HA-LAPID 7 ================================================== que direito pode ele ter-lhes merecido o seu odio, o seu desprezo e a sua perseguição? A sua bôca jamais se abriu para lhes fazer o menor dano. Estranho en- frentamento de toda a terra que mal trata um povo desgraçado porque êle segue com uma constancia so- brenatural as leis e os mandamentos do Senhor. O cristianismo estabelece os mais sólidos funda- mentos da sua religião sobre as palavras deste santo Profeta. Pretende provar que elas não poderiam veri- ficar-se a respeito de Israel que cometeu os mesmos pecados antes e depois do seu cativeiro. A sua bôca enganou o mundo do seu tempo. Tem sido desde a sua origem sugeito a todas as fragilidades humanas, êle próprio o confessa, êle pede a Deus perdão dos seus pecados, implora a sua misericordia e pede-lhe para o livrar do seu cativeiro. Mas Se os autores cristãos quizessem consultar o texto sagrado, rapida- mente encontrariam a solução dêste argumento sem que lhes ficasse a menor dúvida a tal respeito. David muito antes de Isaías tinha predito falando do povo cativo e esparso entre todas as nações, todas as misé- rias ás quais o povo de Israel seria exposto para ex- piação dos seus pecados Depois de ter cantado todas as graças que o Senhor the fazia outrora. ele acrescenta "vós nos fizestes servir de exemplo ás na- ções, elas teem sacudido a cabeça, olhando-nos. Eu tenho deante dos olhos todos os dias o minha confu- são e a vergonha que tenho no meu rosto cobre-me inteiramente, quando escuto a vós daquele que me oprime com as suas censuras e quando veio o meu inimigo e meu perseguidor. Todos os males cairam cairam sobre nos e nós vos temos esquecido, e nós não temos cometido iniquidade contra a vossa aliança. O nosso coração não recuou e não estamos afastados do vosso caminho". David nos mostra neste salmo que nada foi capaz de abalar o povo de Israel e de fazer-lhe abandonar o culto do Senhor. Que os opróbios, as misérias, e cati- veiro triais duro, numa palavra todos os mais sevéros castigos de que êle quiz servir-se para o castigar pe- las mãos dos gentios, nada o afastou da observancia da santa lei que segue sempre com a mesma constân- cia. Se estas palavras sairam da bôca do Profeta Rei, que impossibilidade ha em que Isaías as repita? Se David canta que não houve iniquidade e Israel pelo que respeita á aliança contratada com o seu Deus, porque não pode Isaías afirmar qite não houve iniqui- dade em Israel nem trapaça na sua bôca contra as na- ções Os Doutores cristãos não discordam desta ver- dade, e Nicolau de Lira diz que e' dos Romanos que David fala nêste salmo. E' portanto necessário saber em que sentido David e Isaías justificam o povo de Israel tanto quanto ele e' pecador e quando é causa dos seus pe- cados pelos quais Deus o castiga. Ninguem o escusa dêstes pecados que são inseparáveis da fragilidade hu- mana e não são aqueles que lhes teem acarretado as penas que as nações lhe teem infligido: não é pelos seus latrocinios nem pelos seus assassinatos nem pe- las suas traiçõcs que elas o abandonam, é por causa da sua constância na observância na lei divina. Os cristãos chamam a esta firmésa obstinação e teimosia. Os pagãos opriman éste povo desgraçado porque ele desprezava as divindades que êles adora- vam: os judeus são impios, diz Plinio, desprezam os nossos deuses. Tácito não os esquece. Diz que tudo o que as outras nações reverenciam como divino os judeus o desprezam com profano, e que é por esta razão que o Persas, os Arabes, e as outras nações os maltratam tôdos e os perseguem. Isto não os impede de seguir a lei que seus pais receberam na montanha do Sinai, tanto quanto o tempo e os lugares lho pre- mitem. Tudo conspira contra Israel e o trata como sacrilego. Quere persuadir-se-lhe que a lei que segue não deve ser eterna, que teve o seu tempo e que deve dar lugar á nova. Mas tôdas as perseguições, tôdos os tormentos que lhe teem feito sofrer não puderam faze-lo mudar. Não pode crêr quea obra de Deus dada na montanha do Sinai repetida palavra por pa- lavra sem alteração alguma na montanha de Horeb seja imperfeita e que tenha deixado o seu povo durante tantos séculos na observância duma lei na qual éle tenha feito em seguida alterações tão consideraveis que a custo se pode reconhece-la. As nações não teem portanto razão alguma para querer destruir o povo de Israel se não é outra mais do que a dêle sustentar que as obras de Deus são perfeitas e devem durar tôda a eternidade. E' o que excita os lamentos de David e a sua piedade para um povo que é o muito do mundo, porque não quer seguir os êrros, e adora o verdadeiro Deus com uma firmesa adimravel, é também o que o Profeta Rei louva. VERSICULO DÉCIMO E o Senhor o quiz quebrar; êle o tornou doente. Se êle entrega a sua alma ao pecado verá a sua geração, os seus dias serão prolongados e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. As expressões deste versículo são tão claras que não poderiam explicar-se melhor. Referem-se tão bem ao precedente que e' inutil juntar-lhes seja o que for. E' o povo que foi ferido da colera de Deus; a sua in- dignação tomou-o doente e a sua bondade infinita dá-the os meios de curar-se dos seus pecados. Apesar da sua teimosia os cristãos não poderiam aplicar a Jesus Cristo nenhuma das palavras deste Versiculo. Morreu na mais tenra idade: jamais se soube que ti- vesse sucessores, e por consequência não viu a sua geração, e bem longe de que a vontade do Senhor tenha prosperado nas suas mãos, tôdas as suas acções foram directamente opostas á vontade divina. Prégou uma doutrina contrária à lei: não guardou o dia de Sábado com o repouso ordenado no decálogo; numa palavra obrigou éste augusto Sanhedrim a condená-lo como violador da lei e como sedutor do povo que teve a fraqueza de o escutar. Não é pois dêle que fala Isaías, é do povo de Israel que se esforça pela sua obediência aos decretos divinos por chegar ao feliz termo da sua profecia. Quando Deus diz no Genises ao Patriarca Abraão que êle verá a sua descendência multiplicada como as estrelas que estão nos ceus e como a areia do mar que não poderia contar-se; quando o anjo anuncia a Israel que multiplicará tanto e tanto a sua descendência que lhe será impossivel conta-la, é para lhes fazer conhecer a duração da sua geração. O Senhor lhes conceda descendentes e uma vida muito longa a-fim-de que êles veiam os efeitos das suas divinas promessas. Quando o Profeta anun- cia a Israel um Messias indica-lhe tôdas as qualidades que éste deve ter. A sua vida não deve acabar na idade de 33 anos e deve ser naturalmente mais longa, deve governar o povo e não morrer por êle; talvez mesmo não tenha ainda começado a reinar nessa idade. Isaías sómente pois podia falar ao povo. é a
N.º 051, Kislev 5693 (Dez 1932)
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