6 HA-LAPID ================================================= O ministro de Deus quere-nos fazer compreen- der que Israel depois de ter perdido o seu reino e a sua autoridade não mais será reconhecido. Tõdos duvidarão da sua grandeza passada. Sem pátria, es- passo por tôda a terra, desprezado de tôdas as na- ções, quem poderá dizer que a sua geração foi tão ilustre, que foi o povo escolhido de Deus, que foi êle que Deus teve em vista na criação do mundo interro- gai o vosso pai, e ele vos dirá, enterrogai os vossos avós e êles vos instruirão. Quando o Mui Alto fez a divisão dos povos. quando separou os filhos dos ho- mens, marcou os limites de cada povo pelo amor dos filhos de Israel; que prodigiosa metamorfose! pode reconhecer-se êste povo sob uma ligura rastijante e tão pouco semelhante ao seu antigo explendor. Nada na mais certo do que a terra dos judeus significar a terra de Israel. David no-lo faz ver duma maneira tão clara que é impossivel duvidar disso; eu creio ver os bens do Senhor na terra dos vivos .. eu irei deante do Senhor na term dos vivos etc. Ezequiel chama a jesusalém a terra dos vivos, ela é assim chamada porque quando Israel os possuía aí levava uma vida espiritual. Sacrificios contínuos que oferecia a Deus produziam efeitos que se enviam com o seu creador. O mesmo povo não mais pode oferecer a Deus os seus holocaustos porque não os quer receber senão na cidade santa que por este privi- légio particular deve designar-se por terra dos vivos. Eu tenho-o ferido por causa do meu povo. Eu tenho já feito ver que para aplicar estas palavras ao Messias tomava-se o singular pelo plural como está no texto sagrado; com efeito para traduzir exacta- mente necessário seria dizer eu os tenho ferido e não eu o tenho ferido. Todos os autores cristãos que sa- bem o hebreu confessam que a sua versão é inexacta a éste respeito, deviam pois ter dado uma razão es- sencial da alteração que fizeram a-fim-de que ninguém ignorasse a verdadeira lição do texto e as razões que tiveram para se afastar duma matéria em que se não pode torcer muito a fidelidade, pois que a mais leve mudança basta para dar lugar a opiniões opostas e por consequência a questões, a cismas, a ódios e a dissenções sempre funestas nos estados em que elas se levantam. Os interpretes de que falo dizem bem que não é o unico ponto da escritura em que isto é permitido: como por exemplo nesta passagem, fize- ram um idolo e humilharam-se deante dêle. Esta particula, dizem êstes interpretes, está no plural e os judeus como nós o explicam no singular; assim neste versiculo deve ser tomada no mesmo sentido, e por esta bela razão julgam ter provado suficiente- mente que é do Messias que o Profeta fala. Este sub- ter fugio é muito mal estabelecido; em primeiro lugar é necessário ler também o ponto que êles citam; êles fizeram um idolo e humilharam-se deante déles. Ainda que pareça que está contra as regras da gramática em que o adjeclivo deve sempre concordar com o subs- tantivo, ha todavia muitos pontos no texto sagrado em que se encontram estas espécies de faltas grama- ticais, como por exemplo nêste; e todo o povo de Israel se reuniram. Em lugar de dizer se reuniu, e tôda o povo disseram, o teu povo são todos santos em lugar de dizer é tudo santo. Mas isto sucede ape- nas quando o número não é singular. Um povo com- põe-se duma multidão de individuos; e neste caso o texto sagrado confunde o singular com o plural. Quando se diz idolo quere-se referir a tôdas as espé- cies de idolos. Os cristãos sabem bem que o Senhor os proíbe todos. Mas concedamos aos Doutores cristãos que deve traduzir-se eu o tenho ferido e não eu os tenho fe- rido, que consequência podem êles tirar deste par- tido? Até ao sexto versiculo são as nações que falam não são introduzidas no resto do capitulo. O Profeta lamenta unicamente as misérias do povo e anuncia coisas que as nações não poderiam crér nem conce- ber; como se vê nos versículos décimo, um decimo e duodécimo do mesmo capitulo. Isaías depois de ter profetisado as desgraças do povo de Israel dá a razão do castigo_ rigoroso que éste experimenta e faz ver que é mui justamente que Deus aflige o seu povo escolhido. Diz que é porque êste povo se revoltou contra Deus e que foi ingrato. José diz que no tempo do segundo templo o povo de Israel cometia crimes tão grandes que era impos- sivel que êles ficassem impunes. Moisés pedisse éste tratamento no seu cantico: o nosso Profeta o confir- ma. "Abandonaram o Senhor, blasfemaram contra o Senhor de Israel. A-inda que eu vos fira, vós juntais pecados sobre pecados, tôda a cabeça está enfraque- cida e torto o coração está abatido: desde a planta do pé até á cabeça é apenas ferida, contusão, uma chaga inflamada a que se não tem podido dar remédio. Eis a maneira como êste povo ingrato deve ser castigado. O Profeta serve-se das mesmas expressões neste capítulo de que se serviu no quinquagéssimo terceiro e é o que prova evidentemente que é de Israel que êle fala; como ninguem ignora que o Senhor chama a Israel o seu povo, mesmo no tempo em que está irritado contra êle, é inutil citar as passagens que provam esta verdade. VERSICULO NONO Ele dará os maus para sua sepultura e os ricos na sua morte O povo de Israel perseguido sem cessar pelas na- ções, oprimido de males e de miserias levava uma vida tão miserável que se assemelhava a um verda- deiro morto. E' isto que faz dizer ao profeta que se- ria sepultado entre as nações, ue não gosaria mais desta vida espiritual desde que osse expulso da terra dos vivos. Ezequiel diz que a casa de Israel deve con- tar-se como morta e enterrada quando está fóra da sua patria, e com. o rico na sua morte. O sentido literal dêste versículo é evidentemente que o povo de Israel sem reino, sem governo e ba- nido da terra santa. seria privado da vida espiritual que o Senhor lhe comunicava na sua pátria, que se- na sepultado como se estivesse morto entre os maus e que ao mesmo tempo os ricos lhe fariam sofrer pela sua tirania a morte até ao tempo da redenção. Porque éle não cometeu iniquidades e porque não saiu embuste da sua bôca. Dir-se á a principio que estas palavras estão em contradição com as do versiculo antecedente. E' bem certo que Israel sofreu a cruel ferida do seu cativeiro, para punição dos pecados enormes que cometeu, como pode pois o Profeta dizer que não cometeu iniqui- dade, que não saiu embuste da sua bôca? Ele não o condenou tão cedo por criminoso como o absolveu por inocente. Não ha portanto contradição alguma nestas palavras, nada é mais fácil do que conciliá-las. Israel culpado perante Deus, deve ser punido, pa- gou ao seu benfeitor com a mais negra ingratidão. Com relação ás nações, êle está inocente, não lhe fez jamais mal algum e não pode ter sido castigado se não com injustiça, ele não as enganou jamais. Com
N.º 051, Kislev 5693 (Dez 1932)
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