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Ha-Lapid הלפיד


N.º 041, Ab 5691 (Jul 1931)







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 6             HA-LAPID
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marana, mas que ainda não frequentou essa
casa de orações, impedida por esse temor
atavico característico entre muitos cripto-
-judeus. Parece ser vista como porte-bo-
nheur a referida hupah por alguns israeli-
tas lisboetas pois é esta a terceira vez que
ela é utilisada na capital a pedido dos in-
teressados.

Desejamos pois que ela dê muitas ven-
turas á nova familia constituída, mantendo
assim dignamente a sua lenda de acção
benefica.

-O novo distinto correligionario, Dr.
Moisés Bensabat Amzalak, Dignissimo pre-
sidente desta Comunidade, foi eleito vice-
-reitor da Universidade Tecnica de Lisboa.

             o o o

Elementos para a Historia dos
Judeus Portugueses de Hamburgo

                          por ALFONSO CASSUTO

            (Continuação)

Outro foragido de distinção foi o Dr. Samuel da
Silva da cidade do Porto, que em 1623 publicou um
"Tratado da imortalidade da alma" em que procura
impugnar as ideias de Uriel da Costa que por esse
tempo vivia igualmente em Hamburgo.

Outra obra relativa a Uriel da Costa surgiu cerca
de 1618, devida á pena de um escritor anonimo, obra
em que se descrevem as ceremonias que se devem
praticar com respeito a excumunhões e que se entitu-
lava "Tratado de Herem".

O genro do Dr. Samuel da Silva foi o celebre
medico e Rabino Dr. Benjamin Dionys Mussaphia,
que viveu até 1640 em Hamburgo, e foi expulso pelo
Senado em virtude de ter publicado um livro contra
a religião christã, transportando-se então para Glu-
ckstadr e cerca de 1650 para Amsterdam onde fale-
ceu. Os seus descendentes tiveram o monopolio da
cunhagem do dinheiro e foram agentes financeiros
dos duques de Gottorp na Schleswig-Holstein e dos
reis da Dinamarca.

João da Rocha Pinto ou Zecharia Coem da cida-
de do Porto, foi cerca de 1640, um dos judeus mais
importantes de Hamburgo, devido á sua enorme for-
tuna: e, faleceu em 1648 nesta cidade.

                      *
                    *   *

O "Livro de notas" da comunidade "Bet Israel"
mais antigo e conservado até hoje na familia do an-
tor desta noticia, começa no primeiro dia de Rosh-
-Ashana de 1652 e dele extrahimos as seguintes linhas
por nos parecerem de algum interesse: "Livro de no-
tas do K. K. (Kahal Kadosh Santa Comunidade) Bet
Ysrael comesado em Hamburgo Anno 5413. Em nome
de el Dio Bendito! Livro da união geral da nação

 

comesado nesta cidade de Hamburgo em primeiro de
Tisry 5413. Fundada neste k. k. de Bet Israel que el
Dio Aumente per a sua Santa Gloria Eseruisso". De
pois o livro dá a noticia da eleição de 7 Senhores Par-
nassim que durante dois anos deviam exercer o seu
cargo podendo ser reeleitos ou substituidos ao cabo
desse prazo.

Os membros da comunidade, diz ainda o referido
livro, deviam absoluta obediencia aos Parnassim que
podiam ordenar um arresto nas suas propriedades
particulares e tambem expulsa-los, como estrangeiros
do territorio Hamburgues. O Mahamad tinha igual-
mente autoridade sobre os judeus de origem polaca e
alemã estabelecidos em Hamburgo, que eram inscri-
tos perante o Senado na categoria de servidores dos
portugueses. Só com este pretexto podiam eles viver
na cidade.

Contudo o Mahamad, a fim de facilitar o traba-
lho proprio, nomeava de entre os judeus polacos, trez
dos mais antigos, como seus Inspectores, cargos que
mais tarde se converteram em Parnassim dos proprios
jddeus polacos.

A comunidade portuguesa, fundada em 1652, to-
mou a seu cargo as instituições então existentes, isto
é: a escola, que se denominava "Talmud Torá" e a
"Hebra Bicur Holim", que se encarregava de tratar
dos doentes e de enterramentos.

Por esse tempo fundaram-se algumas associações
de benificencia, que socorriam os pobres e ministra-
vam instrução aos filhos dos indigentes.

O Rabinato era composto pelos Hahamim: David
Cohen de Lara, Mose Israel Brandão e Jehuda Krrmi.
De entre os trez distinguiu-se David Cohen de Lara
pelos seus numerosos trabalhos filologicos; foi a seu
pedido que o governo de Groningen na Holanda per-
mitiu o estabelecimento dos judeus portugueses nesta
cidade.

A sua alta cultura atraiu um grande numero de
sabios cristãos que com ele correspondiam: um dos
seus correspondentes, Téophil Spizelliuz da Hollanda,
afirma ter ele sido um dos maiores hebraistas do
tempo. Edras Edzardi, celebre pastor de uma igreja
evangelica de Hamburgo, foi seu aluno. Cohen de
Lara faleceu em 1674 em Hamburgo e Joseph Fran-
ces procedente de Ferrara, segundo parece, e grande
poeta entre os judeus de Hamburgo, classificado por
Barrios, que foi então o maior poeta português de
Amsteedam, como o Camões de Hamburgo pronun-
ciou o Elogio Apologico de De Lara por ocasião do
seu falecimento.

O Haham I-hac Jessurun, talvez oriundo de Ve-
neza, foi nomeado em 1656 Haham Geral de Ham-
burgo e por sua morte, em 1663 Mose Israel Brandão
foi nomeado seu sucessor. Como grande Rabino e
sabio viveu nesse tempo o Haham Samuel Abaz ou
Diaz George que em 1670 publicou uma traduçao em
português, em estilo ele ante, do livro de Bahja ibn
Pakuda: Hobot Alebabot (Deveres de coração).

A familia Abaz recebeu em 1614 do imperador
Mathias de Hàbsburgo um titulo de nobreza. Um ou-
tro sabio foi Mosé Gideon Abudiente, nascido pro-
vavelmente em Lisboa cerca de 1602, erudito grama-
tico hebraico e tambem grande poeta, era genro de
Paulo de Pina. Este ultimo nasceu em Lisboa cerca de
1570; em 1604 vivia ele em Amsterdam, onde foi
membro muito proeminente da comunidade portu-
guesa e escreveu uma comedia religiosa entitulada:
"Dialogo de los Montes" (Diologo entre os sete mon-


 
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