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N.º 036, Shebat 5691 (Jan-Fev 1931)







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 4              HA-LAPID
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meiros instantes, ele foi-se aos instrumentos, de
tortura e despedaçou-os.

No dia 10 de abril, na quinta da Inquisição, o
povo de Coimbra fez auto de fé a todos esses instru-
mentos, queimando-os no meio de imprecauções e de
pragas.

Em presença (festa, houve hesitação em se fazer
o mesmo nas outras inquisições do reino por cujo
motivo o prior da freguezia dos Anjos, José Ferrão
de Mendonça e Souza, apresentou. em 13 de Agosto
de 1821, a seguinte moção que o honra bastante:

"A vista dos horrorosos carceres da Inquisição de
Coimbra atraiu sobre o memoria d'aquele extinto tri-
bunal a execração do imenso numero de pessoas do
todos os estados e idades, que frequentes vezes os vi-
sitaram no tempo em que a sua entrada esteve paten-
te. Outro tanto aconteceu em Evora, onde existe uma
inquisição antiga, e mesmo em Lisboa, (apesar de ser
reedificada depois do terramoto) se em Evora e Lis-
boa estivessem tambem patentes a quem as quizesse
vêr, o que me não consta. Proponho portanto:

"Que se diga ao governo que mande abrir as
portas da entrada doa carceres das inquisições de
Evora e Lisboa pelos respectivos guardas que ainda
percebem o mesmo ordenado, e que estes acompa-
nhem os visitantes e lhes expliquem, como peritos,
os usos que ali se faziam das casas e dos utensilios
que existirem. E', em desagrado da santa religião que
professamos, tantas vezes ai ofendida, da caridade
que ela recomenda tantas vezes ai despresada; em
desagravo, finalmente, a humanidade, que por espa-
ço de duzentos e oitenta e seis anos foi naquelas
medonhas mosmorras oprimida e atormentado, pro-
ponho em segundo lugar:

"Que nas inquisições de Coimbra e Evora se eri-
jam desde já duas casas pias, para serem abrigo da
humanidade desgraçado aplicando-se-lhes os rendi-
mentos que a cada uma são pertencentes, e que sobe-
jam dos ordenados dos antigos empregados, devendo
converter-se todos em seu uso, ao passo, que forem
vagando; e que a casa pia de Lisboa se apliquem pe-
la mesma maneira todos os rendimentos da Inquisi-
ção d'esta cidade.

"Sejam as tres casas pias herdeiras universaes
das tres defunctas casas impias. E espero que o con-
gresso assim o decreta".

Foi aprovado, menos emquanto á segunda parte.
O governo assou logo ordem para que fossem
expostos ao publico os carceres da Inquisição de Lis-
boa e Evora.

No dia designado correu tudo a vér esses antros
medonhos, onde por espaço de séculos, se praticarem
tantos crimes.

O povo de Lisboa invadiu o palácio; e foi tal a
sua indignação, ao vêr, não só os aparelhos das tor-
turas, mas tambem as muitas ossadas das cabeças,
pernas e braços humanos que ahi foram encontrados
e que revelam novos crimes do indigno tribunal, foi
tal, repetimos, a sua indignação, que enfurecido par-
tiu aparelhos, espancou os empregados que ahi en-
controu e arrastou para as ruas a estatua da fé que
se achava no alto do edificio.

Um grupo viu um caixote; arrombou-o e n'ele
encontrou o antigo regimento da Inquisição, foi feito
em pedaços.

Um rapaz mostrava a toda a gente e cheio de in-
dignação o titulo denominado: -Execução dos tor-
mentos.-Suspendendo-o no ar gritava:-Eis o titulo

  

dos tormentos. Todos se enfureciam ao lê-lo, o não
houve injurias e imprecações que não dirigissem a
uma instituição que arruinara inteiramente o pais e
era a causa das desgraças que então se sentiam dolo-
rasamente.

A 10 de outubro as cortes, em vista de uma par-
ticipação do ministro da justiça, dando conhecimento
dos factos sucedidos por ocasião de ser exposto ao pu-
blico o palácio da Inquisição, resolveu que tornassem
todas as providencias para prevenir tumultos e desor-
dens, comtanto que todos os carceres e tudo quanto
lhes é relativo fossem fielmente mostrados a quem
quer que os quizesse vêr.

A 18, Fernandes Thomaz apresentou a seguinte
moção:

"Os carceres da extinta Inquisição d'esta cidade
acham se dentro de um edificio que comunica com o
palacio, mas que é independente d'ele. Proponho se
diga ao governo que mande examinar se pode aque-
le monumento de nossos desvarios e desgraças demo-
lir-se e arasar-se (conservando o palácio), para que
mais não sirva de instrumento á superstição, ao des-
potismo e á ferocidade dos tiranos. Que outro tanto
se pratique pelo modo possivel nas outras inquisições,
levantando se no mesmo sitio uma lapíde, que decla-
re a data do decreto pelo qual foi extinto aquele tri-
bunal de sangue, juntando-se legenda: -Maldição
eterna a todo o portugués que não tiver para sempre
em horror tão infernal invento".

Foi aprovada só emquanto ao exame, ordenado
ás côrtes, n'esse mesmo dia, que se procedesse a ele,
o que se fez por meio de peritos que em breve déram
os seus relatórios que foram apresentados ao congres-
so e remetidos á comissão das artes. Esta deu o seu
parecer em 2 de abril de 1822.

Os peritos foram de opinião que podiam ser de-
molidos os carceres de Lisboa e de Evora mas não os
de Coimbra.

Diz a comissão:

"A comissão das artes examinou os documentos
e desenhos a que se refere; e peneirada de horror e
de justa indignação á vista das descripções daqueles
carceres e segredos, em que tantas vezes sofreu a
inocencia e a humanidade, e convencida além d'isto
de que devem desaparecer o solo de um paiz livre e
ilustrado até os mais pequenos vestígios daqueles
muros, em que outrora resoaram os ais e gemidos
das infelizes vitimas da superstição e do erro, é de
parecer: 1.° que se ordene ao governo faça expedir as
mais positivas ordens para se destruir aquele parte
dos carceres que foram da Inquisição de Evora, cuja
demolição pode efectuar-se sem detrimento dos edifi-
cios a que pertencerem; 2.° que o resto destes carce-
res, assim como os na cidade de Coimbra, visto acha-
rem-se ligados aos edificios, de maneira de que sem
dano d'eles não podem ser demolidos, fiquem a cargo
do governo, afim de os mandar arrasar com a brevi-
dade e economia que é de esperar do seu zelo; 3.°
que logo e sem demora faça demolir os carceres da
extinta Inquisição d'esta cidade, ordenando que todos
os materiais tirados das ruínas e que podem empre-
gar-se nas obras de calçada e assento da gradaria da
praça do Rocio sejam n'eles despendidos, afim de que
pela sua muda, mas energica linguagem, despertam a
atenção dos espectadores naquele sitio concorreram".

Foi aprovado. As mesmas côrtes ordenaram que
se tirassem plantas dos carceres demolidos, e fossem


 
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