HA-LAPID 5 =============================================== a eternidade da morte de um inocente para salvar tantos culpados. Disto resulta que Sam Paulo amal- diçou o homem que esta suspenso na cruz! Este Apostolo quiz amaldiçoar o seu redentor? E' permiti- do acreditar que Deus para salvar o seu povo se te- nha servido dum homem que é amaldiçoado por Sam Paulo? Somente se poderia reconhecer nas perfeições infinitas de Deus que tenha ordenado fazer perecer um inocente para salvar os culpados e para expurgar o mundo de malfeitores de que apesar deste decreto sempre cheio. A unica consequencia que se pode tirar de todos estes raciocinios, é que a misericordia de Deus é li- mitada embora sejamos obrigados a acreditar que ela e' infinita para as creaturas. Era inutil que o Senhor revestisse a natureza humana, que viesse ao mundo, que ai sofresse a morte para apagar o pecado de Adão e de todos os homens, um só traço da sua mi- sericordia bastava para operar êsta santificação. Nós temos tantas provas da sua bondade e da sua omnipotencia que não podemos dizer sem cometer um sacrilégio que ele quiz tomar precauções que po- deriam causar tantas desordens no mundo e priva-lo da sua graça, para apagar o pecado de desobediencia que o primeiro homem expiou pelas afilições que so- freu durante a sua vida e pela sua penitencia. Os ho- mens que não puderam dar crédito a uma transtor- mação tão pouco verosimil teem vivido e teem mor- rido no pecado e teem-se tomado indignos da miseri- cordia do Senhor, ainda que seja contudo pela sua vontade que eles ficaram na cegueira, pois que lhes proibe no texto sagrado acreditar no Messias que se não faça conhecer pelos sinais evidentes que os Pro- fetas anunciam com tauto cuidado e que não retirou os Israelitas de entre as nações nas quais ela fará vêr toda a grandesa da sua glória. E' por um ato brilhan- te da sua saa bondade e da sua justiça que se deve fazer êste milagre como diz o Profeta Ezequiel: é por- que, casa de Israel, eu julgarei cada um segundo as suas obras, diz o Senhor vosso Deus. Encon- tram-se nas palavras seguintes provas da sua miseri- cordia e da sua justiça. Convertei-vos e fazei penitencia de todas as vos- sas iuiquidades e a iniquidade mais arrastarà à ruina, afastai para longe de vós todas estas acções de perfi- dia pelas quais vós violastes a minha lei, e tornar-vos um coração novo e um espirito novo; porque mor- reste, casa de Israel, en não quero a morte do peca- dor e do mau, diz o Senhor, que ele volte a mim e que viva. Eis como Deus se explica. Mas os homens pre- tendem o contrário, o cristão assegura com bravura que nem Israel nem denhuma outra nação pode vol- tar ppra Deus; pois que faça o que fizer não pode sair do abismo dos pecados onde está englobado; mas ó Senhor dix que, logo que ele se arrependa lhe são perdoados. Esta morte espiritual que se pretenda ser ínseparavel do pecador, é completamente oposta ã. que o Profeta nos assegura por um expresso man- damento de Deus: Porque morreste casa de Israel? Esta sentença ê bem contrária aquela que condena um inocente a morrer pelos culpados. Tudo que a divina bondade exige dos homens, é que o arrependimento siga o crime, que façam ver por uma penitencia sincera o horror que teem nisso, e que não caiam nesta desgraçada recidiva. se Deus tem tanto cuidado em não fazer morrer os culpados, como nos podemos persuadir que ele quer a morte das inocentes? A Lei e os Profetas asseguram-nos o contràrio e a doutrina cristã não poderia destrui-los. Tudo aí é conforme á rasâo, á justiça e à misericor- dia. Pode-se fechar os olhos à luz? Pode-se afastar dum bom caminho para escolher um que nos leve ao precipicio? E' portanto o que fazem os cristãos sus- tentando obstinadamente que Deus se submeteu vo- luntariamente á morte para expxar os pecados dos homens que, pela perseverança nos seus crimes, nos convencem que a morte terir sido inutil quando nós quizessemos acreditar verdadeira. E' bem mais na- tural pensar que cada um será recompensado ou pu- nido segundo as obras que tenha feito durante a vida. Dr. Orobio de Castro Judeu bragançano do seculo XVII. o o o Visita Pastoral Vindo de Londres em visita pastoral á nossa Comunidade, chegou ao Porto sua Eminencia o Rabbi-mór dos israelitas do Rito Português de Inglaterra, o venerando Rabbi Semtob Gaguine, Reitor do Monte- fiore Theological College. Sua Eminencia examinou detalhadamen- te todas as obras desta Comunidade, tanto morais como materiais, mostrando-se satis- feito com os resultados obtidos. Inspecionou o Instituto Teologico em todos os seus detalhes, fazendo um exame aos conhecimentos israelitas dos alunos, mostrando o seu agrado pelo seu estado de adiantamento. No dia 13 foi-lhe feita uma sessão de Homenagem na Sinagoga Meker Haim, pe- la comunidade, tendo-lhe o nosso Presi- dente apresentado solenemente as sauda- ções da Kehilah e agradecendo Sua Emi- nencia com um belo discurso em lingua ladina (linguagem falada pelos israelitas emigrados de Portugal e Espanha no sé- culo XV e XVI). Esse discurso foi muito aplaudido por tôda a assistencia, não só pelo seu teor como pela linguagem empre- gada que cordialmente agradou. Sua Eminencia, que é um poliglota dis- tinto, durante a sua estada no Porto de- monstrou falar corretamente não só o in- glez, como tambem o hebraico, o francês e o ladino. A sua Eminencia bem como a sua Ex- celentíssima espoza os maranos do Porto testemunharam a simpatia de que eles se tornaram dignos.
N.º 048, Tamuz 5692 (Jul 1932)
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