HA-LAPID 5 ======================================== As perseguições e violências que o povo judeu tem sofrido, com heroíca abnegação, desde que perdeu a sua nacionalidade, é um dos maiores dramas que a história re- gista em páginas onde a dor e o martírio estão impressos. pondo-lhe aqui e ali laivos de sangue, gemidos de vítimas, desesperos de almas torturadas e aspirações desfeitas de corações flagelados pela desgraça que esvoaçava das cinzas dos cadáveres enguli- dos pelas fogueiras sinistras da Santa In- quisição, para supremo prazer do cruel fa- natismo da época e preversos instintos de exallados intolerantes realengos e fradescos. Acusado de deicida, o povo de israel sofre, há cerca de dois mil anos, o opróbio de haver condenado à morte, pregando num madeira em fórma de cruz, um homem que se dizia um enviado de Deus, anteriormente anunciado pelas profectas em seus horósco- pos, e a quem pelas suas virtudes incom- paraveis, saber e humildade, a consciência universal classificou de inocente, fazendo, por isso mesmo, pesar sôbre um povo in- teiro o estigma duma maldição estupida, como se o própria Jesus e sua família não fôssem da mesma ascendencia dêsse pôvo que, depois do proscrito da sua pátria, se espargiu pelo mundo e sem que o rolar dos séculos degenére as suas essenciais caracte- risticas étnicas, a sua índole activa e labo- riosa, os seus costumes e as suas tradições, tam puras no seu atavismo transmissor, aparte uma infima minoria que se deixou submeter às coacções impostas pelos reis fanáticos do século XVI e XVII e que se foi adaptando as circunstâncias materiais e re- ligiosas mais instantes e grosseiras, traindo assim a sun raça, por medo uus-o que até certo ponto se compreende -- e por con- veniência outros-o que se não justifica por nenhum principio nobremente humano. Entretanto o mundo foi rolando na senda fatal da civilização: reis e imperadores de direito "divinos" viram ruir os seus tronos para darem o lugar aos govêrnos do povo. Com êstes surgiu a fatal transformação das leis e dos costumes, o que modificou completamente a mentalidade e a idiosin- cracia das multidões. Estabelecida a liberdade de consciência, depressa cessaram as perseguições religio- sas, cujas vitimas eram judeus, mouros e protestantes, de preferência, porque eram ricos, principalmente os primeiros, e as suas riquezas aguçavam a cubiça dos te- souros reais exaustos por dispêndios fabu- losos em obras de inútil piedade. Quer diz r'- a guerra aberta contra a "heresia" do judaismo não tinha verdadeiramente o fim de "depurar" as almas pelo fôgo, mas sim um meio de extorção, para não dizer uma guerra de pilhagem e bandoleirismo medie- val, que era o de facto! Estas considerações vem a propósito das recentes manifestações anti-semitas que os "nazís" ou sejam os fascistas alemães, desencadearam em tôda a Conderação Ger- mânica, prendendo, enxovalhando e até assassinando milhares de judeus seus com- patriotas, com uma fúria tal que nós temos a convicção de que a Alemanha operou um movimento de récuo, dando-nos, por conse- guinte, a impressão da sua decadência mo- ral, já agora tão evidente com os actos de barbarismos ali postos em prática por hor- das de desvairados, que gozam de benevo- lência e protecção oficiais. Taís perseguições provocaram em todo o mundo um movimento de justificada re- pulsa, mesmo até entre os católicos da América e da França, êstes pela pena do arcebispo de Paris, cardial Verdier, que não exitou em escrever ao grande rabino da co- munidade judaica francesa, protestando con- tra as violências exercidas sôbre os judeus alemães. Hitler, o inspirador da campanha do anti-semitismo alemão, sofreu a sua primei- ra derrota moral, pois, medindo o perigo da revolta da consciência universal e as conseqüências desastrosas que isso acarre- taria à economia do Reich, deu ordens para a suspensão da campanha. Antes assim. Mas apesar dessas ordens, a má vontade contra o povo judeu ainda se manifesta com ruidosa loucura. Muitos his- raelitas, para estarem a coberto de quais- quer eventualidades desagradáveis, procu- ram azilo no estrangeiro que, solicito, lhes oferece hospitalidade, pois, sôbre ser um
N.º 056, Lyar 5693 (Mai 1933)
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