6 HA-LAPÍD ========================================= Os antepassados da Ma- rinha francesa Os Gradis do Bordeus A historia não é feita somente de faça- nhas guerreiras e de conquistas. O comercio que se estende, a prosperidade que cresce a influencia que irradia, a conquista dos mer- cados exteriores, tudo isto é a base da histo- ria dum pais, e a vida das grandes famílias é indispensavel ao conhecimento da nossa historia geral Oito gerações de armadores A família Gradis, oriunda de Portugal, estabeleceu-se em Bordeus no século XVII (1.°). Os Gradis não eram, apenas pequenos comerciantes. No fim do reinado de Luis XIV., Samuel Gradis fundou, com seu filho Benjamin, uma casa de armamento, sôb a firma "Gradis pai & filho" para traficar com as ilhas da América, isto é, para trocar arti- gos de pacotilha por productos coloniais. Em 1732 a frota dos Gradis era de seis navios dos quais o mais importante era le parfait, duma capacidade de 450 toneladas. Abraham Gradis armador do rei De 1744 a 1780 a historia da frota co- mercial dos Gradis está ligada á História de França, à das guerras marítimas com os Ingleses- A pirataria infestava os mares mesmo fora do tempo de guerra, e os navios de co- mercio eram todos obrigatoriamente armados de canhões. Uma rude tarefa Os armadores que organisavarn expedições por conta de França faziam todos os adianta- mentos e não eram reembolçados senão do preço do frete das operações. Era-lhes pre- ciso contar não sómente com os riscos da presa mas com a enercia do rei e a incapaci- dade dos ministros (2.°): a falta de crédito e e defesa de organisação. Durante a Guerra de Sete Anos (1756-1763) "Abraham Gra- dis, disse Camille Jullian, pareceu proteger e representar a França mais que a própria realesa". A grande expedição de 1758 á nova Fran- ça compreendia quatorze navios armados por Gradis. Apenas um destes navios, o Ninfa voltou a Bordeus; os outros treze perderam- -se por captura ou naufragío. Gradis não fo¡ inteiramente pago dos seus adiantamentos senão em Dezembro 1760. Jamais contudo, êle conheceu o azedume ou o desencorjamento. O pai da Marinha Um dia, no decorrer duma audiencia no gabinete de Berryer de Ravenoville, ministro da Marinha em 1759 os oficiais de marinha, presentes prestaram homenagem espontanea- mente a Gradis e declararam ao ministro que ninguem tinha prestado tantos serviços ao Estado. Este testemunho excecional de aristocratas a favor de um negociante israe- lita para mostrar em que consideração Gra- dis era tido pelos oficiais. Um deles M. de Bauffremont, alguns anos depois escrevia-lhe numa carta: "Vós sois o pai da Marinha". Choiseul e Gradis Gradis tinha sabido conquistar a estima de todos, tanto pela rectidão e pela sua bon- dade como pela sua grande habilidade. De 1763 a 1780 ele torna-se o grande fornece- dor das nossas colonias. Choiseul, ministro da marinha de 1761 a 1766 tinha nele a maior confiança do que deu várias cartas ilogiosas e a importancia crescente das missões das quais Gradis foi encarregado. Os sucessores de Choiseul: Praslin. Ter- ray, de Boynes, Turgot, Sartine, não tiveram senão elogiar-se do modo como Gradis apro- visionou as nossas ilhas das Antilhas e as nossas feitorias da India. Gradis foi mesmo durante algum tempo para as remessas de ouro ás Antilhas o as- sociado de Beaumarchais, o pai do imortal Figaro. Em honraria Abraham Gradis era tratado como igual pelos grandes fidalgos. O duque de Recelien
N.º 066, Elul 5694 (Ago 1934)
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