4 HA-LAPÍD ======================================== tam contra o seio creanças que adorme- cem. Algumas teem nobres perfis. O capi- tão fala. Diz a beleza do Antigo Testamen- to, a potencia da Lei de Moisés, os titulos de gloria do judaismo, que proclama a existencia dum só Deus, a missão do povo escolhido, que nao quer desaparecer e que reconstruir¡ o templo no segredo do seu coração. Ele pronnncia tambem as palavras de fraternidade e de justiça. Prega a toleran- cia: "Os justos de todas as nações teem parte na vida eternas: Mas afirma que é preciso optar, que aqueles que sentiram despertar neles a ie de seus paes devem ter a coragem de regressar a ela aberta- mente e de olhar nos olhos dos que não partilham a sua crença. A sua eloquencia combativa, cada vez mais calorosa impoe-se e inflama o audito- rio. Ele fala e sente-se que para ele, a reli- gião é tão esseneial á alma como a subsis- tencia o é para o corpo. As mulheres es- cutam-no extaticas. Os homens teem o olhar fixo sobre ele. Termina a sua exhor- tação por algumas orações hebraicas, por- que ele quere que o hebreu esquecido volte a ser a lingua do culto. E, de repente, can- ta-se o cantico de Moisés, que é o da li- bertação de Israel. Os fieis, de pe', entoam o estribilho: "Cantemos hoje ao Senhor, Deus de gloria singular, que o cavalo e cavaleiro lançara no profundo mar." Nestas vozes vibra o amargor dos so- frimentos e da opressão seculares, o aca- brunhamento da pobreza presente, mas tambem a esperança da patria reencon- trada. E os que escutam crentes ou descren- tes, estremecem de comoção perante a fi- delidade destas almas que vibram com idealismo imortal dos seus antepassados. Bragança, 8-outubro-1929. Lily Jean jarval. (Trad. do "Univers Israe1ite") -------------------------------------- Visado pela Comissão de Censura O Renascimento Judaico dos Maranos Portugueses Ainda não chegou o momento de escre- ver a historia do renascimento judaico dos maranos, estando esta grandiosa obra, por assim dizer, ainda em começo... Contudo uma coisa se póde já afirmar é que a redenção judaica dos maranos está em marcha e nada a deterá! Com efeito, a obra de redenção, ou antes, de miraculosa resurreição dos ma- ranos, começada, ha 3 anos, sob a energica e competente direcção do ex-marano capi- tão Barros Basto, do Porto, apezar de dificil e lenta, progride e desenvolve-se por forma segura e inflexivel. Quem teria podido imaginar, com efeito, que, apoz 3 seculos de cristianismo implan- tado e imposto, pelo terror e os autos de té da Inquisição, os Maranos, ou os des- cendentes dos nossos irmãos anusim do seculo XV, tivessem podido conservar até aos nossos dias a consciencia, a alma, o tipo e as tradições judaicas, dos seus ante- passados? De resto, em Espanha não subsiste ves- tígio algum do maranismo ou cripto judais- mo, e se ainda em qualquer canto da ilha de Maillorca se encontram ainda vestígios de dascendentes dos maranos, conhecidos sob a designação injuriosa de chuetas, já não conservam, na realidade, nenhuma tradição judaica e se alguma coisa se des- tinguem dos restantes concidadaos cristãos é talvez por um excesso de devoção ca- tolica... O contrario, contudo, se produziu em Portugal, onde contigentes bastante nume- rosos de cripto-judeus continuam ainda, em nossos dias, as tradições religiosas judaicas dos seus antepassados. De resto, esta oposição de fenomenos entre os dois paizes visinhos da Peninsula Iberica explica-se facilmente: Enquanto em Espanha o édito da expul- são e o exodo da maior parte do judaismo espanhol, da parte que, justamente, estava
N.º 024, Heshvan 5690 (Out 1929)
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