HA-LAPID 7 ===================================== Pela nossa Causa Com grande entusiasmo daqueles que tem trabalhado e posto o melhor dos seus esforços no ressurgimento da Fé Israelita, acaba de ser fundada na laboriosa cidade da Covilhã uma Comu- nidade onde os cripto judeus daquela terra poderão entregar-se a prática da sua verdadeira religião. Registamos a noticia com grande satisfação não só porque vemos bem encaminhada a notável obra a realisar, mas também porque é uma prova mais que evidente de que os tempos são ou- tros e que o nosso povo, pelo menos aquele que sente as veias dilatadas por um sangue duma nobreza indiscutível, deixa de estar aferrado a certas ideias que não são próprias do século em que vivemos. A maior das dificuldades a ven- cer no inicio tem sido o medo, que ainda está arreigado no espirito de muita gente, de se declarar publicamen- te descendente de judeus e de, aberta- mente, se entregar á prática da religião israelita. A maior parte dessa gente, contudo, não deixou ainda de seguir os rituais judaicos, de sustentar as suas tradições, depreendendo-se de tudo isto que não foi acorrentada pela onda da mentira espalhada por falsos messioná- rios; porém, é feito com um recato tal e fugindo tanto á publicidade, que não pode de maneira nenhuma justificar-se e que, analisando bem as coisas. pode, até certo ponto, ofender a nossa Divin- dade. Pergunto eu portanto: Se conservais ainda avossa Fe bastante fortalecida; se ainda não abandonastes nem esque- cestes os ensinamentos religiosos que os nossos avós nos ministraram; se reconheceis que o judaismo encerra tudo quanto há de mais puro em reli- gião, porque tanto receio em vos de- clarardes seus fieis adeptos? E' por acaso a triste recordação das fogueiras do Santo Oficio e os flagelos que so- freram há tanto tempo os nossos ir- mãos que vos amedrontam? Mas vós não vêdes que a civilisação progride dando a todos os mesmos direitos, com a liberdade ampla de pensamen- to? Que hoje, felizmente, deixou de estender as suas garras peçonhentas, não espalhando os ódiose as más von- tades entre os homens, esse bando de- nominado da «Ordem dos Dominica- nos»? Analisa¡ então o momento com cui- dado e lembrai-vos que soou a hora de todos contribuirmos com o nosso es- forço e com a nossa boa vontade para O ressurgimento da nossa raça que, apesar de todas as perseguições e das guerras que os adoradores de falsos deuses tam impiedosamente lhe teem preparado, tem sabido sempre impôr- -se pela sua tenacidade, pelo seu saber e pela sua inteligencia. Leo d'Almeida.
N.º 019, Nissan 5689 (Abr-Mai 1929)
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