6 HA-LAPID ======================================= UM PORTUGUÊS QUE TENTOU A COLONIZAÇÃO JUDAICA DA PALESTINA E A CRIAÇÃO DE UM ESTADO JUDAICO José Nassi-príncipe e grande em Israel, o Duque e Senhor D. José Nassi - conhecido originariamente como Joao Miguez, ocupa na pré-história do sionismo uma posiçao única. Foi ele, talvez o primeiro homem, daqueles tempos, que tentou a restauração duma Palestina judaica, debaixo do ponto de vista prático e nao utópico. José Nassi, nasceu em Lisboa e era sobrinho de Francisco Mendes Nassi- "membro duma das mais ricas e importan- tes familias de maranos portugueses". Após a morte de Francisco Mendes Nassi, sua mulher D. Gracia, também conhecida por Beatriz de Luna, não se sentindo se- gura em Portugal, onde a introdução da inquisição punha em perigo a sua vida e propriedades, transferiu sua residência para Antuérpia, onde vivia seu cunhado Diogo Mendes, opulentíssimo director da Casa Bancária, sucursal da de Lisboa, que tinha sido de Francisco Mendes, agora transfe- rida totalmente para Antuérpia: de An- tuérpia mudou para Veneza, por volta de 1549. Aí sofreu perseguições por mo- tivos religiosos, das quais se viu livre em 1550, indo viver para a Turquia onde faleceu. José Nassi, que por motivos idênticos aos de sua tia, abandonara também o solo pátrio, depois de diversas peregrinações aventurosas, estabelece-se em Constantino- pla. Uma vez ali, desfez-se do seu apa- rente catolicismo e desposou sua prima Reina, a única filha do opulento banqueiro Francisco Mendes e de sua mulher Gracia Nassi. Pela sua riqueza e habilidades, José Nassi, conseguiu as boas graças da corte do sultão Solimão, de modo que por muito tempo foi o chefe virtual do Império Oto- mano. Esta Influência cresceu mesmo no reinado do seu sucessor Salim II, que o investiu na dignidade de Duque de Naxos e na posse daquela ilha bem como das de Adros, Milo, Paros, Santorínas e as outras Ciclades que tinham até então pertencido ao regente de Naxos. José Nassi governou estas ilhas por intermédio dum cristão espanhol, provavelmente para evitar, a1- guma antipatia dos habitantes gregos. Agia, também, como conselheiro estran- geiro reconhecido pelo poderoso sultão e, tratava com os embaixadores das potências representadas em Constantinopla. Daí os paises europeus acharem, frequentemente, necessário interessar José Nassi nas suas pretensões. Quando Maximiliano II, impe- rador da Alemanha, desejou concluir a paz com a Turquia em 1567, recomendou ao seu embaixador, Varantius, que oferecesse presentes a José Nassi, assim como aos outros altos dignatários da corte. Em Setembro de 1596, um grande in- cêndio irrompeu no arsenal de Veneza. Nassi sabedor do facto, logo instou com o Sultão a empreender uma guerra com Ve- neza, para assim levar por diante o seu plano, por muito tempo acariciado, da con- quista de Chipre, e foi somente a oposição dos seus rivais na corte turca que impediu fosse ele elevado à dignidade de rei daquela ilha. Talvez não houvesse entre os séculos XI e XIX, judeu algum que alcançasse o pode- rio do Duque de Naxos, mas contudo, no meio dessa prosperidade não abandonou nunca o seu povo. Três séculos antes do nascimento do sionismo, além da preocupa- ção politica, o Duque de Naxos teve a ideia de melhorar a vida dos judeus perseguidos permitindo-lhe retomar contacto com o solo de Eretz israel (Terra de israel). Ali se propunha estabelecer as bases dum Estado Judaico semi-autónomo, debaixo da sua própria direcção. Joseph Ben Adreth, um dos seus confidentes, foi enviado a Tibe- ríades, para proceder à restauração das muralhas. Apesar da oposição dos árabes da vizinhança, as muralhas estavam termi- nadas em 1565. Pelo mesmo tempo publicou uma pro-
N.º 143, Tevet-Adar 5709 (Dez-Fev 1948)
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