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N.º 141, Nissan-Sivan 5708 (Mar-Mai 1948)







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 6            HA-LAPID
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nesta terra há muito) e o muito que tam-
bém há que eu não via nela coisa com que
falasse, e me moveu à alteração, e não pus
em vós os olhos, tanto, como depois que
vos falei; e, quanto mais vos olho, mais
acho que vos olhar. As passadas palavras
vossas me dizem que deveís ter o coração
altamente agravado.

"Vejo-vos moça: ainda ireis para viver
no mundo. Mal haja a desventura que tão
cedo começou em vós, e tão tarde acaba
em mim.

"Muito folgaria de me contardes vossas
tristezas, uma a uma...

"... Tenho aprendido que não há tris-
teza nos homens. Só as mulheres são
tristes; ...

"Mas se elas, por isso. têm razão de
serem mais tristes, sabê-lo-á quem souber
que mágoa é manter verdade desconhe-
cida!"

Pelo motivo apresentado neste livro de
Saudades Bernardim se apresenta como
uma jovem e Leon Hebreu como uma
dona de tempos idos ao trocarem palavras
de tristeza.

Continua Leon Hebreu:

-"Quando eu era da vossa idade e
estava em casa de meu pai, nos longos se-
rões das espaçosas noites do inverno, entre
as outras mulheres de casa, umas fiando, e
outras dobando, muitas vezes, para enga-
narmos o trabalho, ordenávamos que al-
guma de nós contasse histórias, que não
deixassem parecer o serão longo; e uma
mulher de casa, já velha, que vira muito e
ouvira muitas coisas, por mais anciã, dizia
sempre que a ela pertencia aquele oficio, e,
então, contava histórias de cavaleiros an-
dantes."

Refere-se a seu pai Don Isac Abrabanel,
Rabbi, Economista e Comentador blblico, 
que muito privou com a melhor nobreza de
Portugal.

Continua Leon Hebreu:

"Neste conto não entram só os dois
amigos de que é a história que há pouco
vos prometi. Neles, sós, cuido se encerrou
a fé que em todos os outros se perdeu;
e creio que por isso ordenaram outros
homens de os matarem à traição, maldosa-
mente, porque se não pareciam com eles.

"Lembra-me que, quando meu pai con-
tava a vileza da maneira que tiveram os
falsos cavaleiros, para matarem os dois



amigos, dizia que muito folgara de a não
ouvir para a não saber, pois não viera em
tempo para deixar de ir à terra magoado
porque já a geração deles não trazia ai.

"Os dois amigos, no que fizeram, cum-
priram para com elas, e para consigo mes-
mos, aquilo a que eram obrigados pelas
leis da cavalaria que mantinham; ...

"Isto digo eu, para vós, e para mim,
porque meu filho também era homem como
eles."

Refere-se à morte dos duques de Bra-
gança e de Viseu.

Diz ainda Leon Hebreu, transportan-
do-se em pensamento à Peninsula Ibérica:
-"Em tempo, foram estes vales muito
povoados, e agora muito desertos, costu-
mavam gentes andar neles, agora andam
animais ferozes. Uns deixam o que outros
tomam! Para que eram tantas mudanças
em uma só terra?

"Ainda em alguns sitios deste vale
estão algumas antigas árvores, que, pelo
muito decurso de tempo, e descostume de
como foram criadas, parecem já doutra
plumagem diferente daquela de que de-
viam ser quando, ajudádas de pomareiras
mãos, elas produziam seu perfeito fruto."

Referência ao periodo brilhante do ju-
daismo hispânico, às perseguições da época,
e à existência de cristãos-novos, mas na
verdade cripto-judeus.

Comovedor devia ter sido este encontro
em que pela primeira vez falava Bernardim
com seu pai, tendo um 31 anos de idadee
outro 57: pois Bernardim nasceu em To-
ledo em 1491 e seu pai em Lisboa em 1465.

     Lamentor e o cavaleiro da ponte

Garcia de Rezende, na sua Crónica
d'El-Rei D. João II, informa-nos que o
príncipe D. Afonso filho deste rei casou
com a princesa Isabel, filha dos reis cató-
licos Fernando e Isabel, em Sevilha:

"...e logo o dito Fernão da Silveira
que para isso levava suficiente e bastante
procuração, em nome do principe por pala-
vras de presente como manda a Santa Ma-
dre Igreia de Roma; recebeu a dita prin-
cesa D. Isabel por sua mulher, por mão do
Cardial D. Pero Gonçalves de Mendonça.
perante El-Rei e a Rainha e Infantas e suas
irmãs; e muitos grandes senhores com
muito grande solenidade..."


 
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