A Gastronomia Transmontana é considerada uma das mais ricas de Portugal. No caso da região do concelho de Vinhais e particularmente na nossa terra em Rebordelo, é uma cozinha simples, cheirosa de ervas onde o fumeiro tem um lugar de destaque.
Aqui são produzidos com qualidade todos os alimentos que constam da nossa dieta alimentar com excepção do arroz. Mas temos outros alimentos que foram enriquecendo a nossa cozinha encontrados na natureza de criação espontânea: as deliciosas merugens e beldroegas, comidas em excelentes saladas, os beldros, cogumelos como míscaros, tortulhos, sanchas ou telheiras, etc.
Nesta altura, comer uma salada de merugens está fora de época, porque já veio o cuco e" já cuspiu nelas " não se podem comer...
- ouvia eu na minha infância quando passeando junto aos ribeiros ou pequenas levadas de água encontravamos as deliciosas merugens, já meio floridas e com grossas gotas de orvalho pelo meio (?) o tal cuspo do cuco.! Como anunciador da Primavera ouvia-se ao longe a cantar...
Mas esta cozinha simples era composta de pratos cujas receitas estão infelizmente esquecidas e a cair em desuso. Em sua substituição, comemos outras coisas que nada têm a ver connosco, com o nosso clima, com as nossa tradição, as nossas necessidades alimentares e posteriormente vão a médio prazo ter consequências nefastas na nossa saúde. (obesidade, colesterol alto, diabetes etc.)
Hoje quero recordar e partilhar, o prato que aqui em Rebordelo e em algumas terras de outros concelhos do distrito de Bragança se comia sempre ao jantar, desde Outubro até Maio. Além de ser um prato saudável era uma refeição dieteticamente correcta e completa. Estou a falar dos "Chícharos com couves".
Era chícharos (feijão frade) e couve galega.
Toda a gente os cultivava para todo o ano. Eram guardados em sacos de serapilheira ou de sacas feitas de pano de algodão e metidos numa arca de madeira. Desta forma sempre arejados não estavam tão sujeitos a estragarem-se e a criar "bicho". Hoje, comprados no supermercado em sacos de plástico ou celofane, se nos descuidamos, em menos de 2 meses estão completamente cheios de bicho.
Mas vamos à receita.
Para 4 ou 6 pessoas:Cozem-se os chícharos. Para que todos se cozam igualmente deve-se acrescentar de água fria 2 ou 3 vezes. Quando estiverem cozidos sem estarem desfeitos, temperam-se com sal. Deixam-se ferver um pouco mais e retiram-se alguns da panela para não se desfazerem e ficarem mais inteiros. Deita-se a colher de banha e as couves devidamente cortadas e lavadas. Quando começar a ferver deita-se um fio de azeite sempre com a panela destapada, até cozerem. Juntam-se os restantes chícharos, envolvem-se às couves, deixamos ferver mais um pouco e está pronto.
Coam-se num coador e com uma tampa ou prato escorre-se bem toda a água ou caldo . Põem-se numa taça ou travessa acompanhando com batatas, cozidas à parte.
Regam-se com o nosso fino azeite e quem gostar umas gotas de vinagre.
Nas casas mais abastadas eram acompanhados com alheira, linguíça, iscas de bacalhau, ovos verdes, peixe frito, etc mas sem estes acompanhamentos a refeição era completa e muito saudável!
Também era costume aproveitar a água desta cozedura para fazer sopa juntando para engrossar batata desfeita e nada se deitava fora. Para completar, um pouco de pão centeio, daquele caseiro.
O hábito deste prato era tal que entre as vizinhas ou comadres quando se aproximava a hora de fazer o jantar,despediam-se dizendo: