aqui como todas as partes do mundo, a morte de Emil Ludwig é como a continuidade da sua vida. Não há Diário algum que deixe de homena- geá-lo. A matéria desfaz-se? Que importa, se o seu espirito vai permanecer intacto? Ao folhearmos os seus livros não con- cordamos que o seu complexo seja a sin- tese de um espirito que jamais optara pela ficção... Quando Emil Ludwig deixou a sua pátria, não esqueceu novas biografias: "HITLER e MUSSOLINI", publicadas em francês, "Aliança" e, "ROOSEVELT". Todos esses trabalhos mantêm-se, por- que o mundo busca sempre o seu contacto, através de todas as gerações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Um homem que soube perscrutar a verdade do Mundo, conhecendo o que ele tem de mau, odiento e impuro, deve aca- bar, com o rodar dos anos, por se tornar um pessimista, um hipersensivel. Emil Ludwig, isolado e triste, colocara, mais tarde, entre ele e a vida exterior, uma barreira, e o seu coração cansara, porque trabalhara muito para o mundo, excedendo as suas energias. Lutara, trabalhara, sem cessar, repar- tindo por todos, o bem que ilumina o cérebro e aperfeiçoa a alma. Para a consagrada memória de Emil Ludwig o nosso preito de homenagem pelo seu altíssimo valor literário que o coloca como o escritor actual de maior reputação universal. Nota da Redacção-O nome Cohn (como usam dizer certos israe- litas, dos meios germânicos) é o nome bíblico Kohen (leitura exacta Kó-é-ne) que significa Sacerdote. Só podem le- galmente, segundo as leis judaicas, usar este nome os descendentes de Aarão, irmão de Moisés, nosso Mestre. Em todas as sinagogas do mundo eles têm honras especiais nas orações.
N.º 142, Tamuz-Elul 5708 (Jun-Ago 1948)
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