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Ha-Lapid הלפיד


N.º 048, Tamuz 5692 (Jul 1932)







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                  HA-LAPID                      3
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para resgatar pela sua morte o genero humano da
condenação eterna; e posto que se tenha a fé para
uma coisa tão impossivel, esta-se seguro da sua sal-
vação; nao há senão persuadir-se que Deus se fez
homem para purificar os pecados cometidos até ao
seu advento, e aqueles que se cometem todos os dias
para serem inteiramente absolvidos.

E' espantoso que o Cristianismo para não ser ex-
posto a dar rasão duma doutrina tão fortemente
oposta á verdade e ao born senso, não tenha abraçado
os dogmas de Arius. Este herisiarca tinha bem me-
lhor conciliado os atributos do Messias que êle reco-
nhecia. Sustenta que era homem duma justiça e duma
probidade exacta, mas sujeito como os outros a tô-
das as infermidades humanas. Não há um dos Apos-
tolos contemporaneos de Jesus Cristo e espectador
do seu suplicio que jamais o declarasse Deus. Este
glorioso titulo so lhe foi dado mais de trezentos sé-
culos depois da sua morte: Sam Paulo a mais sábio
e o mais instruido dos Apostolos, que sósinho con-
verteu ao Cristianismo mais nações que todos os ou-
nos reunidos, chama-o na primeira Epistola que es-
creveu aos Hebreus, o esplendor da glória divina e
a viva imagem da sua da sua substancia. Nada ha
novo nem sobrenatural nestes Epitetos. A Genesis
diz-nos que Deus foi o homem á sua semelhança, e
todos os justos, todos os servidores de Deus são o
esplendor da sua glória, a sua divina bondade fazen-
dô brilhar aos olhos de tôdas as pessoas naqueles
que seguem religiosamente a sua Santa Lei e os seus
mandamentos. E' verdade que Sam Paulo jamais ou-
saria escrever aos Hebreus que conhecia muitos ini-
migos da pluridade dos deuses que Jesus Cristo o
fosse: tinha intenção de os converter, e esta unica
qualidade, êste atributo teria afastado dos seus senti-
mentos todos aqueles que sem isto teriam podido
prestar, a menor atenção; e desde que este luminar
da Egreja não deu este titulo ao seu Messias, acredi-
tou sem duvida que era homem dotado de perfeição
que o elevavam acima de todos os outros.

O texto sagrado que e' a unica regra que nós
devemos seguir, não nos ensina que o pecado de
Adão seja duma naturesa infinita, que tenha ficado
escravo do Demônio assim como a sua posteridade.
Os Profetas não fazem disso nenhuma referencia. Sam
Paulo para introduzir o cristianismo entre os Israeli-
tas pregou-lhes esta doutrina; mas contentaram-se em
acreditar o que Deus lhes disse, que tinha castigado
o primeiro homem pelo pecado que tinha cometido.
Fixa um numero de geraçao quando quer castigar
um pecador: E' a sentença do Senhor; nem tôda a
posteridade de Adão está compreendida; não há clau-
sula que a condene á sua inemisade eterna; sendo o
homem finito, as suas acções bôas ou más não pode-
riam ser infinitas. Quando o homem peca nao tem
em vista ofender o Senhor o seu desejo sensual preo-
cupa a sua rasão, arrasta-o ao pecado, e pelos cui-
dados que tem em o esconder, julga-se que êle o ocul-
ta ao conhecimento do seu creador. A resposta que
lhe deu Caim depois de ter morto seu irmão Abel
prova perfeitamente esta verdade; todos os pecado-
res são do mesmo sentimento, e o mais pecador não
crê ofender a Deus no momento que se desvia e que
comete o maior crime. Não há senão as bôas obras,
o arrependimento, a penitência, que se fazem publico
e proposito deliberado, para se tornar agradavel a
Deus e para merecer a sua graça.

São as unicas acções do homem que são duma
perfeição e dum preço infinito relativamente á infini-
dade Divina á qual elas se referem. Nem os pecados
riem as màs acções poderiam ser tais, porque não há
quem possa dirigir-se á bondade infinita, não sendo
a intenção dos pecadores ofendê-lo. Mas suponha-
mos que a preversidade do homem o impede de sa-
tisfazer ao que deve ao seu creador; que a sua incli-
nação no pecado o põe fora do estado de merecer a
sua graça, não se segue por isso que a justiça Divina
seja imperfeita. Se para expiar a ofensa que se faz ao
seu creador fôsse preciso que a creatura perecesse
isto seria directamente contra a justiça, contra a sua
misericórdia infinita e o seu poder absoluto.

Os douctores da Egreja que para sustentar uma
opinião que nem mesmo tem a aparencia da verdade,
procuram cegar o povo que não tem instrução ou
que não quere dar-se ao trabalho de examinar as
suas rasôes, asseguram que a justiça de Deus e' igual
á dos homens e que se a não exercesse com a mes-
ma circunspecção, sería injusta, como os juizes dum
tribunal que não podem sem se tornar culpaveis,
pronunciar uma sentença contra as leis estabelecidas
pelo soberano. Pode-se sem impiedade aplicar um
sistema tam pouco respeitosa ao soberano juiz do
mundo? O seu poder infinito torna-o independente
de tudo, infelizes dos pecadores se os julgava com
todo o rigôr que merecem. Ele exerce a sua justiça
quando os castiga, mas aí mistura a sua misericórdia
para modificar as peuas que poderia infligir-lhes jus-
tamente, e algumas vezes mesmo para lhes perdoar
completamente. E' tam justo que êle façam morrer os
inocentes de Canaan, como que perdôa aos culpaveis
de Nnnive. Tôda a Terra o admira quando condena
Saúl e perdôa a David: o Senhor dirige tudo com
um mistério que não podemos avaliar, mas que sô-
mos obrigados a respeitar. Exerce igualmente a sua
justiça perdoando ou condenando o mesmo pecado,
e por consequencia não há nenhuma comparação da
justiça de Deus á dos homens que só devem confor-
mar-se ás leis estabelecidas pelos homem. Porque
rasão não queria êle perdoar o pecado de Adão ar-
rependido? Porque não podera êle fazê-lo? Porque
nao se serviria ele da sua miscricordia contra o seu
primeiro trabalho e quereria perder a sua posterida-
de? A sua divina bondade, a sua clemencia infinita é
contentada pela satisfação que lhe pode dar opri-
meiro homem e do sincero arrependimento do seu
pecado. O texto sagrado no-lo assegura. "Eu não
despresarei, diz ele, o pecador arrependido. Não
quero a morte do pecador, quero que ele se converta,
e que viva, e que se os seus pecados sejam rubros como
escarlate, eu lavar-los-hei e branquearei como a neve
quando afligir a sua alma e se converter. Eis de que
maneira o Senhor o promete. Ele não exige do espi-
rito humano coisas impossiveis, não é imposto a êle
mesmo nenhuma lei para impedir a acção e o efeito
da sua misericordia. Como então? Não poderia per-
doar ao pecador arrependido sem ser obrigado a to-
mar conta dos seus pecados? Não poderia limitar a
sua liberdade e o seu poder infinito sem se tornar
culpado da profanação e de sacrilégio; e quando os
homens acreditam que há nas suas acções qualquer
coisa que repugna á sua rasão, é porque ela é dema-
siado fraca para compreender o fim das suas divinas
obras. Se o pecador segundo a doutrina crista, não
pode expiar os seus pecados a não ser que ele satis-
faça com a ultima exactidão, a misericordia de Deus
torna-se inutil. Quando o devedor paga as suas di-
vidas segundo o teor das suas obrigações êle não tem
necessidade nenhuma merece do seu credor, e se pela


 
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