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Ha-Lapid הלפיד


N.º 019, Nissan 5689 (Abr-Mai 1929)







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             HA-LAPID              7
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Pela nossa Causa

Com grande entusiasmo daqueles
que tem trabalhado e posto o melhor
dos seus esforços no ressurgimento da
Fé Israelita, acaba de ser fundada na
laboriosa cidade da Covilhã uma Comu-
nidade onde os cripto judeus daquela
terra poderão entregar-se a prática da
sua verdadeira religião.

Registamos a noticia com grande
satisfação não só porque vemos bem
encaminhada a notável obra a realisar,
mas também porque é uma prova mais
que evidente de que os tempos são ou-
tros e que o nosso povo, pelo menos
aquele que sente as veias dilatadas por
um sangue duma nobreza indiscutível,
deixa de estar aferrado a certas ideias
que não são próprias do século em que
vivemos.

A maior das dificuldades a ven-
cer no inicio tem sido o medo, que
ainda está arreigado no espirito de
muita gente, de se declarar publicamen-
te descendente de judeus e de, aberta-
mente, se entregar á prática da religião
israelita. A maior parte dessa gente,
contudo, não deixou ainda de seguir os
rituais judaicos, de sustentar as suas
tradições, depreendendo-se de tudo isto
que não foi acorrentada pela onda da
mentira espalhada por falsos messioná-
rios; porém, é feito com um recato tal
e fugindo tanto á publicidade, que não
pode de maneira nenhuma justificar-se
e que, analisando bem as coisas. pode,
até certo ponto, ofender a nossa Divin-
dade.

Pergunto eu portanto: Se conservais
ainda avossa Fe bastante fortalecida;
se ainda não abandonastes nem esque-
cestes os ensinamentos religiosos que
os nossos avós nos ministraram; se
reconheceis que o judaismo encerra
tudo quanto há de mais puro em reli-
gião, porque tanto receio em vos de-
clarardes seus fieis adeptos? E' por
acaso a triste recordação das fogueiras
do Santo Oficio e os flagelos que so-
freram há tanto tempo os nossos ir-
mãos que vos amedrontam? Mas vós
não vêdes que a civilisação progride
dando a todos os mesmos direitos,
com a liberdade ampla de pensamen-
to? Que hoje, felizmente, deixou de
estender as suas garras peçonhentas,
não espalhando os ódiose as más von-
tades entre os homens, esse bando de-
nominado da «Ordem dos Dominica-
nos»?

Analisa¡ então o momento com cui-
dado e lembrai-vos que soou a hora de
todos contribuirmos com o nosso es-
forço e com a nossa boa vontade para
O ressurgimento da nossa raça que,
apesar de todas as perseguições e das
guerras que os adoradores de falsos
deuses tam impiedosamente lhe teem
preparado, tem sabido sempre impôr-
-se pela sua tenacidade, pelo seu saber
e pela sua inteligencia.

                   Leo d'Almeida.


 
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