2 HA-LAPID ============================================= forças físicas, as perniciosas aberrações do paganismo racista; condenou em termos decisivos o "inadmissível" antí-semitismo, absolutamente incompatível com a fé cristã e gerador dos maiores excessos e das mais deshumanas violências. Não conseguiu o venerável Pontífice evi- tar ou fazer cessar a perseguição que caiu tão cruelmente sôbre o judaísmo de certos países, perseguição que, através o judaísmo, atinge dolorosamente o próprio cristianismo, e, por aí, tôda a civilização espiritual de que a Bíblia hebraica é uma das nascentes essenciais; mas deixou palavras e escritos inolvidáveís e um grande exemplo que não serão perdidos. Atendendo a que trazem todos os seus frutos a reivindicação soberana dos sagrados direitos da consciencia que encontrou em Pio XI o mais eloqüente dos intérpretes, prestamos diante da sua nobre figura a nossa comovida homenagem, e guar- daremos para sempre a lembrança dum homem que, a-pesar-das divergências de dogmas que nos separam das confissões cristãs, podemos chamar um grande servidor de Deus, animado duma caridade que se esten- deu a todos os oprimidos, e um apóstolo intrépido da liberdade, da justiça e da paz." As condolências da Aliança Israelita Eis o texto da mensagem que a Aliança Israelita dirigiu a Mgr. Valério Valeri, núncio apostólica em Paris, por ocasião do faleci- mento do Papa: "A Aliança Israelita, profundamente como- vida com o desaparecimento do grande Papa que acaba de se extinguir, associa-se ao luto que feriu tôda a cristandade e todos os que professam o amor da humanidade, da paz, da justiça e a dedicação aos direitos da consciencia. Jamais ela esquecerá a caridade e a cora- gem com que Pio XI defendeu todos os per- seguidos, qualquer que fosse a sua raça, ou a sua confissão, em nome dos princípios eternos dos quais foi o mais nobre represen- tante sóbre a terra. Criada para a protecção e o levantamento do judaísmo oprimido, a Aliança faltaria ao seu dever se não se dedicasse a perpetuar no coração dos seus correligionários a memó- ria desta admirável figura que será acompa- nhada para além-túmulo pela sua gratidão inalterável e a sua infinita veneração." UM APÊLO DE LORD BALDWlN EM FAVOR DOS REFUGIADOS Em 8 de Dezembro, Lord Baldwin, emi- nente homem de estado ingles, no decorrer duma reünião a que assistiam as mais altas autoridades morais e religiosas de Inglaterra, lançou em favor das vítimas das persegui- ções anti-semitas um apelo radiodifundido, transmitido por todos os postos de Inglaterra e dos Estados-Unidos. A emoção levantada nestes países foi considerável, porque Lord Baldwin, compreendendo a miséria de tanto desgraçado, soltou o vibrante grito de apelo que esperavam todos os homens de corações revoltados pela renovação das bárbaras per- seguições na Alemanha. "Milhares de homens, de mulheres e de crianças, despojados dos seus bens, arran- cados do seu lar, procuram entre nós um asilo, um refúgio do vento e um abrigo da tempestade, disse ele no seu discurso. Já não sou um Ministro da Coroa. Não vos falo hoje como um politico ou como um membro de partido. Sou um inglés mediano que está revoltado e desolado pela situação destes homens desprezados e perseguidos e dos seus filhos inocentes. Podem não ser nossos compatriotas mas são homens como nos. "Milhares de sêres de todos os graus da riqueza, da posição social, da cultura e da educação foram igualados na miséria. Não tentarei descrever-vos o que pode significar o ser desprezado, infamado e isolado como um leproso. A honra da nossa pátria é desafiada e cabe-nos a nós responder a esta provo- cação. "Quem poderá hoje, neste fim de ano, reünir os seus sem pensar nos que, perdido o seu país, perdida a sua família, perdida a sua casa, arrancados ao que os homens e as mulheres amam acima de tudo? Quem poderá hoje separar da sua vida estas famílias dispersas, despedaçadas? Como poderiamos nós próprios desejar ser felizes com este fardo no fundo dos nossos corações? Como poderíamos nós próprios pretender ter descarregada a consciencia se não fizer- mos tudo que nos fôr possível para aliviar um tal sofrimento que o destino nos pou- pou?"
N.º 091, Adar 5699 (Fev 1939)
> P02