8 HA-LAPID ===================================================== Elementos para a Historia dos Judeus Portugueses de Hamburgo por ALFONSO CÀSSU TO (Continuação) Como seu pae tambem se tornou merecedor do reconhecimento da comunidade e faleceu em 1705 em Amsterdam. Cerca de 1640 Duarte Nunes da Costa, aliás Ja- cob Curiel, exercia as funções de representante do rei de Portugal em Hamburgo. Era sobrinho do arcebis- po do Mexico: Dom Fray Francisco de Vitória, nas- ceu em Lisboa em 1587 e transportou-se para Itália, onde se estabeleceu em Florença e mais tarde em Piza. Cerca de 1618 emigrou com sua familia para Amsterdam e alguns anos mais tarde para Hamburgo. O célebre historiador e poeta judeu-espanhol, o capi- tão Miguel ou Daniel Levy de Barrios, que viveu em Amsterdam cerca de 1665-1701, em um dos seus nu- merosos trabalhos "Coro de las Musas", menciona os serviços de confiança prestados por Duarte Nunes ao irmão do rei D. João IV de Portugal. D. Duarte de Bragança, Duarte Nunes prestou tambem grandes serviços à sua comunidade como Parnás e morreu em 1664. Como ministro residente sucedeu-lhe seu filho Manoel ou Selomo, que faleceu em Hamburgo em 1679. O outro filho de Duarte; (Jeronimo ou Moses foi agente do rei de Portugal em Amsterdam e os seus descendentes desempenharam o mesmo cargo até ao meiado do século XVIII. Também o rei da Polónia teve como seus representantes em Hamburgo alguns hebreos: Daniel Abenzur ou Dias Milão; David Aben- zur e Jacob Abenzur cujos antepassados eram origi- nàrios de Portugal. A estes homens e ainda a outros de maior ou menor importancia, tanto no campo reli- gioso como profano, se deve agradecer o facto de ainda até aos nossos dias constituir em Hamburgo uma alta distincção e classificação de "judeu-portu- gues". Este periodo de grande preponderancia dos ju- deus portugueses em Hamburgo tinha contudo de ser de curta duração. Quando em 1697 o Senado de Hamburgo se encontrou em apuros de dinheiro e exi- giu da "Bürgerschaft", que era o parlamento do Es- tado de Hamburgo, como ainda hoje é, um tributo extraordinário de 1/4 % este parlamento declarou-se pronto a ceder à exigência do Senado com a condição que os judeus portugueses deveriam restringir a realisação das suas cerimónias religiosas e os judeus alemães deveriam ser expulsos de Hamburgo e isto porque não eram reconhecidos pelo Senado senão como "criados dos judeus portugueses". Os portu- gueses deveriam pagar por uma só vez uma contri- buição de 20.000 marcos e mais 6.000 marcos anual- mente; deveriam abandonar a sua esnoga e exercer o culto unicamente em domicilios particulares e não de- veriam fazer uso de quaisquer objectos de culto de grande valor. Os portugueses protestaram em vão. O parlamento exigiu o afastamento dos judeus alemães e a restricção dos direitos dos portugueses com a ameaça de que não pagaria ao Senado os respectivos ordenados durante um ano O parlamento era contra os judeus, estimulado ocultamente pelo partido da Igreja, e o Senado, que era o governo do Estado, e que detinha o poder executivo era favoravel aos ju- deus. Quando no mesmo ano entraram em vigor estas disposições, muitos dos mais ricos e importantes membros da comunidade preferiram abandonar Ham- burgo. Alem desta circunstancia, a comunidade viu-se enfraquecida por desavenças intimas e uma grande parte dos seus membros preferiu exercer o culto na casa particular do ministro residente da Polónia. Ja- cob Abenzur, e 13 familias, cançadas das desavenças emigraram para Altona, onde fundaram uma comuni- dade portuguesa. Os Parnassim da comunidade de Hamburgo pediram auxilio ao Senado, que publicou um decreto proibindo a divisão da comunidade. E as- sim decaiu, no começo do século XVIII, a comuni- dade dos judeus portugueses de Hamburgo até atingir uma situação de nenhuma importancia, situação que assim se conservou por vários anos e que nunca veio a recuperar o seu antigo esplendor. O seu desenvol- vimento era impedido pela pobreza da maioria dos seus membros. Quando Frederico o Grande da Prus- sia empreendeu guerra contra a Austria, uma grande parte das mercadorias de toda a Alemanha do Sul, que habitualmente vinham embarcar em Stettin, pas- sou a procurar o porto de embarque em Hamburgo, isto cerca de 1745-65, e desta circunstância aprovei- taram muitos dos membros da comunidade portugue- sa realisando grandes lucros, que aproveitaram igual- mente a toda a comunidade. Como por esse tempo a vida espiritual dos ju- deus portugueses tivesse tambem descido a um nivel muito inferior àquele que atiugira um século antes e não se encontrando portanto, entre os seus membros, quem pudesse exercer as funcções de Haham, o Mahamad nomeou para Haham o sábio Jacob de Bas- san da cidade de Amsterdam, que exerceu este cargo em Hamburgo durante 25 anos. O seu sucessor e úl- timo Haham português de Hamburgo foi Selomo Mor- dechai ish Yemini, que habitou esta cidade durante muitos anos e que provavelmente teria sido director da Jeshiba portuguesa. Abandonou Hamburgo em 1790, para onde nunca mais regressou, ignorando-se onde faleceu. Quando em 1795 os franceses ocuparam a Holan- da, a maior parte do seu comércio veiu a exercer-se em Hamburgo e muitos dos judeus portugueses de Amsterdam escolheram Hamburgo como ponto de re- sidencia. Estes novos habitantes, contudo, não se de- moraram muito e quando Luis Napoleão teve de abandonar o trono da Holanda regressaram eles a Amsterdam. A incorporação de Hamburgo nos dominios franceses foi de resultados desastrosos para a comu- nidade. Os franceses perseguiam os habitantes e lan- çavam altas contribuições, que muito vieram prejudi- car a cidade do seu comércio. Quando o exército russo veiu em socorro de Hamburgo. o general francês Marchal Davoust orde- nou que todos os habitantes deveriam fornecer man- timentos para mês e meio e quem o não podesse fazer, por pobreza, deveria abandonar a cidade. A comum- dade tinha muitos membros pobres que por esse mo- tivo tiveram de a abandonar, dirigindo-se para Altona onde foram recebidos pelos seus parentes e correli- gionários, que constituíam a comunidade portuguesa desta última cidade. (Continua).
N.º 042, Elul 5691 (Ago-Set 1931)
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