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N.º 100, Ab-Elul 5700 (Jul-Ago 1940)







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vida. Tendo conhecimento da revolta de
córdova, Ibn-Caci pensou na possibilidade
de realizar o seu grande sonho: apoderar-se
da capital do Andaluz. Senhor de Córdova,
teria a seus pés o império muçulmano da
Espanha. Encarregou da emprêsa Ibn-Al-
mondir e o seu amigo predilecto Ibn-Yahia,
o conquistador de Mértola.

Esta emprêsa foi mal sucedida e as tro-
pas de Ibn-Caci tiveram de retroceder.

Estes acontecimentos passavam-se já no
ano de 1145.

Como ouvisse os venturosos sucessos
dos almóadas em Africa e a morte do rei
Texufin em Oran, Ibn-Caci enviou as suas
cartas e mensageiros ao principe dos almóa-
das Abdel-mumen dando-lhe conta das
revoltas de Espanha e como êle se havia
apoderado de grande parte da Andaluzia
contra os almorávidas, aos quais tratava de
hereges e maus muçulmanos, e lhe oferecia
a sua obediência, convidando-o a entrar em
Andaluzia e apoderar-se dela: Abdel-mumen
nomeou-o seu Wali do Algarve em Rebie 2.°
do ano 540 da Hegira (1145).

Ao mesmo tempo o caudilho dos almo-
rávidas Ibn-Gania sabendo o mau estado
das cousas de seus reis em Africa, procurava
sustentar na Andaluzia o vacilante estado
não só por fôrça das armas como também
com prudente política: corria as províncias.
exortava os povos à união e obediência aos
seus legítimos soberanos, e onde não valia
a persuasão empregava com oportunidade
a fôrça e o rigor. Assim mantinha em
obediência muitas principais cidades, e vendo
que se multiplicavam os rebeldes e que já
eram muito poderosos os de Axarquía e o
Algarve, foi buscar alianças com os cristãos,
e para debilitar os mais poderosos bandos
semeou entre os seus caudilhos a discórdia e
fatal desavença. Como soubesse que Ibn-Caci
tinha escrito aos almóadas oferecendo-lhe
a sua obediência, e que Abdel-mumen o
havia nomeado Wali do Algarve, aproveitou
esta ocasião para suscitar a inveja em seus par-
ciais Ibn-Cidrá e Ibn-Almondir. Dizia-lhes
que se deviam apartar da sua amizade e
olhar por si, pois Ibn-Caci tratava de engran-
decer-se só e tomar a soberania do estado,
que maquinava contra a liberdade de todos,
e queria trazer os feros almóadas à Espanha
Dara repetir as desgraças que os príncipes e
caudilhos andaluzes tinham sofrido na vinda
dos almorávidas, com a diferença que Jusuf



Texufin veio redimir aos muçulmanos das
cadeias que lhe lançava o tirano Afonso (o
avô de Afonso Henriques), porém que Ibn-
-Caci não podia desculpar êste mau conse-
lho com tão louvável ocasião: que só a sua
desmedida cobiça do soberano mando o
movia a trazer à Espanha os derramadores
do sangue dos muçulmanos de Africa; que
a sua intenção era desenganá-los: que êle
não aspirava senão a manter sem mancha o
honroso cargo de caudilho e amparador
das fronteiras do Islam, permanecer e seguir
no caminho de Deus até à morte, que esta
era a verdadeira glória, e que por essa
senda se subia ao cume inacessível da mais
permanente fortuna. Eram ambos caudi-
lhos de nobre e generoso ânimo e se per-
suadiram das razões de Ibn-Gania e o fogo
da emulação que se não havia extinto nos
seus corações se excitou agora de novo e
logo se indispuseram com êle reprovando
seu govérno e suas alianças; chegaram a
ponto de rompimento declarado, e move-
ram as suas gentes contra Ibn-Caci. Este
Wali, para defender-se dêstes bandos pediu
ajuda a Ibn-Arrik, Amir de Colimbria
(D. Afonso Henriques), que veio em sua
ajuda, e entraram juntos a terra de Beja e
de Merida, fazendo os cristãos fartos estra-
gos naquela terra. Saíram contra êle Ibn-
-Cidrá e Ibn-Almondir, e tiveram sangrentas
escaramuças, e o obrigaram a retirar-se para
a sua fortaleza de Mértola, isto em Xaban
de 540 (1145), e ali despedindo os cava-
leiros de Ibn-Arrik deu-lhes belos presentes
de armas e cavalos.

Os sarracenos toleravam mal esta aliança
de Afonso Henriques com o seu chefe, de
quem murmuravam, acusando-o de subser-
viência ao principe infiel, dizendo que Ibn-
-Caci se portava como um servo que movia
as pestanas por insinuações do outro.

Foi impossivel conter a indignação popu-
lar. Os habitantes de Mértola sublevaram-se
e Ibn-Caci foi feito prisioneiro pelos par-
ciais de Ibn-Cidrá, a quem os sublevados
abriram as portas do castelo.

Ibn-Caci foi conduzido a Beja e lançado
lá num calabouço.

Durante estas agitações Ibn-Vahia cai
em desfavor no ânimo de Ibn-Caci e éste
manda-o matar. Ibn-Vahia consegue sal-
var-se e vai refugiar-se em Coimbra sob a
protecção de D. Afonso Henriques (o Ibn-
-Arrik dos cronistas muçulmanos), o qual


 
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