4 HA-LAPID ================================================= má situação dos seus negociosos um dos seus amigos paga por êle, a divida nem por isso deixa de ser paga e satisfeita, e a aquele que a recebeu não po- deria dizer que teve a menor indulgencia com ele não é senão ao amigo a quem ele deve ser grato. E' a mesma coisa quando Deus quer que o pecador ex- pie com rigor as faltas que cometeu mas de um ou- tro: a sua misericordia não poderia agir, o que re- pugna á verdade e ao bom senso. O texto sagrado declara-o em termos formais: a misericordia de Deus é manifestada em todas as suas obras. Ainda qun se queira sustentar que para entrar na graça de Deus é preciso satisfazer totalmente a sua justiça, os cristãos não poderiam provar que en- traram aí pela morte do Messias que adoram, era um homem justo segundo os principios da sua religião, santo e inocente êle não tinha nenhuma parte nos pe- cados de Adão. Pode-se imaginar nada muis injusto que fazer morrer a inocencia para expiar o crime dos impios? O Senhor fará perecer o justo para safvar o culpado? Ele assegura-nos positivamente o contrário porque diz que cada um morrerá pelo seu pecado. A justiça distributiva consiste em dar a cada um o que lhe pertence, e quando a misericordia divi- na modera o castigo do pecador, é com uma tal rec- tidão que esta moderaçao chama-se justiça divina. Mas nao existiria rectidao se o inocente pagasse pelo culpado. Os filhos dos Amalecistas não morreriam pelos pecados dos seus pais, mas por uma préscien- cia divina que os sabia tão maus como êles. Sucedeu o mesmo no tempo de diluvio em que o Senhor permitiu que alguns homens que não tinham cometido crimes morressem, prevendo que era preci- so purificar o mundo de todas as más acções que te- riam cometido se tivessem vivido e que por conse- quencia esta punição precoce era necessária. Quando David por ordem de Deus fez morrêr os ricos de Saul, e porque êles tinham sido cumplices da morte dos Gamboanitas. E' por esta punição que o seu santo nome deve ser purificado em que punindo a prevaricação do antigo fermento de Saul o de sua fa- milia que a escritura chama a casa de sangue. Deus quiz exterminar esta familia, mas nunca fez morrer um homem para possuir o pecado que tinha come- tido. O Senhor julgou a sua morte necessária, porque sabia que a sua vida teria sido um abismo de peca- dos e de crimes. E' impossivel que um homem come- ta uma acção má e que um outro seja por isso puni- do. Os juizes estabelecidos no mundo inventaram a opressão, a tortura e varias outras maneiras de ator- mentar os maus para os condenar com mais exacti- dão, e afim de que a sua sentença não seja dada se- não depois de ter examinado o seu crime com toda a circunspecção imaginavel, a maneira como o crime foi cometido, e aqnele que o cometeu. E' de Deus que teem o seu poder e é na sua divina lei que teem tira- do as que observam na terra, e desde que Deus não pode fazer com que o pecado de um seja a acção do outro e não poderia querer exercer a sua justiça no inocente e salvar o culpado, de onde se conclui evi- dentemente que o Messias dos cristãos sendo o sim- bolo da inocencia, não podia ser punido dum pecado cometido tantos séculos antes da sua vinda; e não se poderiam acusar os judeus de o ter feito morrer, pois que segundo a doutrina cristã, êle não veio ao mun- do senao para isso. Os israelitas executaram pois por esta morte o decreto da justiça divina e os cristãos devem-lhes a sua salvação. Com aquela ingratidão pa- gam êles a mais importante obrigação replicar-se-á sem duvida, que o genero humano experimente ainda hoje a maldiçao de Deus pronunciou contra Adão a sua posteridade. porque só ele e sua mulher tinham cometido o pecado, e que assim Deus puniu todos os homens do pecado que os dois primeiros cometeram. Como eu pretendo responder num outro lugar mais amplamente a esta objecção, eu direi aqui em poucas palavras que é verdadeiro que Adão foi castigado pelo seu pecado, mas que esta punição foi propor- cionada à natureza humana. O Senhor tinha dado ao primeiro homem grandes previlégios para a sua vida, se soubesse conter-se no respeito e na obediencia que devia ao seu creador, mas tendo transgredido as suas ordens, êle, sua mulher e a sua posteridade foram privados disso porque não os mantinham senao com a graça do Senhor e não da sua justiça. isto não e pois uma consequencia que, porque os homens não gosassem mais desta graça concedida a Adão antes do seu pecado, êtes sejam ainda castigados por estes pecado. Ha uma enormissima diferença entre ser mor- tificado pela cólera e pela justiça de Deus, e não es- tar mais na posseda sua graça que retirou ao genero humano, porqua éste tornou-se indigno disso. Os ho- mens ficaram dotados de todas as perfeições cuja na- tureza humana é suscetivel ainda que excluido de este admiravel previlegio. Não é uma punição de Deus para com eles pelo pecado de Adão; não gosam mais e é verdade da mesma graça que o Senhor lhes tinha concedido, mas o inocente nao é punido pelo culpado, o que seja contrario á perfeita rectidao de Deus que é inseparavet de todas as suas obras. Dir-se-á sem duvida que o Messias morreu para os homens voluntariamente, e que por consequencia não foi Deus que condenou um inocente à morte foi por um acto voluntario que a sofreu, é o desejo de resgatar os homens pelo preço da sua vida para obter do Senhor o perdão dos seus pecados. Se um homem justo queria morrer para salvar um criminoso conde- nado pela justiça, a sua proposição seria recebida? Poder-se-a chamar-me a um tribunal onde se tenha subscrito a um merecimento semelhante? Tudo se le- vantaria contra uma sentença que soltasse o crimino- so para fazer morrer um inocente. Seria transtomar a ordem da natureza, autorisar o crime e encher toda a terra de horror, se se condenassem os justos e se se deixassem impunes os criminosos. Não saberei com- preender como os cristãos ousam afirmar que o Pai Eterno rei juiz de todos os juizes e o perfeito modelo da justiça enviou seu filho que ele fez homem pelo orgão do Espirito Santo, na unica intenção de o fazer morrer para a salvação do genero humano, o que de- monstraria infalivelniente que o Pai Eterno e o Espi- rito Santo não teriam somente consentido e subscrito numa morte injusta, mas que êles o teriam ordenado, que teriam mesmo antes do nascimento de Jesus Cristo, regulado todas as acções da sua vida ou para que elas fossem criminosas afim de se tornar a sua condenação justa, ou para o fazer morrer sem o ter merecido. O que o Evangelho nos ensina não concor- com este raciocinio. jesus Cristo no jardim das oli- veiras suplica ao Pai Eterno para o dispensar, se é posssivel, de beber o calice da amargura, mas que se não é possivel, a sua vontade seja feita. Sam Paulo diz que foi obedecendo até à morte que ele sofreu na cruz. Visto que era o simbolo da inocencia, esta pu- nição não poderia ser imputada aos juizes que o con- denaram, eles foram quando muito os executores da vontade do Pai Eterno que tinha resolvido desde toda
N.º 048, Tamuz 5692 (Jul 1932)
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