N.° 140 PORTO - Luas de Dezembro, Janeiro e Fevereiro - 5708 (1947-48 e. v.) ANO XXII ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | e aponta-vos o busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | caminho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) O FACHO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECT. E EDITOR: -A. C. DE BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim || Rua da Fábrica, 80 Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto || ------------------- P O R T O ------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A MISTERIOSA PERSONALIDADE DE BERNARDIM RIBEIRO (O Trovador do Amor e da Saudade) CAPÍTULO II Exegese da Menina e Moça POR A. C. DE BARROS BASTO Isaac Ben-Judah Abrabanel, o cristão- -novo Bernardim Ribeiro, saíu de Portugal em 1521, foi para a Itália, percorreu várias terras e foi encontrar-se com seu pai o médico e filósofo Judah Abrabanel, conhe- cido literàriamente pelo nome de Leon Hebreu, que era o fisico-mor da corte de Nápoles. Ali regressa à fé de seus pais e retoma publicamente o nome de Isaac Ben- -Judah Abrabanel. É em Nápoles que Bernardim cheio de nostalgia escreve o seu livro Saudades, vul- garmente conhecido por Menina e Moça. Vamos agora estuda-lo procurando de- cifrar os casos nele contidos, que nos são apresentados sob vários disfarces. No seu capítulo 1.°, ele nos diz: "Menina e moça, me levaram de casa de meu pai para longes terras. Qual fosse então a causa daquela minha levada,-era eu pequena, -nada soube." Refere-se Bernardim ao facto de ter sido enviado com um ano de idade de casa de seu pai, em Castela, para Portugal. "Vivi ali tanto tempo, quanto foi ne- cessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui eu naquela terra." Viveu tanto tempo em Portugal e muito contente. "Escolhi para meu contentamento (se em tristezas e saudades há algum) vir viver para este monte... Estando eu aqui só, tão longe de toda a outra gente, e de mim ainda mais longe; donde não veio senão serras dum lado, que se não mudam nunca, e do outro águas do mar, que nunca estão quedas... E foi assim que, por caso estranho, fui levada a um lugar onde me foram ante os meus olhos apresentadas, em coisas alheias, todas as minhas angústias; e o meu sen- tido de ouvir não ficou sem sua parte da dor." O lugar onde se encontra é em Nápoles, onde vive seu pai, e ali ouve os judeus vindos da península ibérica contarem as suas desditas e saudades das terras onde nasceram e onde foram felizes. Também as narrativas das atribulações porque ha- viam passado os seus parentes não eram menos dignos de tristeza e de dor.
N.º 140, Tevet-Adar 5708 (Dez-Fev 1947)
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