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N.º 143, Tevet-Adar 5709 (Dez-Fev 1948)







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A MISTERIOSA PERSONALIDADE DE BERNARDIM RIBEIRO

   (O Trovador do Amor e da Saudade)

                POR A. C. DE BARROS BASTO

    (CONTINUAÇÃO DO N.° 141 - cap. II)

    Aquelísia, a namorada alentejana

Na 1.a edição da Menina e Moça, im-
pressa em casa dos judeus Usques de Fer-
rara a namorada alentejana de Bernardim é
designada pelo nome Aquelísia. Na edição
de Colónia e nas seguintes foi substituido
este nome pelo de Cruélcia (anagrama de
Lucrécia) porque julgavam que Aquelisia
seria um erro tipográfico pois tal nome
nada lhes dizia; a própria D. Carolina de
Michaelis também não compreende a razão
de tal nome. Para mim o nome Lucrécia
é que nada me diz e o de Aquelísia me diz
tudo. Bernardim designa a sua namorada
alentejana pelo nome de Aquelisía, que é o
anagrama de Selúquia, a gentil mourinha
bem conhecida na tradição alentejana. Nós
hoje pronunciamos Salúquia, dando-se o
mesmo caso com Catarina que no tempo
de Bernardim se lia Caterina e cujo ana-
grama era Natércia.

Dado o caso de algum dos meus leito-
res não conhecer a tragédia amorosa da
bela Selúquia ou Salúquia, que ainda vive
hoje na tradição folclórica do Alentejo,
transcrevo de pessoa competente o neces-
sário para o elucidar.

Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e
Moderno falando na vila de Moura (Alen-
tejo), diz:-Em 1166 era esta vila uma
forte praça de guerra, com um robusto cas-
telo, bem guarnecido de tropas, e senhor
dele, um mouro nobre e riquíssimo, senhor
de muitas terras do Alentejo, chamado
Abu-Assan, pai da formosa Salúquia, a
quem ternamente amava, e lhe deu em
dote o castelo de Aruci, que ele havia ree-
dificado, guarnecendo-o de tropas e muni-
ções de guerra, e de todas as mais vitualhas,
e em condições de resistir a um longo assé-
dio; nomeando-lhe para alcaide um jovem
mouro, chamado Brafma (segundo a Évora
Gloriosa, Frabone) futuro noivo de Salú-
quia, e senhor do castelo de Arronches.



Quando Brafma vinha em marcha para
a povoação, seguido duma numerosa e bri-
lhante cavalgada, para tomar posse do cas-
telo e da noiva, chegando a um profundo
e sombrio vale a 5 quilómetros da vila, foi
inopinadamente acometido por um troço
de cavaleiros cristãos, não escapando um
só dos mouros.

Os chefes e planeadores desta surpresa
foram dois cavaleiros portugueses, irmãos,
chamados Pedro Rodrigues e Álvaro Ro-
drigues. Mortos todos os mouros, trataram
os portugueses de os despir, vestindo-se
com os seus vestidos e armando-se com as
suas armas; e assim disfarçados, se dirigi-
ram ao castelo de Moura, entoando cânti-
cos e dando gritos, ao uso mourisco.

Vendo Salúquia aproximar-se a caval-
gata, que entendeu ser a tão ardentemente
desejada, com o riso nos lábios e a alegria
no coração, mandou levantar a ponte leva-
diça, e abrir de par em par as portas do
castelo, para receber o jovem alcaide.

Poucos momentos lhe durou a ilusão e
o prazer, pois em breve os brados de ale-
gria se converteram em gritos de carnagem,
e logo em aclamações de vitória, obtida
pelos portugueses, ao arriarem da cidadela
o pavilhão do crescente, e içarem o das
quinas. Salúquia, preferindo a morte a ser
escrava de cristãos se precipitou do alto
da torre, morrendo despedaçada.

Em memória deste sucesso se deu à
povoação o nome de Vila da Moura, e por
armas uma torre, e à entrada dela uma
mulher morta."

No capitulo XII Bernardim diz que
depois de ter saído do Paço da Ribeira,
impressionado pela figura de Aonia... "Para
pensar mais à vontade, mandou o seu es-
cudeiro, arredado dali, que desse de comer
ao seu cavalo na ribeira daquele rio, por-
que logo se temeu de ele o ver assim, e
cair em alguma suspeita que fosse contar a
Aquelísia, porque todos os seus lhe eram


 
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