HA-LAPID 3 ======================================= vida. Tendo conhecimento da revolta de córdova, Ibn-Caci pensou na possibilidade de realizar o seu grande sonho: apoderar-se da capital do Andaluz. Senhor de Córdova, teria a seus pés o império muçulmano da Espanha. Encarregou da emprêsa Ibn-Al- mondir e o seu amigo predilecto Ibn-Yahia, o conquistador de Mértola. Esta emprêsa foi mal sucedida e as tro- pas de Ibn-Caci tiveram de retroceder. Estes acontecimentos passavam-se já no ano de 1145. Como ouvisse os venturosos sucessos dos almóadas em Africa e a morte do rei Texufin em Oran, Ibn-Caci enviou as suas cartas e mensageiros ao principe dos almóa- das Abdel-mumen dando-lhe conta das revoltas de Espanha e como êle se havia apoderado de grande parte da Andaluzia contra os almorávidas, aos quais tratava de hereges e maus muçulmanos, e lhe oferecia a sua obediência, convidando-o a entrar em Andaluzia e apoderar-se dela: Abdel-mumen nomeou-o seu Wali do Algarve em Rebie 2.° do ano 540 da Hegira (1145). Ao mesmo tempo o caudilho dos almo- rávidas Ibn-Gania sabendo o mau estado das cousas de seus reis em Africa, procurava sustentar na Andaluzia o vacilante estado não só por fôrça das armas como também com prudente política: corria as províncias. exortava os povos à união e obediência aos seus legítimos soberanos, e onde não valia a persuasão empregava com oportunidade a fôrça e o rigor. Assim mantinha em obediência muitas principais cidades, e vendo que se multiplicavam os rebeldes e que já eram muito poderosos os de Axarquía e o Algarve, foi buscar alianças com os cristãos, e para debilitar os mais poderosos bandos semeou entre os seus caudilhos a discórdia e fatal desavença. Como soubesse que Ibn-Caci tinha escrito aos almóadas oferecendo-lhe a sua obediência, e que Abdel-mumen o havia nomeado Wali do Algarve, aproveitou esta ocasião para suscitar a inveja em seus par- ciais Ibn-Cidrá e Ibn-Almondir. Dizia-lhes que se deviam apartar da sua amizade e olhar por si, pois Ibn-Caci tratava de engran- decer-se só e tomar a soberania do estado, que maquinava contra a liberdade de todos, e queria trazer os feros almóadas à Espanha Dara repetir as desgraças que os príncipes e caudilhos andaluzes tinham sofrido na vinda dos almorávidas, com a diferença que Jusuf Texufin veio redimir aos muçulmanos das cadeias que lhe lançava o tirano Afonso (o avô de Afonso Henriques), porém que Ibn- -Caci não podia desculpar êste mau conse- lho com tão louvável ocasião: que só a sua desmedida cobiça do soberano mando o movia a trazer à Espanha os derramadores do sangue dos muçulmanos de Africa; que a sua intenção era desenganá-los: que êle não aspirava senão a manter sem mancha o honroso cargo de caudilho e amparador das fronteiras do Islam, permanecer e seguir no caminho de Deus até à morte, que esta era a verdadeira glória, e que por essa senda se subia ao cume inacessível da mais permanente fortuna. Eram ambos caudi- lhos de nobre e generoso ânimo e se per- suadiram das razões de Ibn-Gania e o fogo da emulação que se não havia extinto nos seus corações se excitou agora de novo e logo se indispuseram com êle reprovando seu govérno e suas alianças; chegaram a ponto de rompimento declarado, e move- ram as suas gentes contra Ibn-Caci. Este Wali, para defender-se dêstes bandos pediu ajuda a Ibn-Arrik, Amir de Colimbria (D. Afonso Henriques), que veio em sua ajuda, e entraram juntos a terra de Beja e de Merida, fazendo os cristãos fartos estra- gos naquela terra. Saíram contra êle Ibn- -Cidrá e Ibn-Almondir, e tiveram sangrentas escaramuças, e o obrigaram a retirar-se para a sua fortaleza de Mértola, isto em Xaban de 540 (1145), e ali despedindo os cava- leiros de Ibn-Arrik deu-lhes belos presentes de armas e cavalos. Os sarracenos toleravam mal esta aliança de Afonso Henriques com o seu chefe, de quem murmuravam, acusando-o de subser- viência ao principe infiel, dizendo que Ibn- -Caci se portava como um servo que movia as pestanas por insinuações do outro. Foi impossivel conter a indignação popu- lar. Os habitantes de Mértola sublevaram-se e Ibn-Caci foi feito prisioneiro pelos par- ciais de Ibn-Cidrá, a quem os sublevados abriram as portas do castelo. Ibn-Caci foi conduzido a Beja e lançado lá num calabouço. Durante estas agitações Ibn-Vahia cai em desfavor no ânimo de Ibn-Caci e éste manda-o matar. Ibn-Vahia consegue sal- var-se e vai refugiar-se em Coimbra sob a protecção de D. Afonso Henriques (o Ibn- -Arrik dos cronistas muçulmanos), o qual
N.º 100, Ab-Elul 5700 (Jul-Ago 1940)
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