HA-LAPID 3 ========================================= 1.a Conferência Luso-Judaica Há tempos anunciamos que, por ocasião da Dedicação Solene da nossa sinagoga-cate- dral do judaísmo no Norte de Portugal, se realizaria a 1.a Conferencia Luso-Judaica. Dissemos e assim se fêz. Após o Pôrto- de-Honra oferecido pelas damas israelitas do Porto na sala da Assembleia Geral da Comunidade, se realizou a sessão única da 1.a Conferencia Luso-Judaica. Presidiu o Sr. Cap. Barros Basto, tendo à sua direita M.me Edwards e os Srs. Artur Casseres e Edwin Edwards e à sua esquerda os Srs. Paúl Goodman, Dr. Alfredo Klee e Dr. Hans Klee. Aberta a sessão o Sr. Paúl Goodman le numerosas mensagens enviadas por várias notabilidades judaicas. Em seguida usa da palavra em inglês o Sr. Artur Casseres, homenageando o Cap. Barros Basto e a sua obra: o seu discurso foi gentilmente traduzido em frances por M.me Edwards. Fala a seguir o Sr. Terlo, de Lisboa, que, começando por citar vários factos da sua biografia para demonstrar as dificuldades que tem que vencer quem se propõe a cons- truir qualquer coisa de útil aos seus seme- lhantes, associa-se à homenagem prestada ao leader dos maranos e tece elogios à hos- pitalidade portuguesa. Segue-se como orador o Dr. Alfredo Klee com a sua palavra fluente, em alemão, evoca a grande época da idade de ouro do judaísmo peninsular e incita os alemães aqui refugiados a colaborarem com a comu- nidade portuguesa na grande obra de renas- cimento da cultura judaica na terra de sepharad. Usa da palavra o Sr. Cap. Barros Basto, dizendo ter terminado a primeira parte da sua obra, sendo agora necessário consagrar tôda a actividade em se fazer a reeducação israelita das famílias de origem da nação sacerdotal da Humanidade, da nação guarda fiel do monoteísmo puro, e para esse esforço pede a colaboração das damas, para que nos seus lares conservem a fé e ritos ances- trais e entusiasmem os seus maridos e filhos a bem observá-los, seguindo assim o nobre exemplo das mulheres maranas que soube- ram, durante quatro séculos, a-pesar-de hór- ridas perseguições, conservar conforme a cultura de que dispunham, as tradições judaicas. Então o Dr. Hans Klee, na língua santa -o Hebraico, manifesta a sua satisfação pelos actos solenes a que assistiu e diz que ao afastar-se de Portugal ficará longe da vista de nós, maranos, mas que nós ficare- mos perto do seu coração. David Moreno pronuncia o discurso que já publicamos. Levy Rafael, de Belmonte, presta home- nagem de gratidão ao guia-magno dos mara- nos pelos seus esforços empregados na edu- cação dos jovens e rudes maranos da Beira, fazendo votos de que Deus lhe dê longa vida e saúde para continuar a sagrada obra. E assim terminou esta histórica sessão, à qual assistiram vários delegados maranos. ------------------------------------------- exércitos. Descreve as violências egipcias, assiro-babilónicas, helénicas e romanas para destruírem a fé israelita, o desaparecimento dessas forças e a eternidade da divina fé de Israel; termina por demonstrar que é uma honra o ser-se judeu. Finda a cerimónia com os hinos: A Por- tuguesa, Good save the King e Ha-Tikvah, ao som do órgão tocado pelo jovem Nuno Azancot de Barros Basto. Toda a cerimónia decorreu numa atmos- fera de respeito e recolhimento. Centenas de pessoas enchiam o edifício. Estavam representadas todas as crenças existentes em Portugal, havia católicos, an- glicanos, evangélicos lusitanos, metodistas, baptistas, maranos, israelitas professos, etc. a primeira vez que, depois da Inquisição, em Portugal se nota numa solenidade reli- giosa uma tão bela afirmação de paz e harmonia, onde crentes de várias confissões cristãs assistem numa atitude de fé e res- peito piedoso a um serviço litúrgico da religião-mãe das suas crenças.
N.º 085, Yiar-Sivan 5698 (Abr-Mai 1938)
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