2 HA-LAPID ============================================ nário, o oficial superior, o grande indus- trial e o grande agrário consideravam como uma honra o ser introduzidos nos meios intelectuais. financeiros e industriais Judeus, o ser admitidos na sua intimidade E a aristocracia cultivada conservava relações seguidas com os Judeus. Pode dizer-se que em geral a Alemanha nacionalista, já não era praticamente inimiga dos Judeus; po- der-se há quási afirmar o contrário. Em todos os casos as brutalidades e as perseguições anti-judaicas pareciam fora do costume ordinário e de mau gôsto. Depois da guerra, o ódio contra os Ju- deus estava completamente banidu Fala- va-se mesmo dar aos Judeus a possibili- dade de entrar no partido nacional. E no "Herreuklub", o famoso e exclusivo "Her- reuklub", encontravam-se hospedes bem acolhidos, de iminentes Judeus da bôa so- ciedade, do mundo das finanças, do comér- cio, das ciências, das letras, das artes. O ódio contra os Judeus, nas suas formas grosseiras e crueis, não ressuscitou senão pelo partido nacional-socialista o que não surpreende os que conhecem o programa de furiosa violência e o brutal e selvagem método de propaganda dos Nazis Com- preende-se então como foi possivel enfure- cer o povo alemão, de ordinário tão mes tre dêle. de o impregnar de idêas sanguí- nárías. Método duro, implacável que não se preocupa com a verdade. O vocabulá- rio político não é mais que uma colecção de mentiras ás quais se ajuntam cantos de ódios, apelos á violência, mesmo ao homi- cidio. Sem descanço se ataca o Judaísmo; sem descanço se fazem cair sobre êle tôdas as responsabilidades. As secções de assalto e os camisas castanhas lançam os seus ru- des cantos, dos quais um dos estribilhos é, por exemplo: "Nós homos os Judeus em papas". (Nós esborrachamos os Judeus). O grito de guerra habitual é, como se sabe: "Alemanha desperta! Judeu arrebenta" (juda verrecke!) e quando o "Judeu arre- benta" é abandonado durante algum tempo, é em breve retomado com o dôbro de vio- lência. O grito "hep-hep" introduz se nos cantos e clamores da rua. E' soltando este grito que os Nazis perseguem os Judeus, os assaltam e os sovam. Não há como ler a literatura nacional- socialista para compreender como se pode transformar as massas em rebanhos de ani- mais selvagens, mudar espiritos cultivados em cérebros bárbaros. Nos seus "Dez mandamentos do nacio- nal-socialismo", Goebbels escrevia: -Tu di- zes que o Judeu é um homem, eu respon- do-te que a pulga é um animal, mas um animal desagradável, e da mesma maneira que se deve esmagar a pulga, se deve es- magar o Judeu" Semeado num, terreno tão infame, não é surpreendente que o ódio contra os Ju- deus produzisse semelhantes frutos. Foram em primeiro lugar os novos que se torna- ram anti-semitas, os empregados dos Judeus, os fornecedores dos Judeus, todos os que aproveitavam os Judeus, mas que deseja- vam vingar-se dêles, porque lhes eram in- feriores no ponto de vista social, econó- mico e intelectual. Depois foram os cam- poneses, os pequenos proprietários rurais, quási todos estupidamente individados, e a quem haviam dito. que só a "Républica dos Judeus, era responsável por todo o mal Em breve se juntaram a êles os que perderam as posições. os despojados do antigo império e da antiga armada, os ofi- ciais baixados do lugar, os militares inferio- res Depois vem a "nova geração" a que agora tem 14 a 25 anos, os jovens que, no fim da guerra não eram ainda senão crean- ças. Por todos estes homens que não atingi- ram ainda a sua maturidade, mas que estão já avidos de acção, o ódio contra os Judeus foi fácilmente admitido, porque tudo que tem o nome de ódio, violência, é rapida- mente aceite pela nova geração alemã. Eis a base sobre a qual assentará o ódio contra os Judeus. Daí lançar se-há e estenderá os seus ra- mos para as camadas superiores. Muitos jovens rasoáveis se deixaram arrastar com mêdo que lhe censurassem o anti-naciona- lismo Nacionalismo e ódio contra os Ju- deus tornaram-se uma e a mesma fórmula Compreende-se agora a violência em- pregada pelo Terceiro Reich contra os israelitas. Tôdas as outras promessas de Hitler e dos seus tenentes não poderam até agora ser mantidas e não poderão sê-lo daqui para diante. A presa a lançar á malti- lha foi e é o Judaísmo. Os Nazis fazem montaria aos sábios, aos médicos, aos advogados, aos actores aos escritores, aos pintores e aos músicos; êles perseguem e
N.º 056, Lyar 5693 (Mai 1933)
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