HA-LAPÍD 3
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sos de vidro, ferros e outros artigos necessários para
a circuncisão e para os curativos.
Chegaram Rabi Samuel, o Mohel e Rabi Abraham.
o Hazan (oficiante) da Sinagoga Shaaré TIKVAH. Vai
proceder-se à cerimonia.
No salão ficam hebreus de idade superior a i3 anos
e algumas hebrêas casadas, as restantes senhoras
vão para os aposentos da mae da criança dar-lhe as
felícitações e levar os pequenos presentes que desti-
nam ao menino.
No salão entrou a madrinha, conduzindo nos bra-
ços o pequenino israelita e dirige-se para o trono.
Um canto grave se faz ouvir. Os assistentes entoarn
um psalmo, usado nas velhas comunidades hebra cas
de Portugal e conservado até ao presente pela tradi-
ção oral.
O avô Jacob que a paralisia do braço esquerdo
impede de executar todas as as funções que o rito
impõe ao padrinho, é nelas substituido pelo pai do re-
cem nascido.
O capitão Ben-Rosh, de grande uniforme, onde re-
luzem várias condecorações, com a fronte diademada
com um dos Tephilim e os ombros cobertos com o
manto branco nacional (Taleth) senta-se na Cadeira
de Elias, o profeta. Sobre os joelhos é lhe deposta uma
almofada coberta com uma toalha de linho de fino
bordado. Em seguida é lhe entregue a criança, que o
pai com o braço esquerdo, onde se enrosca como fina
e negra serpente o outro Tephilim, segura-a pelo
peito, enquanto com a mao direita lhe prende bem os
pesitos.
Para que um brusco movimento não faça soltar
as pernitaa da criança, o Mohel ligára-las com uma
tira de linho dos joelhos aos pes.
O psalmodear grave rolava na sala e entre as vo-
zes distingue-se agora a de Rabi Abraham:
--Sêde benditos, ó membros desta santa comuni-
dade, e bendito seja aquele que vem sem nome do
Eterno.
"Que esta criança nascida feliz, floresça, se eleve
e prospere.
"Que tal seja a vontade de Deus.
"Esta criança é digna de entrar na aliança; que
sua mae e seu pai vejam o docel nupcial; que o anjo
libertador a abençoe, e que lhe estejam reservadas as
bemaventuranças do Eterno".
O MOHEL abre um estojo o tira de lá uma peque-
na faca, em fôrma de gladio, da qual examina o gu-
me; verificando que ele está em boas condições, se-
gura-o na mao direita e diz:
-Louvores te sejanm dados, Eterno, nosso Deus,
rei do Universo que nos santiiicaste pelos teus man-
damentos e nos ordenaste a círcuncisão.
Diz entao por sua vez o pai:
"Louvado seja, eterno. nosso Deus, rei do Uni-
verso, que nos santiiicaste pelos teus mandamentos e
nos ordrnaste qu» fizessemos entrar os nossos filhos
na aliança de Abraham.
"Lauvado sejas, Eterno, nosso Deus, rei do Uni-
verso, porque me fizeste a graça de me deixar viver
e assistir a este belo dia.
A assistencia exclama:
-Assim como o fizeste entrar na aliança de
Abraham, que ele seja iniciado na nossa santa Lei,
nas boas obras, e que tu o possas conduzir para de-
baixo do docel nupcial.
Assim seja.
Começa o MOHEL a operação. Prenda o prepucio
da criança na fenda duma lamina larga, denominada
Magen (escudo) e apoiando nela a pequena faca, de-
cepa num relampago a carne saliente, arremessando-a
a uma bandeja que, colocada no chão, junto ao
tronco, contém areia.
O pequenino soltou um gemido e nada mais. O
sangue corre, mancha de vermelho as toalhas de
linho.
O Mohel segurando o gladio ensanguentado
exclama:
--Que o sangue da criança, que acaba de ser cir-
cuncidada em presença desta santa comunidade. seja
agradavel a Deus; que Ele se digne aceita-lo como uma
oferenda e que cedo nos seja permitido oferecer sacri-
ficíos em Jerusalém.
"Ele pós o seu sêlo na nossa carne como um sinal
eterno para nós e para os nossos filhos. Aqueles que
nos veem reconhecem-nos como abençoados filhos de
Deus.
-Oue o sangue da criança, que acaba de ser cir-
cuncidada seja aceite pelo Eterno como uma ofe-
renda".
-Amen, respondem os assistentes.
O Mohel trata do curativo, enquanto a criança
passeia o seu olhar admirado pela assistencia.
Rabi Abraham, toma de cima do altar um calíx
de prata lavrada contendo vinho Kasher (ouro) e se-
gurando-o á altura do peito, recita:
--Senhor, Nosso Deus, conserva esta criança
para seu pai e para sua mãe, e que ela seja conheci-
da em Israel pelo nome de NUN. Que seu pai se regu-
sije pela sua progenitura e sua mae pelo fruto do seu
seio.
"Pois está escrito: que seu pai e sua mãe sejam
na alegria e que aquela que o gerou se regosije, e eu
te digo «Vive no teu sangue». Sim, vive no teu san-
gue, e está escrito: Recordémos eternamente a sua
palavra, e a sua aliança com milhares de gerações.
Aliança contratada com Abraham, renovada com ju-
ramento a Isac; convertida em lei a favôr de Jacob, e
conservada por toda a eternidade em Israel».
-Dai graças ao Eterno. porque Ele é bom; a sua
misericordia é eterna.
«Que Deus proteja e abençoe o joven NUN e assim
como ele entrou na aliança. que seja iniciado na Lei,
nos mandamentos, nas boas obras eque ossa ser
conduzido c m felicidade sob o docel nupcla . Que tal
seja a vontade do Senhor».
-Amen, apoia o Kahal (a assistencia).
Terminára a cerimónia. A criança, já meia ador-
mecida pela fadiga. vai repousar no berço e os convi-
dados encaminham-se para a saia de jantar, onde lhes
é servido um copo de agua.
Barros Basto.
(De "A Tribuna do Porto de 12 de Junho de 1924"
o o o
O Fadar duma menina.
O oficiante toma nos braços a creança
e voltando-se para Mizrah' (oriente) diz:
-Minha pomba, aninhada nas fendas
das penhas, ocultas nas ingremes ladeiras,
deixa-me ver o teu rosto, ouvir a tua voz,
N.º 018, Veadar 5689 (Mar-Abr 1929)
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