2 HA-LAPÍD ========================================= Moisés, o Bom Pastor Excerpto dum sermão do Rev' Rabbi Y. Well, transmitido de Paris ao mundo in- teiro pela telefonia sem fios no dia 7 de Fevereiro passado: ... Na vida dos grandes condutores de homens, nenhum traço e' indiferente á poste- ridade, avida de conhecer as menores etapas duma carreira excepcional e os primeiros presagios duma ascenção para a gloria. Mas quando se trata dos herois biblicos, que al- cançaram os cimos da grandesa moral, a cu- riosidade admirativa, exalta-se particu- larmente. E se os documentos que lhes di- zem respeito são sobríos de detalhes, a len- da faz carreira. Ela enche as lacunas; am- plifica as brevidades do texto; abre capitulos intermedíaríos entre factos consecutivos mas distantes. Acontece tambem que a lenda nos conserva preciosas tradições antigas, trans- mitidas piedosamente de boca em boca. Em todo o caso, tal ficção sensivelmente ilustra admiravelmente alguns aspectos essenciais da personalidade a quem ela dá auréola. Moisés, na tradição judaica, é o centro duma multidão de agadoth ou narrativas po- pulares, bordadas sobre a trama bíblica. De todas as figuras da historia sagrada, a de Moisés e' a mais ricamente ornamentada, co- mo é natural. por se tratar do maior e do mais venerado dos profetas. ......................................... Moisés é tambem, na tradição, o pastor consciencioso e fiel. Mas a este detalhe junta-se uma nota de piedade e de humanidade comovente e, no que ides ouvir, á toda a missão profetica de rectidão, de justiça e de amor, que se prefi- gura, de certa maneira, e se anuncia na simples aventura dum simples pastor da planície madíanita. "Moisés", diz o midrache, velava os seus rebanhos com uma amorosa solícitude. Con- duzia os mais; pequenos em primeiro logar á pastagem para lhes procurar a herva tenra. Os animais mais idosos levava-os depois e deixava-os tríncar a herva que lhes convinha. No final, era a vez dos mais vigorosos, a quem reservava as raízes mais duras que os pequenos não tinham podido tríncar. Entao Deus disse: -Aquele que sabe apascentar os reba- nhos, fornecendo a cada qual o pasto que lhe convem, pastoreará o meu povo." "Um dia um cabrito tinha fugido. Moisés correndo atraz dele, viu que ele parava junto dum regato, e disse então-Pobre Cabrito! Eu não sabia que tinhas sede e procurava, ávidamente agua para beberes. Julgo que estás fatigado." E ele reconduziu-o aos om- bros. Então Deus disse:-Tu tiveste compai- xão dum rebanho pertencente a uma creatura de carne e sangue. Enquanto viveres hasde pastorear Israel, meu rebanho." Moisés não só tinha cuidado que nada acontecesse aos rebanhos confiados á sua guarda; mas tambem vigiava que eles não prejudicassem ninguem. Escolhia Sempre uma pastagem livre para aí os apascentar, tendo cuidado que os seus animais não fos- sem comer os pastos dos outros. A lenda acrescenta que durante os 40 anos da sua permanencia junto de Jetrô, nenhuma ovelha foi atacada pelas féras e que os rebanhos de seu amo prosperavam mila- grosamente. Passar de pastor de ovelhas a pastor de Israel foi a sorte do rei David assim como de Moisés, e a tradição compraz-se em citar os versículos do Salmo 78, que canta esta gloriosa promoção-Deus escolheu David e tirou-o dos redís das suas ovelhas. Do meio das ovelhas leiteiras Ele o levou para pastorear Jacob, seu povo, e Israel, sua herança. E ele foi seu pastor conforme a integridade do seu coração e com as suas mãos experientes os dirigiu. (salmo 78, vers. 70-72). Apoiando-se sobre estes ilustres exem- plos, o Talmud ensina, numa sentença bem marcante, que o Santo (bendito seja Ele) não concede a grandeza ao homem senão depois de o ter experimentado nas coisas pequenas. A historia não e' falta de exemplos para ilustrar esta bela lição que os melhores che- fes de povos ou de Colectividades, os melho- res pastores de homens são os que não des- prezaram, nos seus principios, as tarefas sem brilho, monotonas e muitas vezes penôsas, mas onde algumas das mais belas virtudes. que honram o homem, teem ocasião de se manifestarem, paciencia e abnegação, tenaci- dade e desprezo do perigo, solicitude genero- sa para com os fracos, alta consciencia da responsabilidade que assume o guarda do rebanho. O apólogo do bom pastor, preludiando por
N.º 028, Adar 5690 (Fev-Mar 1930)
> P02