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N.º 042, Elul 5691 (Ago-Set 1931)







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Elementos para a Historia dos
Judeus Portugueses de Hamburgo

                     por ALFONSO CÀSSU TO

                (Continuação)

Como seu pae tambem se tornou merecedor do
reconhecimento da comunidade e faleceu em 1705 em
Amsterdam.

Cerca de 1640 Duarte Nunes da Costa, aliás Ja-
cob Curiel, exercia as funções de representante do rei
de Portugal em Hamburgo. Era sobrinho do arcebis-
po do Mexico: Dom Fray Francisco de Vitória, nas-
ceu em Lisboa em 1587 e transportou-se para Itália,
onde se estabeleceu em Florença e mais tarde em Piza.

Cerca de 1618 emigrou com sua familia para
Amsterdam e alguns anos mais tarde para Hamburgo.
O célebre historiador e poeta judeu-espanhol, o capi-
tão Miguel ou Daniel Levy de Barrios, que viveu em
Amsterdam cerca de 1665-1701, em um dos seus nu-
merosos trabalhos "Coro de las Musas", menciona
os serviços de confiança prestados por Duarte Nunes
ao irmão do rei D. João IV de Portugal. D. Duarte
de Bragança, Duarte Nunes prestou tambem grandes
serviços à sua comunidade como Parnás e morreu em
1664. Como ministro residente sucedeu-lhe seu filho
Manoel ou Selomo, que faleceu em Hamburgo em
1679. O outro filho de Duarte; (Jeronimo ou Moses
foi agente do rei de Portugal em Amsterdam e os seus
descendentes desempenharam o mesmo cargo até ao
meiado do século XVIII. Também o rei da Polónia
teve como seus representantes em Hamburgo alguns
hebreos: Daniel Abenzur ou Dias Milão; David Aben-
zur e Jacob Abenzur cujos antepassados eram origi-
nàrios de Portugal. A estes homens e ainda a outros
de maior ou menor importancia, tanto no campo reli-
gioso como profano, se deve agradecer o facto de
ainda até aos nossos dias constituir em Hamburgo
uma alta distincção e classificação de "judeu-portu-
gues".

Este periodo de grande preponderancia dos ju-
deus portugueses em Hamburgo tinha contudo de
ser de curta duração. Quando em 1697 o Senado de
Hamburgo se encontrou em apuros de dinheiro e exi-
giu da "Bürgerschaft", que era o parlamento do Es-
tado de Hamburgo, como ainda hoje é, um tributo
extraordinário de 1/4 % este parlamento declarou-se
pronto a ceder à exigência do Senado com a condição
que os judeus portugueses deveriam restringir a
realisação das suas cerimónias religiosas e os judeus
alemães deveriam ser expulsos de Hamburgo e isto
porque não eram reconhecidos pelo Senado senão
como "criados dos judeus portugueses". Os portu-
gueses deveriam pagar por uma só vez uma contri-
buição de 20.000 marcos e mais 6.000 marcos anual-
mente; deveriam abandonar a sua esnoga e exercer o
culto unicamente em domicilios particulares e não de-
veriam fazer uso de quaisquer objectos de culto de
grande valor. Os portugueses protestaram em vão. O
parlamento exigiu o afastamento dos judeus alemães
e a restricção dos direitos dos portugueses com a
ameaça de que não pagaria ao Senado os respectivos
ordenados durante um ano O parlamento era contra
os judeus, estimulado ocultamente pelo partido da
Igreja, e o Senado, que era o governo do Estado, e



que detinha o poder executivo era favoravel aos ju-
deus. Quando no mesmo ano entraram em vigor estas
disposições, muitos dos mais ricos e importantes
membros da comunidade preferiram abandonar Ham-
burgo. Alem desta circunstancia, a comunidade viu-se
enfraquecida por desavenças intimas e uma grande
parte dos seus membros preferiu exercer o culto na
casa particular do ministro residente da Polónia. Ja-
cob Abenzur, e 13 familias, cançadas das desavenças
emigraram para Altona, onde fundaram uma comuni-
dade portuguesa. Os Parnassim da comunidade de
Hamburgo pediram auxilio ao Senado, que publicou
um decreto proibindo a divisão da comunidade. E as-
sim decaiu, no começo do século XVIII, a comuni-
dade dos judeus portugueses de Hamburgo até atingir
uma situação de nenhuma importancia, situação que
assim se conservou por vários anos e que nunca veio
a recuperar o seu antigo esplendor. O seu desenvol-
vimento era impedido pela pobreza da maioria dos
seus membros. Quando Frederico o Grande da Prus-
sia empreendeu guerra contra a Austria, uma grande
parte das mercadorias de toda a Alemanha do Sul,
que habitualmente vinham embarcar em Stettin, pas-
sou a procurar o porto de embarque em Hamburgo,
isto cerca de 1745-65, e desta circunstância aprovei-
taram muitos dos membros da comunidade portugue-
sa realisando grandes lucros, que aproveitaram igual-
mente a toda a comunidade.

Como por esse tempo a vida espiritual dos ju-
deus portugueses tivesse tambem descido a um nivel
muito inferior àquele que atiugira um século antes e
não se encontrando portanto, entre os seus membros,
quem pudesse exercer as funcções de Haham, o
Mahamad nomeou para Haham o sábio Jacob de Bas-
san da cidade de Amsterdam, que exerceu este cargo
em Hamburgo durante 25 anos. O seu sucessor e úl-
timo Haham português de Hamburgo foi Selomo Mor-
dechai ish Yemini, que habitou esta cidade durante
muitos anos e que provavelmente teria sido director
da Jeshiba portuguesa. Abandonou Hamburgo em
1790, para onde nunca mais regressou, ignorando-se
onde faleceu.

Quando em 1795 os franceses ocuparam a Holan-
da, a maior parte do seu comércio veiu a exercer-se
em Hamburgo e muitos dos judeus portugueses de
Amsterdam escolheram Hamburgo como ponto de re-
sidencia. Estes novos habitantes, contudo, não se de-
moraram muito e quando Luis Napoleão teve de
abandonar o trono da Holanda regressaram eles a
Amsterdam.

A incorporação de Hamburgo nos dominios
franceses foi de resultados desastrosos para a comu-
nidade. Os franceses perseguiam os habitantes e lan-
çavam altas contribuições, que muito vieram prejudi-
car a cidade do seu comércio.

Quando o exército russo veiu em socorro de
Hamburgo. o general francês Marchal Davoust orde-
nou que todos os habitantes deveriam fornecer man-
timentos para mês e meio e quem o não podesse fazer,
por pobreza, deveria abandonar a cidade. A comum-
dade tinha muitos membros pobres que por esse mo-
tivo tiveram de a abandonar, dirigindo-se para Altona
onde foram recebidos pelos seus parentes e correli-
gionários, que constituíam a comunidade portuguesa
desta última cidade.

                                     (Continua).


 
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