2 HA-LAPÍD ============================================ fieis discípulos do capitão frequentam e fre- quentarão cada vez mais este embrião de escola. Na sala visinha, é a biblioteca: algumas vitrines, uma mêsa, cadeiras. O capitão mos- tra-nos livros. Abre para nós a obra do es- critor judeu, Samuel Usque: Consolação ás fribulações de Israel (1552) e traduz-nos do português arcaico um horrivel quadro do martírio dos sephardim Destas páginas veementes exala-se um protesto cheio de aspereza, que lembra os «Tragiques» d'Agri- pa d'Ambigné exprimindo a dôr dos hugue- notes. Artur de Barros Basto folheia em se- guida algumas revistas. Filho e neto de marano, tornado judeu ortodoxo, ele nos faz a leitura de alguns extratos dos seus proprios artigos, cujo caloroso lirismo encontra éco em nós: Entre os judeus de Stambul, de Moscou, de Londres ou de Pa- ris, a mesma saudade une as almas, nostal- gia da Patria perdida, a esperança da Patria restaurada... Ele põe deante de nós bro- churas, manuais de oraçõe que redigiu para os espalhar entre os maranos. A noite de Kípur, Saida de Shabbath, Nehilah e ainda outras. Apresentou-nos no fim um jornalsi- nho "Ha Lapid" (O Facho), cujo ultimo nu- mero publica um celebre soneto de Camões sobre o amor de Jacob por Raquel. Ele insiste sobre a harmoniosa beleza do ultimo verso: Para tão longo amor, tão curta a vida que podia em algumas palavras mais ainda o amor divino que o amor profano. A este proposito o capitão vem-nos confiar a sua missão e a sua esperança: certamente, havia poucos fieis, nesta noite, no Porto, que se lembrassem de Rosh Hashaná, mas alem dos maranos que ignoram esta festa e não conhecem mais que Kipur e Pascoa, muitos dos nossos correligionarios estão dispersos e alguns foram festejar o ano novo em Lisboa. Mas esta minoria é sim- bólica é um bom grão que germinará. Bar- ros Basto crê no seu desabrochar; crê nisso e o quer, com toda a sua actividade, com toda a sua força de persuação. Ele julga-o viavel tambem, porque numerosas cartas, numerosos testemunhos afluem para ele. "Chegou a hora de construir uma Sinagoga, num bairro mais moderno, diz ele, já foram postas as primeiras pedras. Quando se elevar a casa da rua Guerra Junqueiro, os fieis ali acudirão." Captivada, escutamos estas palavras di- tas com a eloquencia daqueles que amam a sua obra e que lhe consagram a sua vida. Mas evocando a imagem do templo futuro, necessário à multidão, e desejando-lhe a sua prosperidade, nós conservamos uma recorda- ção enternecida do pequeno oratorio "onde susssuravam as oracões", desta sala que se eleva na sombra e no silencio. Sim, estas pa- redes nuas, mas todas ungidas de espirituali- dade, formam um notavel contraste com as igrejas de ouro e de prata macissa das quais hoje mesmo havíamos contemplado o dema- siado material explendor. Trail. de "Univers lsraelite". Lily jean-Jarval. o o o Ainda, os acontecimentos da Palestina Se nestes tristes acontecimentos houve muitos mortos israelitas tambem houve muitos arabes mortos, nunca tendo calcu- lado os assaltantes que os israelitas podes- sem oferecer uma tão vigorosa resistencia. Os judeus batiam-se com um adversario dez vezes superior em numero. Os colonos judeus batiam-se assim por- que defendiam a sua vida e a sua terra. O que lhes pertencia pelo direito imprescriti- vel da historia reconquistaram-no pelo seu heroísmo. -- De um artigo de P. Maziere, no jornal "Progrés" de Lyon (França) entitulado: O magnifico esforço judeu sobre a terra dos antepassados": -"Milhares e milhares de judeus, vindos de todos os pontos da velha Europa onde Israel sofre, geme, s'estiola, ou é despre- zado, molestado, massacrado ás vezes, de- sembarcaram em Haifah. Eles pisam final- mente a Terra prometida, a terra onde um dia se manifestará o Messias! A esta terra trazem eles a sua juventude, a sua força, a sua coragem, o seu ardôr pelo trabalho e a sua fé... E começaram a trabalhar estes pioneiros-
N.º 023, Tishri 5690 (Set 1929)
> P02