N.º 105, Sivan-Tamuz 5701 (Mai-Jun 1941) > P02
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página

Ha-Lapid הלפיד


N.º 105, Sivan-Tamuz 5701 (Mai-Jun 1941)







fechar




 2             HA-LAPID
=========================================

      ANTIGAS SINAGOGAS DO PÔRTO

                 466

Frei Fernando da Soledade, escritor
portuense do século XVII-XVIII, autor da
História Seráfíca, diz, na Parte IV, livro
III, capítulo XIV, páginas 305 e seguintes
dessa obra, que D. joão I em 1410 concedeu
a Gil Vaz (ou Vasques) da Cunha, fidalgo
de origem castelhana, autorização para edi-
ficar suas moradas de casas no pequeno
monte (mons siculus-monchique) em
que tinham habitado os judeus e onde
existia uma sinagoga abandonada. No
mesmo local havia casas em que noutros
tempos moravam os Doutores da Lei, e,
pela encosta que dêste monte vai subindo
para ocidente, viam-se ainda muitos monu-
mentos em que eram sepultados os profes-
sores das cerimónias judaicas, o qual por
êsse respeito-continua o cronista-ainda
hoje conserva o nome de Monte dos Judeus.
Acrescentarei que efectivamente em certos
documentos antigos aparece mencionado
êsse almocávar (cemitério) hebraico o qual
parece se estendia até ao alto do actual
Largo do Viriato e Rua dos Fogueteiros;
recordação dos antigos moradores do local
ou do cemitério-se tem conservado atra-
vés de tantos séculos na designação bem
conhecida das Escadas do Monte dos
Judeus.

Nas primeiras décadas do século XVI.
viviam nas referidas casas de Gil Vasques
da Cunha o seu descendente Pero da Cunha
Coutinho e sua mulher D. Brites de Vi-
lhena, os quais, não tendo filhos, resolveram
em 1533 fundar um Convento de Religiosas
nas próprias casas em que viviam.

Só em 1538, porém, falecido já Pero da
Cunha, êsse convento ou Mosteiro pôde ser
inaugurado, vindo a chamar-se da Madre
de Deus de Monchique.

A Sinagoga que ai houvera já muito
antes tinha desaparecido.

Depois de descrever a igreja do con-
vento citado, Frei Fernando da Soledade,
no capitulo XV do livro e obra citada
informa:- "Depois que saimos da igreja
e caminhamos pelo pátio, nos aparece à
mão direita dêle gravado na parede do



dormitório antigo um epitáfio de caracteres
hebraicos, abertos em uma pedra, que fôra
da Sinagoga, e neste lugar a mandou por
Gil Vás da Cunha, fundador das casas,
servindo justamente de padieira a uma
porta".

No século XIX ainda essa pedra estava
no mesmo lugar: conheceu-a muito bem o
investigador portuense Querubino Lagoa e
em 1862, conforme conta o Dr. Pedro Vi-
torino, em Notas de Arqueologia Portuense,
reparou nela "o arqueólogo Possidónio da
Silva que não descansou sem a obter, o que
conseguiu só em 1872, depois de passado
o convento à posse de particulares; o seu
proprietário, Clemente Guimarães Menéres,
oferecia-a ao Museu do Carmo (Lisboa),
onde deu entrada em 1875". E' alusiva à 
fundação de sinagoga, e tudo leva a crer
que efectivamente lhe pertenceu.

Se, como diz Soledade, essa Sinagoga
estava abandonada em 1410, pode presu-
mir-se que havia sido substituída por outra.
Ora sabe-se que, em verdade, vinte-e-quatro
anos antes dessa data outra existia.

Em 1386 os Judeus do Pôrto tinham na
Munhota ou na Rua de sôbre a Munhota
(ou Minhota) uma casa de oração:-
"nós, comuna dos Judeus da dita cidade
do Pôrto, os quais somos juntos na dita
cidade, na rua de sôbre a Munhota, na
loja da casa de Lourenço Peres, mari-
nheiro, que é da nossa oração, por Anton
Judeu, que nos chamou da parte do
arrabi-mor"... "a qual loja diziam os
judeus que era a sua casa de oração".
(Livro 3.o de Perg.-documento n.o 9, do
Arquivo Municipal do Porto).

Onde era a Rua da Munhota?

Na Concórdia, celebrada em 25 de Junho
de 1331 (Livro grande da Câmara do
Porto, fôlhas XII) para pôr têrmo às con-
tendas constantes entre os bispos e o con-
celho, sôbre pêsos e medidas, etc.. diz-se
que o concelho do Pôrto se obrigava a
fazer uns Banhos com suas casas e cal-
deiras naquele local "que é detrás das
casas de Domingos Pires da Minhota", ou,
não podendo ser ai, no rossio abaixo da


 
Ha-Lapid_ano15-n105_02-Sivan-Tamuz_5701_Mai-Jun_1941.png [147 KB]
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página