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N.º 076, Tishri 5697 (Set 1936)







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A ciência perante a ideia de Deus

                         por Norberto A. Moreno

Já fizemos referência nas páginas deste jornal ao
papel dos sábios perante a existência de Deus, base
comum de todas as religiões.

Um opúscuio editado pela Biblioteca Popular Inti-
tulado "Sábios e Crentes" que, casualmente, nos veio
às mãos trouxe-nos a lembrança de aqui arquivar mais
algumas palavras a tal respeito.

Para isso foi-nos de muita utilidade o referido
opúsculo, bem como o livre "A ideia de Deus segundo
a razão e a ciencia" de Alberto Farges.

Este escritor ocupa aproximadamente 600 páginas
para dar uma lista de intelectuais de todos os tempos,
não dedicando a cada um mais que três ou quatro
linhas. E, contudo, seria uma loucura pretender que
a lista fôsse completa, tão numerosos foram os crentes
na existência de Deus.

Posto isto, vamos invocar, usando de preferência
palavras dos próprios, essa pleiade ilustre que, pelas
suas grandes descobertas, maravilhou o mundo.

SÁBIOS nos SÊCULOS XVI e XVII

-Copérnico (1473-1553)-Imortalízou-se pela re-
forma cientifica que fez, guiado pela ideia da sabedo-
ria do Creador que o levou a suspeitar da falsidade
do sistema astronómico de Ptolomeu. Dizia: "A sa-
bedoria de Deus é tão grande que as complicações
extraordinárias do nosso sistema astronómico demons-
tram a sua falsidade. (Copérnico, De revoluttonibus
orbium coelestium, pref.).

-Galileu (1564-1643) -Na base dos seus trabalhos
está a ideia religiosa, convencido sempre de que, à
medida que a astronomia progredisse, aumentaria em
nossas almas o sentimento de adoração ao Creador
dos mundos (Vid. Jos. Bertrand, Les fondateurs de
l'astronomie moderne, Gailiée et ses traveaux;-Max
Parchappe, Galilée).

-Bacon (1560-1626)-Dizia: "Uma pequena dose
de filosofia natural inclina os homens para o ateísmo;
mas uma filosofia mais profunda recondu-los à relgião.
Com efeito a inteligência humana, enquanto encara
as causas segundas no seu isolamento, pode parar ai
e não ir avante; mas quando se eleva à contemplação
do estreito liame que as reune e enlaça, tem necessi-
dade de recorrer à ideia da Providência divina" (Ba-
con, seramones fideles XVI).

-Descartes (1596 1650) Faz da crença na vera-
cidade divina a base necessária da certeza filosófica, e
estabelece os seus principios de mecanica, á priori,
sobre a natureza e os atributos de Deus. (Descartes,
Principes, Part. II, § 36.39.-Le Monde, VII).

-Kepler (1571-1630) A ciencia para ele consiste
Em "repensar os pensamentos do Creador" e em pro-
curar na natureza a unidade destes pensamentos.
"Felizes, exclama ele, aqueles a quem foi concedido
elevarem-se para os céus!... 0 Senhor é grandei Ceu,
sol, lua, planetas, proclamai a sua glória, seja qual fôr
a lingua de que vos podeis servir para exprimir as vos-
sas impressões! Proclamai a sua glória, armonias ce-
lestes... E tu, alma minha, canta a glória do Eterno



durante tôda a minha existencia: (E. Naville, laphi-
sique moderne, pág. 156).

-Newton (1642-1727) A grande descoberta da
atracção universal aumentou a sua crença num Deus
(unico e soberanamente sábio. Reduziu a uma única
lei as três leis astronómicas de Kepler fazendo assim
dar à ciência um grande passo no caminho da unidade
e da simplicidade. Dizia ele: "não é uma prova de
que nos aproximamos de Deus à medida que chegamos
a leis mais simples e gerais?"

Termina os seus Principios matemáticos excla-
mando; "Um Deus sem soberania, sem providência,
e sem um fim nas suas obras, não poderia ser senão o
destino ou a natureza. Ora nenhuma variação pode-
ria provir duma necessidade metafísica cega, que é
por toda a parte e sempre a mesma. Tôda esta varie-
dade de coisas creadas segundo os lugares e os tem-
pos, que constitui a ordem e a vida do universo, não
pode ser produzida senão pelo pensamento e a vontade
de um ser, que seja o Ser por si mesmo e necessária-
mente", (Newton, Principes Mathematiques de la
philosaphie naturelle).

-Leibnitz (1646-1716) Foi o maior dos matemá-
ticos e dos filósofos alemães do século XVII. Refe-
rindo-se às leis da natureza, escrevia: "Estas leis, não
dependem do principio da necessidade, como as ver-
dades lógicas, aritméticas ou geométicras, mas do
principio da conveniência, isto é, da escolha ds sabe-
doria. E é uma das mais eficazes e mais sensíveis
provas da existência de Deus para aqueles que podem
profundar estes assuntos. (Leibnitz, Principes de la
nature, ed. Erdmnnn, pág. 716).

-Bossuet e Fenelon. Deixaram-nos dois magni-
ficos tratados da existencia de Deus. Fenelon (1651-
1715) desenvolve sobretudo as provas populares tira-
das das maravilhas do mundo. Bossuet (1627-1704),
no livro Connaissance de Dieu et de soi-même, reto-
ma a mesma prova, mas com desenvolvimento cien-
tifico mais profundo.

-Diderot (1713-1784). O seu complicado estado
de espirito levou-o e escrever no seu livro "os Pen-
samentos sôbre a interpretação da natureza, o se-
guinte: "Comecei pela natureza a que eles chamam
obra tua e acabarei por ti cujo nome sôbre a terra é
Deus- O' Deus eu não sei se tu existes, mas pensa-
rei como se tu visses na minha alma; procederei como
se tu visses na minha alma; procederei como se esti-
vesses diante de mim!...

-Valtaire (1694-1778). Trocista, leviano, ímpio,
escreveu contrdizendo-se a si próprio: "Acaso não é
o maior absurdo (o ateísmo), a mais revoltante lou-
cura que jamais penetrou no espirito do homem?
Céptico sou eu, mas esta demência parece-me evi-
dente e assim o digo. (Do seu artigo sôbre Deus).

Cita ainda:

"Enleia-me o universo! Hei-de eu pensar, enfim,
que sem relojoeiro ande um relógio assim?"

-Rouseau-Na sua profissão de fé do Vigário
de Saboya e noutros escritos, a-pesar-das suas teorias
radicais em moral e politica, defende convictamente
os dogmas da religião natural, inclusivé a possibili-
dade do milagre.


 
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