2 HA-LAPID ============================================ então era Antão Vasques, ao qual disse, que fosse logo apregoando por toda ela da parte da Rainha, e debaixo de certa pena, que nin- guém fizesse mal, nem ofendesse aos judeus; e ele lhe respondeu, que sim o faria, mas não da parte da Rainha, senão da sua; e por mais que o Mestre lhe rogou, e persuadiu, que tal não fizesse, ele sem embargo disso, todos os pregões, que deitou, foram em nome do Mestre. O povo ouvindo isto, e vendo um tal desinteresse, concebeu novos estimu- los para o desejar por seu Rei, e assim iam dizendo todos uns para os outros: -Oue fazemos, que não levantamos éste homem por nosso Rei? Com estas, e outras semelhantes vozes o foram acompanhando até à Sé, aonde se apeaiam ele, e os Condes para ouvirem missa, e o povo se foi separando pouco a pouco, com que os judeus ficaram livres de tão próximo perigo. * Da mesma obra de josé Soares da Silva. A Rainha D. Leonor retirou de Lisboa para Alenquer acompanhada por muitos fi- dalgos, ministros, etc. "Foram também com a Rainha D. David e D. Judas, os judeus que o povo queria roubar, os quais com medo, deste, e por continuarem no seu serviço, partiram na sua comitiva, e com algum disfarce, por não serem conhecidos." * UM HOMEM SÓ, SEM FAMÍLIA, SEM FILHOS E SEM DEUS Guilherme II, ex-Kaiser da Alemanha, declarou a um jornalista americano: "Da nossa Alemanha ... Adolf Hitler fez uma nação de histéricos, conduzida por um milhar de mentirosos e de fanáticos ... É um homem só, sem familia, sem filhos e sem Deus ... Uma nação é criada pela família, uma religião, tradições, É feita do coração das mães, da sabedoria dos pais, da alegria e da exuberância dos filhos ... Um alemão encorpora esta nação nele mesmo e não tem nem Deus, nem dinastia a conservar, nem passado a consultar." Esta declaração foi já reproduzida por todos os jornais de todos os continentes, excepto, é claro, a imprensa nazi. UMA MOÇÃO DO CONSISTÓRIO ISRAELITA DE PARIS O Consistório Israelita de Paris, reunido pela primeira vez em sessão aberta desde os recentes acontecimentos da Alemanha, sente- -se incapaz de retomar as suas deliberações sem ter expresso solenemente, em nome de toda a comunidade parisiense, a dor e a indignação que suscitam nela as perseguições ordenadas pelos actuais dirigentes do Reich. A quási totalidade das sinagogas foram incendiadas, os fiéis obrigados a profanar os Rolos sagrados, e mesmo como em Sarre- brück, obrigados a espalhar eles próprios o petróleo nos lugares do culto, os rabis con- duzidos aos campos de concentração, as arrestações em massa, os assassinatos, as sevícias, a espoliação e a pilhagem, todas estas vergonhas ficarão marcadas com ferro vermelho sobre as espáduas dos criminados. Sem sinagogas, a oração não continuará nelas a elevar-se para o Soberano Senhor. Os rabis, mesmo na prisão. continuarão servi- dores da Lei. A alma dos mártires encon- trará do lado de lá a eterna santificação. Resta o dever humano. É assegurar o mais de-pressa possivel as possibilidades de vida a todos os infelizes israelitas perse- guidos, privados de meios de subsistência. por vezes até de alojamentos. O Consistório de Paris tomou conheci- mento dos esforços feitos na França para este fim. Fará tudo o que dele depende e usará de toda a sua influencia para que esta acção de socorro seja plenamente eficaz. * INIMIGOS DA CIVILIZAÇÃO Duff Cooper, na sua conferencia aos Embaixadores, fez uma alusão às persegui- ções anti-judaicas na Alemanha. Fê-lo duma maneira delicada e discreta, mas as suas palavras tiveram um profundo eco: "Parece-me justo, disse ele, parece-me justo e necessário declarar que um regime que começa pelo auto de fé de livros, que continua pela abolição da liberdade do pen- samento e da imprensa, que persegue a religião, procura exterminar pela crueldade uma raça antiga que deu ao mundo o cris- tianismo, é o inimigo da civilização."
N.º 089, Kislev-Tevet 5699 (Nov-Dez 1938)
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