6 HA-LAPID =========================================== A QUESTÃO JUDEO-ÁRABE E A ACTIVIDADE SIONISTA Por NORBERTO A. MORENO. É verdadeiramente grande, verdadeira- mente emotivo o que se está passando, o que há 50 anos se vem passando na Pales- tina. O sonho dos sionistas entrando a passos rápidos no campo das realidades constitui um testemunho vivo, eloqüente, do poderio da vontade humana impulsionada por uma fé e agindo segundo uma directriz bem determinada. A terra exuberante, ou melhor, a exuberáncia da terra acaba de ressuscitar. Centenas e centenas de homens, de elevado nível intelectual mesmo, tem descido ao seio dessa terra-mãe, respirando o seu hálito ardente, vivendo a sua vida simples e rude, mostrando-nos simultaneamente que a vida do campo jamais foi e jamais será despre- zível como muita gente, eivada de estúpidos preconceitos sociais, crê. São igualmente nobres o camponês, o médico ou o esta- dista, desde que a sua actividade vise o bem social. Por isso é exemplar ver braços de tôda a casta volver e revolver a terra, dissecar pântanos, transportar águas, fazer plantações, levando assim a vida e a beleza paisagística onde apenas reinava a esterilidade e a mo- notonia. Verdadeiramente nobre essa intima comunhão, essa revolucionária comunhão de homens e terras e terras e homens. E' isto e muito mais o que vem sucedendo em Eres Israel. Dia a dia a Imprensa nos traz demonstra- ções estatisticas e fotográficas dos progressos da Palestina. Juntamente, porém, nos narra acidentes tão numerosos como trágicos ali ocorridos. E maior é a nossa admiração vendo que, não obstante as dificuldades financeiras, o acanhado espaço, a aridez desse mesmo espaço e ainda a feroz oposição árabe, os progressos são extraordinários. Graças a essa oposição muitas vidas se vão para sempre perdendo. Chegam a ser arris- cadas as aventuras nocturnas por lugares solitários; umas vêzes assaltantes propondo a escolha da bolsa ou vida, outras vezes balas perfurando misteriosamente as trevas vão roubar as vidas dos transeuntes. Cousas análogas sucedem, por vezes, até nas próprias habitações. O ressurgimento vai-se, pois, efectuando num meio hostil, mas não perde parte da sua poesia. Que impressão devemos ter do árabe? A falar com absoluta franqueza, até certo ponto não deixa de nos parecer destituída de naturalidade a sua atitude. Ora anali- semos o assunto. Vejamos primeiro o que observa, o que pensa o árabe: - Há meio século eram cerca de 25.000 os judeus existentes na Palestina. Nós, en- tão, éramos chamados a colaborar com eles, empregados ao seu serviço e considerados alguém. Surgem, começam a propagar-se e a enraízar-se nos espiritos dos judeus as ideas sionistas. De todos os países partem emigrantes conhecedores da civilização oci- dental. Por toda a parte aparecem organi- zações sionistas para tratar esse problema migratório. E avalanches de judeus vão dando entrada na Palestina. A população cresce assustadoramente. Compram-se ter- ras, constroem-se cidades, vilas e aldeias em que o modernismo impera, em que abundam reflexos duma civilização que destoa no meio. Constroem-se escolas, hospitais, instituições de beneficéncia, universidades, bibliotecas, etc., etc. O empregado árabe do judeu. desaparece, porque eles, judeus, auxiliam-se mutuamente. As escolas são freqüentadas por judeus, nos hospitais recolhem-se judeus, as instituições de beneficência aproveitam aos judeus, as universidades e bibliotecas são para uso dos judeus. Para nós fica apenas a indiferença ou o desprezo. -Podia o árabe resignar-se com a nova feição do meio, procurando imitar, procu- rando aperfeiçoar-se; mas não, limita-se a odiar. Entretanto, o número de braços continua a aumentar dia a dia, sempre prontos para continuar a revolução da terra. Esta surge
N.º 085, Yiar-Sivan 5698 (Abr-Mai 1938)
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