N.° 92 PORTO - Lua de Março - 5699 (1939 e.v.) ANO XIII ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos, para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | e aponta-vos o busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | caminho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) O FACHO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECTOR E EDITOR: -A. C. DE BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA IMPRENSA MODERNA, L.DA Redacção na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim || Rua da Fábrica, 80 Rua Guerra Junqueiro, 340 - Porto || ------------------- P O R T O ------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Como neste reino viviam os judeus É certo, que desde tempos muito antigos, e ainda antes da vinda do Filho de Deus ao Mundo, já havia judeus nos reinos de Espa- nha. O modo, com que depois foram tratados dos príncipes cristãos, referem os antigos Concílios da Igreja, e o particularizaram também as leis dos Visigodos. Na ruína geral desta Província, e entrada dos árabes, não padeceram tanto como os cristãos, antes se conservaram entre uns e outros, conformando-se, com o que lhes estava melhor para o fim da sua residencia. Não só os judeus se conservavam entre os cristãos no tempo dos reis godos, senão também depois da restauração de Espanha. No governo de El-Rei D. Sancho II foram tão favorecidos, que alguns deles se viram prefe- ridos para os ofícios públicos; absurdo tão grande, que obrigou ao Sumo Pontífice Gre- gório IX a publicamente o estranhar ao dito Rei na Decretal: Ex speciali titulo de judeis et Sarracenis, mandando-o admoestar pelos bispos de Astorga e Lugo, a que remediasse éste abuso. Mais lhe ordenava, que dando rendas reais a judeu, ou mouro, constituísse um superintendente cristão, que acudisse as vexações, que os tais costumavam fazer aos eclesiásticos, e geralmente a todos os cristãos no rigor da exacção, execução e forma da cobrança. No tempo deste Rei eram obriga- dos a dar uma ancora, e uma amarra para toda a Nau, ou Galé, que El-Rei mandava armar. No tempo de El-Rei D. Diniz parece que ainda se continuava autorizar os judeus com os ofícios públicos; porque no artigo XIV dos XLII, que em Roma deram os eclesiásticos contra o dito Rei, que refere Bzovio nos Annaes no ano de 1289, lhe arguíram, que provia os judeus nestes ofícios; e sobre éste favor lhes permitia, andar sem sinais, nem divisas, conforme o Concílio Geral tinha ordenado; e que ultimamente não permitia, que os obrigassem a pagar dízimos; o que tudo prometeu reformar, ajustando-se aos sagrados Cânones. Êste favor de serem admitidos aos serviços dos reis, como se viu em um chamado Judas, Ministro de El-Rei D. Diniz, lograram os judeus até ao tempo de El-Rei D. Duarte. Este fez uma lei, em que mandou, que nenhum judeu, ou mouro, pudesse ser oficial de El-Rei, Rainha, Infantes, Titulares e Prelados, a qual depois confirmou seu filho El-Rei D. Afonso V, e anda nas suas Ordenações, o que obraram por Conse- lho dos Inquisidores do Reino. Neste tinham os judeus liberdade, para poderem possuir bens de raiz, o que não puderam alcançar no de Castela. El-Rei D. Pedro I, moderando outros modos de proceder, que com os tais judeus se usavam, ordenou, que quando alguns deles comprassem bens de raiz aos cristãos, ou lhos emprazassem, aforassem, arrendassem, ou descambassem, se lhes passasse a carta de compra e venda, presente o Juiz do lugar, ou dois tabeliãis, jurando éles primeiro, que procediam sem engano, nem usura. Era tanto, o que possuíam os judeus. que Moisés Navarro, Arabi-mor, e sua mulher D. Salva, no tempo de El-Rei D. Pedro I, instituiram um grosso Morgado de muitas quintas e fazendas no termo de Lisboa, conservando-lhe El-Rei que os pos- suidores conservassem o apelido de Navarro. El-Rei D. João I, no ano de 1404, mandou que todo o judeu, que não escrevesse no
N.º 092, Nissan 5699 (Mar 1939)
> P01