2 HA-LAPID ============================================ COMEMORAÇÕES CENTENÁRIAS Don Yahia Ben-Yahia (Um dos colaboradores de D. Afonso Henriques) Por A. C. DE BARROS BASTO (CONTINUAÇÃO no NÚMERO 99) Entre os partidários de Ibn-Caci havia um chamado Mohamed Ibn-Yahia, também conhecido por Ibn-Cábila (Cábila significa o adiantado ou avançado), o homem do seu tempo mais hábil guerreiro, astuto e valente, de grande talento de palavra; e são afamadas as suas epistolas. Estas qualidades fizeram com que Ibn-Caci lançasse as suas vistas sobre éle e empregasse os seus esfor- ços em conseguir a adesão dêste homem, que além das qualidades pessoais tinha tam- bém grande número de partidários e admi- radores, e, efectivamente, Ibn-Yahia, no comêço do ano de 1144 (539 da Hegira) uniu-se com todos os seus ao partido de Ibn-Caci. Ibn-Yahia foi também denominado A1- -mustafá (o escolhido, o favorito) por causa da intimidade que tinha com Ibn-Caci e pela dedicação aos seus ínterésses. Em Abril de 1144. Ibn-Caci ordenou a um dos seus sectários que se apoderasse do castelo de Monte Agudo, perto de Mértola. Esse guerreiro surpreendido pelos almorá- vidas, quando realizava o seu intento, foi feito prisioneiro e morto. Ibn-Caci não desistiu da sua acção. Em Agosto do mesmo ano manda o seu amigo predilecto Ibn- -Yahia, tomar de assalto o castelo de Mér- tola, encorajando-o com os gloriosos epi- tetos de espada da revolta e sustentáculo do império e da glória. Ibn-Yahia e a sua gente, ao todo 70 homens, puseram-se em emboscada nos arredores do castelo de Mértola, e toma- ram-no depois de matarem a sentinela, ao anoitecer do dia 14 de Agosto; e logo pro- clamaram nêle Ibn-Caci. Alguns dias depois, Ibn-Caci fêz a sua entrada solene na forta- leza, à frente de grande multidão dos seus sectários, e instalou ali o seu govêrno. As populações vizinhas revoltaram-se a seu favor. Muitos se lhe vieram juntar. Para todos era extremamente generoso. Dentro em pouco, quási todo o ocidente (pelo menos a parte que viria a ser portu- guesa) estava submetida a Ibn-Caci, que em tudo procede como um verdadeiro príncipe dos crentes. Dois Walis importantes Ibn-Uazir (Abu Mohamed Cidrá), de Évora e Mohamed Ibn-Omar Ibn-Almondir, de Silves, vão a Mértola prestar homenagem e juramento de fidelidade a Ibn-Caci (Setembro de 1144), o qual confere ao primeiro o govêrno de Beja e a Almoudir o govêrno de Silves. O chefe supremo das tropas almorá- vidas no Andaluz era Ibn-Gania, que dei- xara progredir a rebelião no Algarve, por não ter recursos militares que pudesse dis- trair da luta em que andava empenhado, no centro e oriente da Espanha muçulmana. Nessas regiões, era êle a alma da resistência almorávida contra os almóadas. Ibn-Almondír, o Wali de Silves, ansioso por ser útil a Ibn-Caci, atravessa com os seus guerreiros o Guadiana, toma Huelva e vai atacar Sevilha. Ibn-Gania tendo conhecimento em Cór- dova destas más novas, acorre com as suas tropas almorávidas e surpreende Ibn-Almon- dir, quando éste assolava já os campos de Sevilha, vence e põe em fuga os muridas. Mas eis que Córdova, aproveitando a ausência da guarnição almorávida revolta-se, e em brevge se revoltam também Murcia. Almeria e Malaga, e Ibn-Gania para acudir ao centro do Andaluz, tem que pôr de parte a idea de subjugar o Algarve, cujos distritos, com Ibn-Vazir governando em Badajoz e Ibn-Caci pontificando em Mértola. estavam de todo perdidos para a dinastia almorá-
N.º 100, Ab-Elul 5700 (Jul-Ago 1940)
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