N.° 10 PORTO - NISSAN 5688 (Abril de 1928) II ANO ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos e para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | aponta-vos o ca- busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | minho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) Órgão da Comunidade Israelita do Porto ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARlO DO PORTO, Lda Avenida da Boavista, 854-PORTO || Rua.de S. Bento da Victoria, 10 (Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) || ---------------- P O R T O ---------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Inquisição do Porto Por carta datada de 30 de Junho de 1541. el-rei D. João III ordenou ao carmelita D. Baltazar Limpo, bispo do Porto, que instituisse o tribunal do Santo Oficio nessa cidade, e mandou-lhe, para que o coadju- vassem nessa empreza, o provisor de Braga, dr. Gaspar de Carvalho, e o bacharel Gomes Afonso, prior da colegiada de Guimaraes. O bispo completou a mesa do tribunal com Jor- ge Rodrigues, dr. João do Avelar, o vigario, e um bacharel do bispado. Foi promotor desse tribunal o dr. João de Ave- lar. Defensor ou procurador que «defendem os pre- sos› nao existia, pois tal cargo so foi creado em 1613. Umas casas da rua Escura, pertencentes a Fer- não Aranha e sua mulher Catarina Seixas, foram re- quisitadas e nelas se fez o carcere da Inquisição. Baltazar Limpo que tinha uma certa má vontade contra os cristãos novos do Porto, que não tinham querido contribuir com o seu dinheiro para que o edificio da sinagoga do Olival fosse transfor- mado na igrega de S. Bento da Vitória, com todo o zelo se dedicou ao cumprimento dos seus deveres de inquisidor, e tanto trabalhou no seu piedoso mister, que em 20 de Outubro de 1542 escrevia a el-rei di- zendo-lhe que ao presente estão sentenciados para irem ao cadafalso perto de 40 pessoas presas deles inlgados á morte, alem de outras com penas mais leves; e como quero fazer um auto publico da fé, o o qual já não se começa de ordenar o cadafalso por V. Alteza não mandar provisão para o corregedor. o qual deve logo de mandar para se começar o cada- falso e se fazerem outros aparelhos. Nesta carta queixa-se o inquisidor da gente e autoridades camarías do Porto, de quem diz como aqui não podem viver fidalgos, cada um deles o é, e acrescentando que eles não acham em mim deixar de castigar os herejes por suas culpas, nem lhe que- ro dar confiança a leigos, pesa moralmente com a Inquisição, porque os mais dos homens desta terra tratam por via dos cristãos novos, a quem tem dado dinheiro, e como nestas terras não sabem quam deli- cada é a justiça da Inquisição... Diz mais na carta que o juiz do povo e os vereadores tiveram o desca- ramento de mandar tres homens ao Tribunal da In- quisição, quando ele estava reunido em sessão, com um recado muito descortez, em que, sob o pretexto da cobrança duns impostos ilegitimos lançados pelo bispo, lhe faziam a intimação de não continuar com tal cobrança, porque o povo está mui alvoraçado e se não que eles usavam de seu remedio. 0 bispo e inquisidor quiz o mais depressa possi- vel mostrar a gente irrequieta do Porto quanto deli- cada era a Justiça da Inquisição e com a ajuda do corregedor Francisco Toscano, no dia 11 de Feverei- ro 1543 realisou o auto publico da Fe, que tanto desejava. A descrição desse auto não a farei eu, porque desejo que os leitores ouçam a que o citado correge dor fazia a el rei, a 15 do mesmo mês, isto é, quatro dias depois do horrivel espectaculo: "...Esta provisao veio com outras do Bispo, o qual logo fez ordenar tudo o que era necessario, e mandou fazer em um campo desta cidade, donde es tava a porta do Sol, tres cadafalsos pela ordenanca dos de Lix.a e a 11 deste mes de Fevereiro se fez o auto, em que houve 84 penitentes, a saber quatro que padeceram e 21 que se queimaram em estatuas, e 15 de carcere perpetuo com sambenitos, e 43 peni tenciados a carcere temporal de 1 até 10 anos, e duas testemunhas falsas, as herezías destes (segundo as Sentenças delatavam) foram muitas e graves e valeu aos de carcere perpetuo, que pediram mesa, com muita contrição. O auto foi bem feito e socegado, 'com boa ordem que nele houve, poz grande espanto á gente desta terra, que nunca outro tal virão. Esti- mou-se a gente, que a ele veio assim desta terra como de fora, em 30;000 pessoas, e parece que esta justiça foi feita por vontade de Deus, que chovendo os dias dantes de muita agua e vento, o dia do auto supitamente tornou mui sereno e claro; 'durou o auto com a queima até as 5 da tarde, nesta terra' houve muito proveito, e fruito assim no espiritual como temporal depois que a Santa Inquisição é nella..." Completando as informações do corregedor, di- rei que nesse auto foram queimados vivos tres ho- mens e uma mulher; queimados em estatua. porque não desejando passar pela purificação do fogo, pude-
N.º 010, Nissan 5688 (Abr 1928)
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