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Ha-Lapid הלפיד


N.º 028, Adar 5690 (Fev-Mar 1930)







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 2                 HA-LAPÍD
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Moisés, o Bom Pastor

Excerpto dum sermão do Rev' Rabbi Y.
Well, transmitido de Paris ao mundo in-
teiro pela telefonia sem fios no dia 7 de
Fevereiro passado:

 ... Na vida dos grandes condutores de
homens, nenhum traço e' indiferente á poste-
ridade, avida de conhecer as menores etapas
duma carreira excepcional e os primeiros
presagios duma ascenção para a gloria. Mas
quando se trata dos herois biblicos, que al-
cançaram os cimos da grandesa moral, a cu-
riosidade admirativa, exalta-se particu-
larmente. E se os documentos que lhes di-
zem respeito são sobríos de detalhes, a len-
da faz carreira. Ela enche as lacunas; am-
plifica as brevidades do texto; abre capitulos
intermedíaríos entre factos consecutivos mas
distantes. Acontece tambem que a lenda nos
conserva preciosas tradições antigas, trans-
mitidas piedosamente de boca em boca. Em
todo o caso, tal ficção sensivelmente ilustra
admiravelmente alguns aspectos essenciais
da personalidade a quem ela dá auréola.

Moisés, na tradição judaica, é o centro
duma multidão de agadoth ou narrativas po-
pulares, bordadas sobre a trama bíblica. De
todas as figuras da historia sagrada, a de
Moisés e' a mais ricamente ornamentada, co-
mo é natural. por se tratar do maior e do
mais venerado dos profetas.
.........................................
Moisés é tambem, na tradição, o pastor
consciencioso e fiel.

Mas a este detalhe junta-se uma nota de
piedade e de humanidade comovente e, no
que ides ouvir, á toda a missão profetica de
rectidão, de justiça e de amor, que se prefi-
gura, de certa maneira, e se anuncia na
simples aventura dum simples pastor da
planície madíanita.

"Moisés", diz o midrache, velava os seus
rebanhos com uma amorosa solícitude. Con-
duzia os mais; pequenos em primeiro logar á
pastagem para lhes procurar a herva tenra.
Os animais mais idosos levava-os depois e
deixava-os tríncar a herva que lhes convinha.
No final, era a vez dos mais vigorosos, a
quem reservava as raízes mais duras que os
pequenos não tinham podido tríncar. Entao
Deus disse:
-Aquele que sabe apascentar os reba-

  

nhos, fornecendo a cada qual o pasto que
lhe convem, pastoreará o meu povo."

"Um dia um cabrito tinha fugido. Moisés
correndo atraz dele, viu que ele parava junto
dum regato, e disse então-Pobre Cabrito!
Eu não sabia que tinhas sede e procurava,
ávidamente agua para beberes. Julgo que
estás fatigado." E ele reconduziu-o aos om-
bros. Então Deus disse:-Tu tiveste compai-
xão dum rebanho pertencente a uma creatura
de carne e sangue. Enquanto viveres hasde
pastorear Israel, meu rebanho."

Moisés não só tinha cuidado que nada
acontecesse aos rebanhos confiados á sua
guarda; mas tambem vigiava que eles não
prejudicassem ninguem. Escolhia Sempre
uma pastagem livre para aí os apascentar,
tendo cuidado que os seus animais não fos-
sem comer os pastos dos outros.

A lenda acrescenta que durante os 40
anos da sua permanencia junto de Jetrô,
nenhuma ovelha foi atacada pelas féras e que
os rebanhos de seu amo prosperavam mila-
grosamente.

Passar de pastor de ovelhas a pastor de
Israel foi a sorte do rei David assim como
de Moisés, e a tradição compraz-se em citar
os versículos do Salmo 78, que canta esta
gloriosa promoção-Deus escolheu David e
tirou-o dos redís das suas ovelhas.

Do meio das ovelhas leiteiras Ele o levou
para pastorear Jacob, seu povo, e Israel, sua
herança. E ele foi seu pastor conforme a
integridade do seu coração e com as suas
mãos experientes os dirigiu. (salmo 78, vers.
70-72).

Apoiando-se sobre estes ilustres exem-
plos, o Talmud ensina, numa sentença bem
marcante, que o Santo (bendito seja Ele) não
concede a grandeza ao homem senão depois
de o ter experimentado nas coisas pequenas.

A historia não e' falta de exemplos para
ilustrar esta bela lição que os melhores che-
fes de povos ou de Colectividades, os melho-
res pastores de homens são os que não des-
prezaram, nos seus principios, as tarefas sem
brilho, monotonas e muitas vezes penôsas,
mas onde algumas das mais belas virtudes.
que honram o homem, teem ocasião de se
manifestarem, paciencia e abnegação, tenaci-
dade e desprezo do perigo, solicitude genero-
sa para com os fracos, alta consciencia da
responsabilidade que assume o guarda do
rebanho.

O apólogo do bom pastor, preludiando por


 
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