6 HA-LAPID ========================================== O proselitismo entre os Judeus Em Paris o Rabbi Nathan Levy fez uma conferencia sobre este tema, o qual em re- sumo disse o seguinte: -"Tereis jà lido ou ouvido dizer: "O judaismo não taz proselitismo, -porque ele professa que todos os justos, qualquer que seja a sua confissão, teem parte no mundo futuro". Ha uma pequena parte de verdade nesta afirmação que faz honra ao judaismo, testemunho do seu espirito de grande libe~ ralismo. Mas poder-se-hia comtudo fazer-lhe uma censura: a de se mostrar egoísta, indi- ferente para com os outros homens, porque, possuindo uma doutrina de verdade não fez ou não faz o preciso para espalhar esta dou- trina á volta de si. Ora, esta censura não é merecida, Israe não faltou ao dever de fazer conhecer a verdade, de atrair a si as nações, de fazer proselitismo. Abraham recebe a promessa que todos os povos da terra serão abençoados na sua posteridade-promessa que significa que as verdades religiosas, os preceitos da mora- lidade d'Israel, se tornarão o patrimonio da Humanidade "uma fonte de bençãos para todas as nações". Não é certo que a palavra gher que en- contramos muitas vezes mencionada na Es- critura, designa, como o querem os nossos doutores, o prosélito; mas mesmo que ela não tenha senão a significação de estran- geiro, como este estrangeiro é recomendado, á protecção de todos, que é preciso ama-lo, que êle tem todos os direitos do indigena e que ele pode até tomar parte no sacrifi- cio pascal, fazer-se circumcidar, ele entra porisso mesmo no corpo da nação, ele tor- na-se israelita; é um prosélito. Póde-se citar uma multidão de prosélitos desta espécie que vieram, nos tempos bi- blicos, incorporar-se em Israel. Mas é sobretudo na época dos grandes profetas, pouco antes do exilio de Babilo- nia, e á volta desse exilio, que Israel presta provas da sua missão verdadeira, a de ser- vir de luz ás nações, de fazer conhecer o Deus unico até ás extremidades da terra. Os prosélitos tornaram-se numerosos. Mais tarde, quando o judaismo deu as provas brilhantes da sua vitalidade, depois das vitorias dos Macabeus. o proselitismo judeu tomou um desenvolvimento até a1i desconhecido. Ele floresceu sobretudo na Dispersão, onde os judeus, encontrando-se em face do paganismo, não hesitaram mais em demonstrar a vaidade dele e glorifica- ram, pelo contrario, a sua religião. Os escritores alexandrinos, Filon entre outros, esforçaram-se por demonstrar que toda a sabedoria dos gregos está contida nos livros sagrados dos judeus e deram ru- des golpes no paganísmo. Uma multidão de prosélitos foi atraída para o judaismo. Pela época da ruína do segundo Templo, não havia cidade da Asia, onde, ao lado de ju- deus d'origem, não houvesse ali uma massa de prosélitos, mais ou menos convertidos ao judaismo e que são designados pelos nomes de prosélitos da porta, homens pie- dosos, homens justos, adoradores do Ceu, adoradores do Altíssimo. A familia real de Adiabene é convertida nessa época e mos- tra se muito fiel ao judaismo. Este movimento de propaganda é para- lisado, ou quasi parado, pela queda de Je- rusalem e pelo esmagamento do povo judeu. Uma nova religião, o cristianismo pau- lista aproveita esta ocasião inesperada, re- colhe em boa parte, os frutos do proséli- tismo judeu; ele encontra entre os semipro- sélitos, os seus primeiros adeptos. Assim não é de espantar, se a partir desie mo- mento, tendencias bastante diversas se ma- nifestam entre os rabinos, quanto á doutri- na referente ao prosélitismo. Uns querem que uma mão acolhedora seja estendida ao prosélito; outros mostram-se mais descon- fiados com ele, não o aceitam senão depois de um exame muito serio dos motivos que o trazem para o judaismo e impõem-lhe a aceitação de todas as práticas religiosas. Apesar das dificuldades acumuladas no ca- minho do prosélito, o judaismo encontrará ainda, mesmo na propria Roma, numerosos aderentes. O prosélitismo judeu, já condenado como um crime pela lei romana, no 2. seculo, será tornado impossivel depois do triunfo definitivo do cristianismo que, por todos os meios, se esforçará por impedir todo o comercio, todo o contacto amigavel entre os sectarios das duas religiões e não ficará sa- tisfeito senão quando reduzir os judeus ao estado de parias, inofensivos, portanto, daí por diante.
N.º 036, Shebat 5691 (Jan-Fev 1931)
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