HA-LAPID 5 ======================================== mais unida e mais firme na observancia da fé judaica. Pelo menos trezentos mil judeus deixa- ram Espanha no prazo de 3 meses prescrito pelo edito dos reis catolicos, e muitos, dos que tinham abraçado a religião catolica para poderem ficar no paiz, tiveram egual- mente que fugir do inferno inquisitorial, no decurso de seculos posteriores, para reto- morem livremente na Holanda, Italia. In- glaterra ou Turquia a sua antiga fé judaica. Assim, os que ficaram em Espanha sob a capa do seu catolicismo, vigiados, perse- guidos e maltrados pela Inquisição, podem ser considerados como sendo a parte mais assimilada do judaismo sefardi, tendo aca- bado por desaparecer completamente na massa dos seus concidadãos cristãos. Não aconteceu assim em Portugal. onde praticamente nenhum exodo de judeus se seguiu ao édito de expulsão de 1496, edito que, de resto, só foi promulgado pelo rei don Manuel contra sua vontade, por condi- ção sine qua non imposta e obrigada pela côrte espanhola para o casamento de sua filha Izabel com o jovem rei de Portugal. O rei don Manoel de Portugal, tendo dado conta do desastre economico que cau- sou a Espanha a expulsão dos judeus, não hesitou em opor-se com todas as suas for- ças ao exodo de judeus do seu paiz, tendo para isso recorrido a leis iníquas-como o rapto de todos os filhos menores a seus paes judeus para os submeter ao batismo forçado-á astucia, ás boas promessas e por fim á mais repugnante barbaria para obrigar todos os realcitrantes judeus ao batismo e arrasta-los como animaes ferozes para as pias batismais... Foi assim, que a quasi totalidade do grande judaismo português ficou no paiz e constituiu a massa judeomarana, fortemente ligada á fé dos seus antepassados, dos quais os cripto-judeus portugueses actuais são os directos e fieis descendentes. Durante perto de três seculos a Inquisi- ção (de triste memoria) massacrou, desvas- tou, as massas indomaveis dos maranos portuguêses, a maior parte dos quais foi completamente exterminada, enquanto uma pequena parte conseguiu evadír-se das san- grentas garras da Inquisição fugindo para a Holanda, França e outros paizes mais libe- rais e os ultimos subreviventes escapados dos brazeiros dos autos de fé ficaram no paíz, Sobrevivendo á Inquisição que desa- pareceu em 1821, enquanto os cripto-ju- deus portugueses se conservaram fieis e orgulhosos do seu judaísmo até aos nossos dias... A Inquisição, apesar de oficialmente abolida em Portugal pelas Constituintes de 1821, tinha já sido reduzida á impotencia ainda em 1750, pela mão de ferro do emi- nente homem de estado português, o grande ministro liberal Marquez de Pombal, ao qual Portugal deve tambem a reconstrução de Lisboa, depois do terremoto de 1755, e a expulsão dos jesuítas... Foi este eminente ditador liberal portu- guês que aboliu todas as leis de excepção promulgadas contra os chamados cristãos novos (maranos), tirou á Inquisição o direito de fazer autos de fé e transformou-a em simples tribunal do Estado contra a heresia. E' a esta epoca, e antes da abolição oficial da Inquisição, que deve remontar o começo do restabelecimento dos judeus em Portugal; sendo a primeira inscripção tumu- lar judaica dos tempos modernos, que se cohece em Lisboa, de Joseph Amzalaga de 1804 (no cemiterio inglez de Lisboa). Nesta epoca o cripto-judaismo florecia em Lisboa, e baseando-nos na discripção dada por um viajante judeu inglez, Israel Salomon, que viveu em Lisboa em 1819 (Records of my family por Israel Salomon, New York 1878 e An Unfamiliar Aspect of Anglo-Jewish Aritory de Frank I. Schechter, A. M. LL. B., publication de the Ameri- can jewish Aristorical Society, n.° 25, pag. 63 a 74) Mr. Solomon cita o caso curioso dum judeu polaco Mr. Philip Samuel de Varso- via que encontrou nesta epoca em Lisboa e que merece ser reproduzido: "Mr. Phillip Samuel, filho do secretario da Sinagoga de Varsovia, era um homem muito erudito em hebreu e um rico comerciante. Habitando Vilna, ocupou-se do comercio de seda, que importou de Dantzig. Para ir de Vilna a Dantzig pelos seus negocios, como na viagem gastava mais que um dia, ele fazia-se acompanhar dum Shohet (Dego1a- dor) e dum minian para poder lazer as três orações diarias durante a viagem. ................................... Mr. Samuel, belo tipo judaico, usava
N.º 024, Heshvan 5690 (Out 1929)
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