2 HA-LAPÍD ======================================== Não imiteis os murcêgos Num jornal israelita francês encontrei as seguintes palavras, que gostosamente traduzo: «Não sejamos destes israelitas vergo- nhosos que, em certos meios e em certas circunstancias, querem dissimular a sua origem, abolir a sua fé, para suscitar a neu- tralidade ou a simpatia, muitas vezes des- prezante, dos nossos detractores. Nós te- mos o direito de levantar a cabeça. de re- vindicar como um titulo honorifico o nome de Judeu que encarna seculos de sofrimen- tos e de lutas gloriosas. A obrigação consiste em amar e em de- fender o judaismo, pela pena, pela palavra e sobretudo pela autoridade do exemplo. A obrigação, que temos, e é a mais im- periosa de todas é: instruir os nossos filhos, inicia-los nas nossas leis religiosas e mo- rais, esclarece-los sobre o alto valor das nossas doutrinas, e de lhes lembrar sem cessar que a doutrina da «humilde pedra desdenhada pelo arquitecto, desdenhada pelos ignorantes ou pelos malevolos, arras- taria a queda do seu proprio edificio, do hosso culto e a impossibilidade de manter a pedra d'angulo na base do edificio hu- mano." São oportunas estas palavras especial- mente para certos cripto-judeus, que nos segredam serem da grande e nobre nação dos filhos de Israel, mas quando se encon- tram na presença de catolicos e de judeus, dizem-se livres pensadores, que todas as religiões valem o mesmo e que por isso nenhuma querem seguir. A quem pretendem iludir com esta sa- lutar hipocrisia, que causa nôjo aos crentes de um e outro campo religioso? Nós que temos opiniões religiosas bem definidas inspiramos simpatia aos nossos adversarios, entre os quais, apesar da (me- rença de credos, temos sinceras amisades, Um adversario nobre e leal tem direito sempre ao respeito do seu antagonista. Todo aquele que, para não perturbado na sua digestão, se entrega a uma doblez de caracter, só merece dos combatentes das varias crenças o desprezo. São descendentes dos judeus portugue- ses mas não querem seguir as nobres e augustas tradições dos seus antepassados, sentindo correr-lhes nas veias um sangue descorado, que fiquem fóra do judaismo, mas duma maneira clara e iniludivel. sejam ateus, protestantes ou catolicos. Mais que nma vez o vento tem arreba- tado ao secular cedro hebraico algumas fo- lhas sêcas, que apodrecendo vão ainda adubar ontras plantas. Só as folhas secas se desprendem, mas as que tem seiva se- guram-se bem aos ramos do tronco ances- tral. Querer ser filha de cêdro e de pinheiro ao mesmo tempo é impossivel, só podem ser absorvidos por uma planta depois de haverem morrido na outra. Ha israelitas em Portugal que ocupam varios cargos em varias camadas sociais e que bem e publicamente manifestam as suas crenças, quer sejam militares ou mari- nheiros, proprietarios ou professores, fun- cionarios civis ou empregados no comercio e industria, burguezes, oficiais, doutores, agricultores, industriais, comerciantes, gran- des e pequenos, de alta ou pequena socie- dade, e todos vivem nas suas comunidades á clara luz do sol de liberdade religiosa desta boa terra portuguesa. E vivem em boa paz e harmonia com os seus lusos compatriotas de qualquer confissão, sem precisarem de se ocultarem ou simularem outras ideias. No heraldico brazão da tribu de judah existe como simbolo o leão, animal altivo, generoso e nobre como deve ser todo o servidor de Adonai, o Deus Altíssimo e Unico. O leão não teme mostrar-se e não dese- ja imitar o procedimento do morcego que só aparece na escuridão. Nunca em Israel o morcêgo foi simbolo heraldico e para que não sejais morcegos no vosso proceder, vou contar-vos porque só vive nas trevas. Houve uma vez uma guerra entre os animais. Dum lado batiam-se os mamíferos, tendo por aliados todas as restantes bestas que, andam, correm e rastejam sobre a terra; do lado oposto defendiam-se as aves aliadas a todos os seres voadores. Os dois exercitos batiam-se corajosa- mente em continuas escaramuças. Havia porem um animal que, amando
N.º 014, Tiskri 5689 (Set 1928)
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