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Ha-Lapid הלפיד


N.º 013, Elul 5688 (Ago 1928)







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 2          HA-LAPÍD
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Em Bragança e em varias terras da
Beira é frequente ouvir-se dizer aos
catolicos que entre os judeus daquelas
terras ha alguns que são abafadôres.
Sendo perguntados sobre a significação
dessa palavra, eles explicam que entre
os judeus é costume, que quando al-
gum deles está moribundo os outros
matam-no por asfixia (abafam-no) e os
que se encarregam desse serviço são
designados pelo nome de abafadôres.
lsto é pura lenda catolica sobre
judeus.
Pela nossa santa religião é absolu-
tamente proibido' abreviar a vida de
quem quer que seja, nem que esta pes-
soa esteja no meio de grande sofri-
mento. Da vida humana apenas pode
dispor o Supremo juís da Verdade
(Dayan Emeth) e não podemos nós
seus humildes servos alterar a sentença
divina. A dôr é por vezes um meio de
que usa o Supremo Juiz para purificar
a alma do pecador.
Se alguem para evitar um sofri-
mento abreviasse a vida dum mori-
bundo, pelas nossas leis, esse seria um
assassino.
Sabido pois que nas Leis de Israel
nada ha que pudesse permitir tal pra-
tica, vamos explicar a origem dessa
lenda.
Desde que D. Manuel I, rei de Por-
tugal, no fim do seculo XV, usando das
maiores violencias forçou os israelitas
portugueses a converterem-se ao cato-
licismo, começou para esses infelizes a
pratica duma dualidade religiosa. Usa-
vam as praticas catolicas na vida exte-
rior mas no seu lar, ocultos a olhares
profanos, continuavam com as praticas
judaicas.
Em todas as Comunidades israelitas
existe um nucleo de individuos encar-
regados da Hebrah Kadishah (Serviço
Santo) que tem por fim velar os mortos,
purifica-los, amortalha-los, organísar os
enterramentos, velar pela conservação
das sepulturas e fazer as orações rituaes
funebres.
Durante as perseguições inquisito-
riais os cripto-judeus continuaram a
manter os usos judaicos tanto quanto
possivel. 
Quando algum cripto-judeu caía
gravemente doente, chamava para junto
de si alguns correlegionarios sabedores
do oficio funebre e no meio das orações
dos seus entregava a alma ao Creador.
Devido á dualidade de religião que
professavam, depois de se haverem
certificado que o seu ente querido dei-
xara de existir, os parentes iam chamar
o padre catolico dizendo-lhe que o seu
parente estava a morrer. Quando o sa-
cerdote cristão chegava para lhe admi-
nistrar os ultimos sacramentos, não o
podia fazer por ter chegado tarde. E
como este facto era muito frequente e
tambem eram notados pelos catolicos a
existencia, junto do moribundo, de cer-
tos individuos de raça hebrêa, dai o
convencimento do padre e dos seus
ajudantes de que eles haviam chegado
tarde porque os tais judeus haviam
abafado o moribundo.
E desta forma, para os espiritos
catolicos dessas regiões aqueles pie-
dosos israelitas do Serviço Santo, que
levavam boas palavras de fé e espe-
rança aos moribundos, transformaram-
se nos sinistros abafadores.

                      BEN›ROSH


 
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