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N.º 089, Kislev-Tevet 5699 (Nov-Dez 1938)







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 2             HA-LAPID
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então era Antão Vasques, ao qual disse, que
fosse logo apregoando por toda ela da parte
da Rainha, e debaixo de certa pena, que nin-
guém fizesse mal, nem ofendesse aos judeus;
e ele lhe respondeu, que sim o faria, mas
não da parte da Rainha, senão da sua; e por
mais que o Mestre lhe rogou, e persuadiu,
que tal não fizesse, ele sem embargo disso,
todos os pregões, que deitou, foram em nome
do Mestre. O povo ouvindo isto, e vendo
um tal desinteresse, concebeu novos estimu-
los para o desejar por seu Rei, e assim iam
dizendo todos uns para os outros:

-Oue fazemos, que não levantamos éste
homem por nosso Rei?

Com estas, e outras semelhantes vozes o
foram acompanhando até à Sé, aonde se
apeaiam ele, e os Condes para ouvirem
missa, e o povo se foi separando pouco a
pouco, com que os judeus ficaram livres de
tão próximo perigo.

                 *

Da mesma obra de josé Soares da Silva.

A Rainha D. Leonor retirou de Lisboa
para Alenquer acompanhada por muitos fi-
dalgos, ministros, etc.

"Foram também com a Rainha D. David
e D. Judas, os judeus que o povo queria
roubar, os quais com medo, deste, e por
continuarem no seu serviço, partiram na sua
comitiva, e com algum disfarce, por não
serem conhecidos."

                 *

UM HOMEM SÓ, SEM FAMÍLIA,
   SEM FILHOS E SEM DEUS

Guilherme II, ex-Kaiser da Alemanha,
declarou a um jornalista americano:

"Da nossa Alemanha ... Adolf Hitler fez
uma nação de histéricos, conduzida por um
milhar de mentirosos e de fanáticos ... É um
homem só, sem familia, sem filhos e sem
Deus ... Uma nação é criada pela família,
uma religião, tradições, É feita do coração
das mães, da sabedoria dos pais, da alegria
e da exuberância dos filhos ... Um alemão
encorpora esta nação nele mesmo e não tem
nem Deus, nem dinastia a conservar, nem
passado a consultar."

Esta declaração foi já reproduzida por
todos os jornais de todos os continentes,
excepto, é claro, a imprensa nazi.



      UMA MOÇÃO DO CONSISTÓRIO
         ISRAELITA DE PARIS

O Consistório Israelita de Paris, reunido
pela primeira vez em sessão aberta desde os
recentes acontecimentos da Alemanha, sente-
-se incapaz de retomar as suas deliberações
sem ter expresso solenemente, em nome de
toda a comunidade parisiense, a dor e a
indignação que suscitam nela as perseguições
ordenadas pelos actuais dirigentes do Reich.

A quási totalidade das sinagogas foram
incendiadas, os fiéis obrigados a profanar os
Rolos sagrados, e mesmo como em Sarre-
brück, obrigados a espalhar eles próprios o
petróleo nos lugares do culto, os rabis con-
duzidos aos campos de concentração, as
arrestações em massa, os assassinatos, as
sevícias, a espoliação e a pilhagem, todas
estas vergonhas ficarão marcadas com ferro
vermelho sobre as espáduas dos criminados.

Sem sinagogas, a oração não continuará
nelas a elevar-se para o Soberano Senhor. Os
rabis, mesmo na prisão. continuarão servi-
dores da Lei. A alma dos mártires encon-
trará do lado de lá a eterna santificação.

Resta o dever humano. É assegurar o
mais de-pressa possivel as possibilidades de
vida a todos os infelizes israelitas perse-
guidos, privados de meios de subsistência.
por vezes até de alojamentos.

O Consistório de Paris tomou conheci-
mento dos esforços feitos na França para
este fim. Fará tudo o que dele depende e
usará de toda a sua influencia para que esta
acção de socorro seja plenamente eficaz.

                  *

INIMIGOS DA CIVILIZAÇÃO

Duff Cooper, na sua conferencia aos
Embaixadores, fez uma alusão às persegui-
ções anti-judaicas na Alemanha.

Fê-lo duma maneira delicada e discreta,
mas as suas palavras tiveram um profundo
eco:

"Parece-me justo, disse ele, parece-me
justo e necessário declarar que um regime
que começa pelo auto de fé de livros, que
continua pela abolição da liberdade do pen-
samento e da imprensa, que persegue a
religião, procura exterminar pela crueldade
uma raça antiga que deu ao mundo o cris-
tianismo, é o inimigo da civilização."


 
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