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Ha-Lapid הלפיד


N.º 048, Tamuz 5692 (Jul 1932)







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                  HA-LAPID                   5
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a eternidade da morte de um inocente para salvar
tantos culpados. Disto resulta que Sam Paulo amal-
diçou o homem que esta suspenso na cruz! Este
Apostolo quiz amaldiçoar o seu redentor? E' permiti-
do acreditar que Deus para salvar o seu povo se te-
nha servido dum homem que é amaldiçoado por Sam
Paulo? Somente se poderia reconhecer nas perfeições
infinitas de Deus que tenha ordenado fazer perecer
um inocente para salvar os culpados e para expurgar
o mundo de malfeitores de que apesar deste decreto
sempre cheio.

A unica consequencia que se pode tirar de todos
estes raciocinios, é que a misericordia de Deus é li-
mitada embora sejamos obrigados a acreditar que ela
e' infinita para as creaturas. Era inutil que o Senhor
revestisse a natureza humana, que viesse ao mundo,
que ai sofresse a morte para apagar o pecado de
Adão e de todos os homens, um só traço da sua mi-
sericordia bastava para operar êsta santificação. Nós
temos tantas provas da sua bondade e da sua
omnipotencia que não podemos dizer sem cometer
um sacrilégio que ele quiz tomar precauções que po-
deriam causar tantas desordens no mundo e priva-lo
da sua graça, para apagar o pecado de desobediencia
que o primeiro homem expiou pelas afilições que so-
freu durante a sua vida e pela sua penitencia. Os ho-
mens que não puderam dar crédito a uma transtor-
mação tão pouco verosimil teem vivido e teem mor-
rido no pecado e teem-se tomado indignos da miseri-
cordia do Senhor, ainda que seja contudo pela sua
vontade que eles ficaram na cegueira, pois que lhes
proibe no texto sagrado acreditar no Messias que se
não faça conhecer pelos sinais evidentes que os Pro-
fetas anunciam com tauto cuidado e que não retirou
os Israelitas de entre as nações nas quais ela fará vêr
toda a grandesa da sua glória. E' por um ato brilhan-
te da sua saa bondade e da sua justiça que se deve
fazer êste milagre como diz o Profeta Ezequiel: é por-
que, casa de Israel, eu julgarei cada um segundo
as suas obras, diz o Senhor vosso Deus. Encon-
tram-se nas palavras seguintes provas da sua miseri-
cordia e da sua justiça.

Convertei-vos e fazei penitencia de todas as vos-
sas iuiquidades e a iniquidade mais arrastarà à ruina,
afastai para longe de vós todas estas acções de perfi-
dia pelas quais vós violastes a minha lei, e tornar-vos
um coração novo e um espirito novo; porque mor-
reste, casa de Israel, en não quero a morte do peca-
dor e do mau, diz o Senhor, que ele volte a mim e
que viva.

Eis como Deus se explica. Mas os homens pre-
tendem o contrário, o cristão assegura com bravura
que nem Israel nem denhuma outra nação pode vol-
tar ppra Deus; pois que faça o que fizer não pode
sair do abismo dos pecados onde está englobado;
mas ó Senhor dix que, logo que ele se arrependa lhe
são perdoados. Esta morte espiritual que se pretenda
ser ínseparavel do pecador, é completamente oposta
ã. que o Profeta nos assegura por um expresso man-
damento de Deus: Porque morreste casa de Israel?

Esta sentença ê bem contrária aquela que condena
um inocente a morrer pelos culpados.

Tudo que a divina bondade exige dos homens, é
que o arrependimento siga o crime, que façam ver
por uma penitencia sincera o horror que teem nisso,
e que não caiam nesta desgraçada recidiva. se Deus
tem tanto cuidado em não fazer morrer os culpados,
como nos podemos persuadir que ele quer a morte
das inocentes? A Lei e os Profetas asseguram-nos o



contràrio e a doutrina cristã não poderia destrui-los.
Tudo aí é conforme á rasâo, á justiça e à misericor-
dia.

Pode-se fechar os olhos à luz? Pode-se afastar
dum bom caminho para escolher um que nos leve ao
precipicio? E' portanto o que fazem os cristãos sus-
tentando obstinadamente que Deus se submeteu vo-
luntariamente á morte para expxar os pecados dos
homens que, pela perseverança nos seus crimes, nos
convencem que a morte terir sido inutil quando nós
quizessemos acreditar verdadeira. E' bem mais na-
tural pensar que cada um será recompensado ou pu-
nido segundo as obras que tenha feito durante a
vida.

                         Dr. Orobio de Castro
                   Judeu bragançano do seculo XVII.

                o o o

Visita Pastoral

Vindo de Londres em visita pastoral á
nossa Comunidade, chegou ao Porto sua
Eminencia o Rabbi-mór dos israelitas do
Rito Português de Inglaterra, o venerando
Rabbi Semtob Gaguine, Reitor do Monte-
fiore Theological College.

Sua Eminencia examinou detalhadamen-
te todas as obras desta Comunidade, tanto
morais como materiais, mostrando-se satis-
feito com os resultados obtidos.

Inspecionou o Instituto Teologico em
todos os seus detalhes, fazendo um exame
aos conhecimentos israelitas dos alunos,
mostrando o seu agrado pelo seu estado
de adiantamento.

No dia 13 foi-lhe feita uma sessão de
Homenagem na Sinagoga Meker Haim, pe-
la comunidade, tendo-lhe o nosso Presi-
dente apresentado solenemente as sauda-
ções da Kehilah e agradecendo Sua Emi-
nencia com um belo discurso em lingua
ladina (linguagem falada pelos israelitas
emigrados de Portugal e Espanha no sé-
culo XV e XVI). Esse discurso foi muito
aplaudido por tôda a assistencia, não só
pelo seu teor como pela linguagem empre-
gada que cordialmente agradou.

Sua Eminencia, que é um poliglota dis-
tinto, durante a sua estada no Porto de-
monstrou falar corretamente não só o in-
glez, como tambem o hebraico, o francês
e o ladino.

A sua Eminencia bem como a sua Ex-
celentíssima espoza os maranos do Porto
testemunharam a simpatia de que eles se
tornaram dignos.


 
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