N.° 51 PORTO - Kislev de 5693 (Dezembro 1932) ANO VII
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Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos e
para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | aponta-vos o ca-
busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | minho.
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BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH
(HA-LAPID)
Órgão da Comunidade Israelita do Porto
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DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARIO DO PORTO, Lda
REDACÇÃO-Rua Guerra Junqueiro, 340-Porto || Rua de S. Bento da Victoria, 10
(Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) || ---------------- P O R T O ----------------
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Os Maranos da Holanda no seculo XVIII
Segundo o testeminho do Cavaleiro d'Oliveira
A orçar pelo ano de 1734, em que pas-
sei á Holanda e onde quedei desde 1740 a
1744, para vir habitar em Londres, onde
me tenho conservado desde então, tive oca~
sião de coligir muitas e variadas provas das
torpezas cometidas pelo negregado tribunal
do Santo-Oficio. Em boa verdade, depara-
ram-se-me judeus que não tinham pejo em
confessar haverem saido de Portugal pela
impossibilidade em que estavam de, sem
perigo, praticarem a lei mosaica, que tinham
recebido com o leite.
Mas quantos miseraveís não encontrei,
em Amsterdão, sobretudo, que, depois de
haverem padecído toda a casta de torturas
nos cárceres da Inquisição sob pretexto de
judaismo deixaram Portugal, no pavor de
serem recapturados? Quantos destes se não
retiraram para a Holanda, carregados de
bentinhos e relíquias de santos, de rosário
na mão a procurar pelas ruas onde é que se
ouvia missa?
Podem exigir-se provas mais eloquentes
da fidelidade dos pobres homiziados á lei
em que foram creados, e que só o temor
da perseguição deu aparencias de apóstatas
ou judaizantes?
A par dos que perseveram na religião
católica, alguns mesmo no que ela tem de
mais inflexivelmente papista, outros, é cer-
to, abraçaram o judaismo.
Mas, fazendo-o, não foi por selecção da
fé ou conhecimento antecipado de credo
mas por necessidade. Apertados pela fome
pelos rigores da terra, por toda uma misé-
ria insuportável, condescenderam em pro-
fessar numa religião onde reina um espirito
confraternal que lhes mitiga as agruras
dificuldades da nova vida.
-Se houvesse missa todos os sabados
na Sinagoga,-dizia-me em Amsterdão um
destes exilados que recebera a circuncisão
havia dois anos-não me desagradava nada
a nova religião; mas sem missa não me
sinto á vontade. Quanto ao meu Santo An-
toninho, nunca me heide separar dêle.
E mostrou-me uma imagem esculpida do
santo que conservava com muita devoção.
Factos desta ordem, incontestaveis, de
viam cobrir de vergonha e confusão os in-
quisidores de Portugal.
Mais duma vez tenho lido em escritores
estrangeiros que o Rei de Portugal é um
instrumento submisso da Inquisição. (
meus desmentidos não encontravam credito
A ordenança que S. M. acaba de publico
fala mais alto que a minha argumentação
Por ela claramente fica estabelecido que
El-Rei não abdica do seu poder absoluto
em julgar em ultima causa, dos seus subdi-
tos, sem exceptuar os ministros do Santo-
-Oficio.
N.º 051, Kislev 5693 (Dez 1932)
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