HA-LAPID 3 ================================================== para resgatar pela sua morte o genero humano da condenação eterna; e posto que se tenha a fé para uma coisa tão impossivel, esta-se seguro da sua sal- vação; nao há senão persuadir-se que Deus se fez homem para purificar os pecados cometidos até ao seu advento, e aqueles que se cometem todos os dias para serem inteiramente absolvidos. E' espantoso que o Cristianismo para não ser ex- posto a dar rasão duma doutrina tão fortemente oposta á verdade e ao born senso, não tenha abraçado os dogmas de Arius. Este herisiarca tinha bem me- lhor conciliado os atributos do Messias que êle reco- nhecia. Sustenta que era homem duma justiça e duma probidade exacta, mas sujeito como os outros a tô- das as infermidades humanas. Não há um dos Apos- tolos contemporaneos de Jesus Cristo e espectador do seu suplicio que jamais o declarasse Deus. Este glorioso titulo so lhe foi dado mais de trezentos sé- culos depois da sua morte: Sam Paulo a mais sábio e o mais instruido dos Apostolos, que sósinho con- verteu ao Cristianismo mais nações que todos os ou- nos reunidos, chama-o na primeira Epistola que es- creveu aos Hebreus, o esplendor da glória divina e a viva imagem da sua da sua substancia. Nada ha novo nem sobrenatural nestes Epitetos. A Genesis diz-nos que Deus foi o homem á sua semelhança, e todos os justos, todos os servidores de Deus são o esplendor da sua glória, a sua divina bondade fazen- dô brilhar aos olhos de tôdas as pessoas naqueles que seguem religiosamente a sua Santa Lei e os seus mandamentos. E' verdade que Sam Paulo jamais ou- saria escrever aos Hebreus que conhecia muitos ini- migos da pluridade dos deuses que Jesus Cristo o fosse: tinha intenção de os converter, e esta unica qualidade, êste atributo teria afastado dos seus senti- mentos todos aqueles que sem isto teriam podido prestar, a menor atenção; e desde que este luminar da Egreja não deu este titulo ao seu Messias, acredi- tou sem duvida que era homem dotado de perfeição que o elevavam acima de todos os outros. O texto sagrado que e' a unica regra que nós devemos seguir, não nos ensina que o pecado de Adão seja duma naturesa infinita, que tenha ficado escravo do Demônio assim como a sua posteridade. Os Profetas não fazem disso nenhuma referencia. Sam Paulo para introduzir o cristianismo entre os Israeli- tas pregou-lhes esta doutrina; mas contentaram-se em acreditar o que Deus lhes disse, que tinha castigado o primeiro homem pelo pecado que tinha cometido. Fixa um numero de geraçao quando quer castigar um pecador: E' a sentença do Senhor; nem tôda a posteridade de Adão está compreendida; não há clau- sula que a condene á sua inemisade eterna; sendo o homem finito, as suas acções bôas ou más não pode- riam ser infinitas. Quando o homem peca nao tem em vista ofender o Senhor o seu desejo sensual preo- cupa a sua rasão, arrasta-o ao pecado, e pelos cui- dados que tem em o esconder, julga-se que êle o ocul- ta ao conhecimento do seu creador. A resposta que lhe deu Caim depois de ter morto seu irmão Abel prova perfeitamente esta verdade; todos os pecado- res são do mesmo sentimento, e o mais pecador não crê ofender a Deus no momento que se desvia e que comete o maior crime. Não há senão as bôas obras, o arrependimento, a penitência, que se fazem publico e proposito deliberado, para se tornar agradavel a Deus e para merecer a sua graça. São as unicas acções do homem que são duma perfeição e dum preço infinito relativamente á infini- dade Divina á qual elas se referem. Nem os pecados riem as màs acções poderiam ser tais, porque não há quem possa dirigir-se á bondade infinita, não sendo a intenção dos pecadores ofendê-lo. Mas suponha- mos que a preversidade do homem o impede de sa- tisfazer ao que deve ao seu creador; que a sua incli- nação no pecado o põe fora do estado de merecer a sua graça, não se segue por isso que a justiça Divina seja imperfeita. Se para expiar a ofensa que se faz ao seu creador fôsse preciso que a creatura perecesse isto seria directamente contra a justiça, contra a sua misericórdia infinita e o seu poder absoluto. Os douctores da Egreja que para sustentar uma opinião que nem mesmo tem a aparencia da verdade, procuram cegar o povo que não tem instrução ou que não quere dar-se ao trabalho de examinar as suas rasôes, asseguram que a justiça de Deus e' igual á dos homens e que se a não exercesse com a mes- ma circunspecção, sería injusta, como os juizes dum tribunal que não podem sem se tornar culpaveis, pronunciar uma sentença contra as leis estabelecidas pelo soberano. Pode-se sem impiedade aplicar um sistema tam pouco respeitosa ao soberano juiz do mundo? O seu poder infinito torna-o independente de tudo, infelizes dos pecadores se os julgava com todo o rigôr que merecem. Ele exerce a sua justiça quando os castiga, mas aí mistura a sua misericórdia para modificar as peuas que poderia infligir-lhes jus- tamente, e algumas vezes mesmo para lhes perdoar completamente. E' tam justo que êle façam morrer os inocentes de Canaan, como que perdôa aos culpaveis de Nnnive. Tôda a Terra o admira quando condena Saúl e perdôa a David: o Senhor dirige tudo com um mistério que não podemos avaliar, mas que sô- mos obrigados a respeitar. Exerce igualmente a sua justiça perdoando ou condenando o mesmo pecado, e por consequencia não há nenhuma comparação da justiça de Deus á dos homens que só devem confor- mar-se ás leis estabelecidas pelos homem. Porque rasão não queria êle perdoar o pecado de Adão ar- rependido? Porque não podera êle fazê-lo? Porque nao se serviria ele da sua miscricordia contra o seu primeiro trabalho e quereria perder a sua posterida- de? A sua divina bondade, a sua clemencia infinita é contentada pela satisfação que lhe pode dar opri- meiro homem e do sincero arrependimento do seu pecado. O texto sagrado no-lo assegura. "Eu não despresarei, diz ele, o pecador arrependido. Não quero a morte do pecador, quero que ele se converta, e que viva, e que se os seus pecados sejam rubros como escarlate, eu lavar-los-hei e branquearei como a neve quando afligir a sua alma e se converter. Eis de que maneira o Senhor o promete. Ele não exige do espi- rito humano coisas impossiveis, não é imposto a êle mesmo nenhuma lei para impedir a acção e o efeito da sua misericordia. Como então? Não poderia per- doar ao pecador arrependido sem ser obrigado a to- mar conta dos seus pecados? Não poderia limitar a sua liberdade e o seu poder infinito sem se tornar culpado da profanação e de sacrilégio; e quando os homens acreditam que há nas suas acções qualquer coisa que repugna á sua rasão, é porque ela é dema- siado fraca para compreender o fim das suas divinas obras. Se o pecador segundo a doutrina crista, não pode expiar os seus pecados a não ser que ele satis- faça com a ultima exactidão, a misericordia de Deus torna-se inutil. Quando o devedor paga as suas di- vidas segundo o teor das suas obrigações êle não tem necessidade nenhuma merece do seu credor, e se pela
N.º 048, Tamuz 5692 (Jul 1932)
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