N.º 140, Tevet-Adar 5708 (Dez-Fev 1947) > P02
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página

Ha-Lapid הלפיד


N.º 140, Tevet-Adar 5708 (Dez-Fev 1947)







fechar




 2            HA-LAPID
=========================================

"... quando esta terra, onde me ela 
aconteceu, me aprouve mais que outra ne-
nhuma,..."

fala com saudade de Portugal, terra que
lhe aprouve mais que outra nenhuma.

"Agora há lá dois anos que estou aqui."

Tendo saido de Portugal em 1521 é em
1523 que começa a escrever a novela.

"pois não havia de escrever para nin-
guém, senão para mim só.

Para uma só pessoa podia ele ser; mas
desta não soube eu mais parte, depois que
as suas desditas e as minhas, o levaram
para longes terras estranhas;..."

Meu amigo verdadeiro, quem me vos
levou tão longe? Vós comigo, e eu con-
vosco, sós, sabíamos suportar nossos gran-
des desgostos, e tão pequenos para os de
depois. A vós, contava eu tudo. Como
vós vos fostes, tudo se tornou tristeza; ..."

É com saudade que Bernardim se refere
ao seu grande amigo e confidente Sá de 
Miranda, o qual não tem probabilidades lá
de tornar a ver.

"O livro há-de ser do que vai escrito
nele...

Também, por outra parte, não se me dá
nada que o não leia ninguém; que eu não
no faço senão para um só, ou para ne-
nhum; pois dele, como disse, não sei novas,
tanto há."

Continua referindo-se a Sá de Miranda
do qual não tem noticias.
Diz no capítulo 2.°:

"Neste monte, mais alto de todos (que
eu vim buscar pela soledade, diferente dos
outros, que nele achei)...

Julgo que Bernardim se refere ao monte
Capodimonte, em Nápoles, donde se dis-
fruta um magnifico panorama.

"E como os meus cuidados... me co-
meçassem de entrar pela lembrança de
algum tempo, que foi, e que nunca fora,



assenhorearam-se assim de mim que não
me podia já sofrer a par de minha casa e
desejava ir-me para lugares sós, onde desa-
bafasse em suspirar."

Bernardim encontra-se ali em Compa-
nhia da sua verdadeira familia, mas a qual
só conhece aos 30 anos de idade, embora
bem acolhido ele recorda-se de Portugal
onde passou a sua meninice, a sua adoles-
cência e parte da sua juventude. Épocas
da nossa vida que nos deixam indeléveis
recordações quer dos momentos alegres
como dos que a tristeza por vezes nos
invade. Ali a vida é inteiramente diferente
da que tivera em Portugal, nem sequer um
único amigo da sua mocidade para com
ele recordar tempos idos, tudo ali é dife-
rente, nada lhe recorda o seu passado.
Dado o seu temperamento sentimental é
na soledade do campo que ele encontra
conforto falando espiritualmente consigo
mesmo.

"... determinei ir-me para o pé deste
monte, que de arvoredos grandes, e verdes
ervas, e deleitosas sombras, é cheio; por
onde corre um pequeno ribeiro de água de
todo o ano, que, nas noites caladas, o
rugido dele faz no mais alto deste monte
um saudoso tom, que muitas vezes me
tolhe o sono."

Refere-se Bernardim ao ribeiro Chiaia
(hoje em parte canalisado) que passava
junto à cidade, é natural que de sua casa
ouvisse o ruído das suas águas.

Bernardim descreve duma maneira co-
movente a morte, ali, dum rouxinol, que
lhe havia cantado docemente. É uma ale-
goria em que o nosso poeta se quer referir
a outro poeta, que ali viveu e ali existe o
seu túmulo. É Virgilio, autor de eglogas
na sua obra Bucólicas. Virgílio nasceu
perto de Mantua, na aldeia dos Andes, no
dia 15 de Outubro do ano 70 antes da era
actual. Passou primitivamente alguns anos
nas escolas de Cremona. Aos 17 anos di-
rigiu-se a Milão, onde tomou a toga viril
Foi em Nápoles onde se aperfeiçoou nas
letras gregas e na filosofia. Passou a sua
vida umas vezes nos Andes, outras em
Roma e outras em Nápoles, quase única-
mente aplicado às coisas do espírito, não


 
Ha-Lapid_ano22-n140_02-Tevet-Adar_5708_Dez-Fev_1947.png [130 KB]
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página