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Ha-Lapid הלפיד


N.º 051, Kislev 5693 (Dez 1932)







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                   HA-LAPID                     7
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que direito pode ele ter-lhes merecido o seu odio, o
seu desprezo e a sua perseguição? A sua bôca jamais
se abriu para lhes fazer o menor dano. Estranho en-
frentamento de toda a terra que mal trata um povo
desgraçado porque êle segue com uma constancia so-
brenatural as leis e os mandamentos do Senhor.

O cristianismo estabelece os mais sólidos funda-
mentos da sua religião sobre as palavras deste santo
Profeta. Pretende provar que elas não poderiam veri-
ficar-se a respeito de Israel que cometeu os mesmos
pecados antes e depois do seu cativeiro. A sua bôca
enganou o mundo do seu tempo. Tem sido desde a
sua origem sugeito a todas as fragilidades humanas,
êle próprio o confessa, êle pede a Deus perdão dos
seus pecados, implora a sua misericordia e pede-lhe
para o livrar do seu cativeiro. Mas Se os autores
cristãos quizessem consultar o texto sagrado, rapida-
mente encontrariam a solução dêste argumento sem
que lhes ficasse a menor dúvida a tal respeito. David
muito antes de Isaías tinha predito falando do povo
cativo e esparso entre todas as nações, todas as misé-
rias ás quais o povo de Israel seria exposto para ex-
piação dos seus pecados Depois de ter cantado todas
as graças que o Senhor the fazia outrora. ele
acrescenta "vós nos fizestes servir de exemplo ás na-
ções, elas teem sacudido a cabeça, olhando-nos. Eu
tenho deante dos olhos todos os dias o minha confu-
são e a vergonha que tenho no meu rosto cobre-me
inteiramente, quando escuto a vós daquele que me
oprime com as suas censuras e quando veio o meu
inimigo e meu perseguidor. Todos os males cairam
cairam sobre nos e nós vos temos esquecido, e nós
não temos cometido iniquidade contra a vossa aliança.
O nosso coração não recuou e não estamos afastados
do vosso caminho".

David nos mostra neste salmo que nada foi capaz
de abalar o povo de Israel e de fazer-lhe abandonar o
culto do Senhor. Que os opróbios, as misérias, e cati-
veiro triais duro, numa palavra todos os mais sevéros
castigos de que êle quiz servir-se para o castigar pe-
las mãos dos gentios, nada o afastou da observancia
da santa lei que segue sempre com a mesma constân-
cia. Se estas palavras sairam da bôca do Profeta Rei,
que impossibilidade ha em que Isaías as repita? Se
David canta que não houve iniquidade e Israel pelo
que respeita á aliança contratada com o seu Deus,
porque não pode Isaías afirmar qite não houve iniqui-
dade em Israel nem trapaça na sua bôca contra as na-
ções Os Doutores cristãos não discordam desta ver-
dade, e Nicolau de Lira diz que e' dos Romanos que
David fala nêste salmo.

E' portanto necessário saber em que sentido
David e Isaías justificam o povo de Israel tanto
quanto ele e' pecador e quando é causa dos seus pe-
cados pelos quais Deus o castiga. Ninguem o escusa
dêstes pecados que são inseparáveis da fragilidade hu-
mana e não são aqueles que lhes teem acarretado as
penas que as nações lhe teem infligido: não é pelos
seus latrocinios nem pelos seus assassinatos nem pe-
las suas traiçõcs que elas o abandonam, é por causa
da sua constância na observância na lei divina.

Os cristãos chamam a esta firmésa obstinação e
teimosia. Os pagãos opriman éste povo desgraçado
porque ele desprezava as divindades que êles adora-
vam: os judeus são impios, diz Plinio, desprezam os
nossos deuses. Tácito não os esquece. Diz que tudo
o que as outras nações reverenciam como divino os
judeus o desprezam com profano, e que é por esta
razão que o Persas, os Arabes, e as outras nações os



maltratam tôdos e os perseguem. Isto não os impede
de seguir a lei que seus pais receberam na montanha
do Sinai, tanto quanto o tempo e os lugares lho pre-
mitem. Tudo conspira contra Israel e o trata como
sacrilego. Quere persuadir-se-lhe que a lei que segue
não deve ser eterna, que teve o seu tempo e que deve
dar lugar á nova. Mas tôdas as perseguições, tôdos
os tormentos que lhe teem feito sofrer não puderam
faze-lo mudar. Não pode crêr quea obra de Deus
dada na montanha do Sinai repetida palavra por pa-
lavra sem alteração alguma na montanha de Horeb seja
imperfeita e que tenha deixado o seu povo durante
tantos séculos na observância duma lei na qual éle
tenha feito em seguida alterações tão consideraveis
que a custo se pode reconhece-la. As nações não teem
portanto razão alguma para querer destruir o povo
de Israel se não é outra mais do que a dêle sustentar
que as obras de Deus são perfeitas e devem durar
tôda a eternidade. E' o que excita os lamentos de
David e a sua piedade para um povo que é o muito
do mundo, porque não quer seguir os êrros, e adora
o verdadeiro Deus com uma firmesa adimravel, é
também o que o Profeta Rei louva.

              VERSICULO DÉCIMO

    E o Senhor o quiz quebrar; êle o tornou
    doente. Se êle entrega a sua alma ao
    pecado verá a sua geração, os seus dias
    serão prolongados e a vontade do Senhor
    prosperará nas suas mãos.

As expressões deste versículo são tão claras que
não poderiam explicar-se melhor. Referem-se tão bem
ao precedente que e' inutil juntar-lhes seja o que for.
E' o povo que foi ferido da colera de Deus; a sua in-
dignação tomou-o doente e a sua bondade infinita
dá-the os meios de curar-se dos seus pecados. Apesar
da sua teimosia os cristãos não poderiam aplicar a
Jesus Cristo nenhuma das palavras deste Versiculo.
Morreu na mais tenra idade: jamais se soube que ti-
vesse sucessores, e por consequência não viu a sua
geração, e bem longe de que a vontade do Senhor
tenha prosperado nas suas mãos, tôdas as suas acções
foram directamente opostas á vontade divina. Prégou
uma doutrina contrária à lei: não guardou o dia de
Sábado com o repouso ordenado no decálogo; numa
palavra obrigou éste augusto Sanhedrim a condená-lo
como violador da lei e como sedutor do povo que
teve a fraqueza de o escutar. Não é pois dêle que fala
Isaías, é do povo de Israel que se esforça pela sua
obediência aos decretos divinos por chegar ao feliz
termo da sua profecia. Quando Deus diz no Genises
ao Patriarca Abraão que êle verá a sua descendência
multiplicada como as estrelas que estão nos ceus e
como a areia do mar que não poderia contar-se;
quando o anjo anuncia a Israel que multiplicará tanto
e tanto a sua descendência que lhe será impossivel
conta-la, é para lhes fazer conhecer a duração da sua
geração. O Senhor lhes conceda descendentes e uma
vida muito longa a-fim-de que êles veiam os efeitos
das suas divinas promessas. Quando o Profeta anun-
cia a Israel um Messias indica-lhe tôdas as qualidades
que éste deve ter. A sua vida não deve acabar na
idade de 33 anos e deve ser naturalmente mais longa,
deve governar o povo e não morrer por êle; talvez
mesmo não tenha ainda começado a reinar nessa
idade. Isaías sómente pois podia falar ao povo. é a


 
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