4 HA-LAPID ========================================== PORTUGAL TOLERANTE Da parte católica: Tendo falecido em Lisboa o Sr. Fortu- nato Carlos Abecassis, judeu praticante da religião dos seus antepassados, os seus empregados católicos da filial da sua casa comercial na cidade do Pôrto, mandaram a expensas suas rezar uma missa sufra- gando a sua alma; para prova do que afir- mamos aqui se publica o respectivo anún- cio, transcrito de O Comércio da Pôrto, do dia 17 de Novembro de 1940: -------- Fortunato Carlos Abecassis Pela Gerência da Casa Abecassis (Irmãos) & C.a, nesta cidade, é mandada rezar amanhã uma missa de sufrágio por alma do seu muito querido e saüdoso Chefe. Ex.mo Sr. Fortunato Carlos Abe- cassis, falecido em Lisboa, no dia 1O do corrente. Êste piedoso acto tem lugar na igreja dos Congregados pelas 8,30 da manhã. ---------- Da parte evangélica: O periódico evangelista O Semeador Baptista-Leiria, 15 de Novembro de 1940, publica o seguinte: Quem é o meu próximo? -"Deixe-o afogar-se! é um judeu". Assim gritava há pouco em Cracóvia, uma multidão de pessoas, reunidas à margem de um rio, onde, no meio de blocos de gêlo, um jovem lutava pela vida. "Deixe-o afogar-se, não é mais que um judeu!" Este grito resume o sentimento de tóda a idade-Média em muitos que se dizem cristãos, ainda hoje, e para quem seu irmão "não passa de um judeu". Das margens do rio levanta-se um novo grito mesclado de imprecações: "Está a afundar-se, vai morrer!" Porém nesse momento outro jovem chega correndo, atravessa o povo que o procura deter: atira-se às águas ge- ladas do rio; luta contra a corrente, e depois de mil esforços, de arriscar vinte vezes a vida, consegue trazer à margem o infeliz que ia morrendo. Como recom- pensa, a principio não recebe mais que zombaria de todos os presentes. Mas logo depois faz-se um silêncio religioso. O público acabava de certificar-se de que o que se ia afogando não era judeu, mas sim o que o havia salvo das águas! De O jornal Baptista, do Rio de Janeiro. ----------------------------------------- REFUGIADOS Beth-Ha-Midrash-Para que alguns refugiados israelitas do rito askenazy (Tu- desco) fizessem as suas orações quotidianas segundo o rito a que estavam acostuma- dos, a subcomissão portuense de assis- tência aos judeus refugiados, dirigida pelo Sr. Hans Warmbrunn, criou na Rua da Boavista n.° 276, um Beth-Ha-Midrash (Oratório) para esse fim. A Comunidade israelita do Pôrto (Rito Português) pela sua 6.a secção--Somékh-Ha-Golim (Am- paro dos Desterrados forneceu um Sepher Thorah (Livro da Lei), um shofar (busina litúrgica), um Aaron Ha-Kodesh (uma arca de livros sagrados) uma mesa e dois castiçais de cobre. Conferência-No domingo 29 de De- zembro, pelas 16 horas realizou-se no Beth-Ha-Midrash da Yeshibah Rosh-Pinah (instituto Teológico Israelita) uma confe- rência feita pelo israelita norte-americano, Sr. S. A. Trone sôbre a possibilidade de alguns refugiados se estabeleceram como colonos na República Dominicana (Amé- rica Central) onde receberiam terrenos, alfaias agrícolas, etc. A conferência foi interessante e várias familias de refugiados se inscreveram para o fim indicado pelo conferente.
N.º 102, Kislev-Tevet 5701 (Nov-Dez 1940)
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