N.° 23 PORTO - Tishri de 5690 (1929 e.v.) ANO IV ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos e para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | aponta-vos o ca- busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | minho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) Órgão da Comunidade Israelita do Porto ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARIO DO PORTO, Lda Avenida da Boavista, 854-PORTO || Rua.de S. Bento da Victoria, 10 (Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) || ---------------- P O R T O ---------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Roch-Hachaná no Porto 4 de outubro-Porto sobre o Douro, o rio côr d'ouro. A cidade parece surgir da rocha, toda errissada de torres, de campa- nários de aspecto belico. Mostra se ainda ali o local do auto de fé de 1543 e das pri- sões da Inquisição, na rua Escura. E alem os velhos bairros judaicos de miseria, onde se vê a antiga sinagoga «Séde das Trevas» tornada hoje a igreja de San Bento da Vi- toria. 9 horas da noite. Na calma provincial da rua do Poço das Patas, no interior duma humilde casa, ha uma sala de paredes nuas onde sussurram orações. Apenas vinte e cinco ou trinta fieis, homens e mulheres, separados, e seguindo todos o oficio em he- braico. Sobre um estrado, o hazan balan- ça-se com fervor, vibrando da cabeça aos pés, ao ritmo da sua psalmodia. Deante dele ha apenas uma tribuna coberta de da- masco azul, enquadrado por 4 castiçaís. A fundo do local, o heh'al, que a custo de di- ferencia dum simples armario Dois conde- labros de 5 ramos de cada lado do san- luario. As orações de Rosh-Hashaná, o Ka- dish, Alenu, Igdal sucedem-se num fervôr comovente. Varias comunidades da Europa estão representadas aqui, esta noite: Polo- nia, Galicia, Russia, França e outras ainda; ha mesmo quatro ou cinco maranos de tez particularmente morêna. Cada qual queria ímpôr o seu rito. Mas o animador desta mi- noria, aquele que ressuscita a alma de Israel em Portugal, que favorece o desen- volvimento do seu renascimento, o capitão Artur de Barros Basto, mandou vir livros de Livorno e todos se conformaram com isso. 0 oficio é curto, mas dele emana uma atmosfera de recolhimento intenso. E' um louvor à gloria do Eterno, que não tem ne- cessidade de scenario, nem de redondancias. E' um momento soléne, que exprime na sua brevidade um acto de fé. Através seculos de luta e de sofrimento. sob o sopro des- truidor das guerras de religião, a lei de Moisés sobreviveu. israel reconstruiu o seu templo, no intimo do seu coração. Porque Israel, batisado á força neste país, salva- guardou a sua fé pela reserva mental e nunca deixou de dizer, mesmo entrando numa igreja: "Não adoro nem o pau, nem a pedra, mas só a Deus Uno, na sua omnipo- tencía." E quando simulava o sinal da cruz, só tocava na fronte, nos labios e no cora- ção para proclamar ainda a soberania de Adonai. Fechados os livros, as mãos esten- dem-se umas para as outras, para mu- tuamente desejarem um bom ano. O capitão, cujo fino rosto é iluminado pela convicção, mostra-nos os Sepharim nas suas capas de veludo e de sêda, vindas de Amsterdam, de Londres, da America, e até um docel de casamento, todo de setim branco, semeado de estrelas d'ouro que bor- dou uma dama marana "que ainda não veio ao templo". Subimos um andar: Eis a aula, com o seu mapa onde a Palestina ocupa um logar de honra, e o seu quadro bíblico, uma aula para iniciar os jovens na historia e moral judaicas. Neste momento, em fim de ferias, estão ainda dispersos, mas jovens
N.º 023, Tishri 5690 (Set 1929)
> P01