6 HA-LAPÍD =========================================== uma grande barba negra. Nesta epoca era raro encontrar pessoas vestidas á europea usando barba. Tambem, o pobre Mr. Samuel, a bordo do navio que o conduzia a Lisboa, sentia-se inquieto por causa da sua grande barba, com o receio de que a poqulaça portuguesa zombasse dele por causa dela, e barbeou-se antes de desembarcar. Pouco depois lamentou. confessou ele a Mr. Salomon que conheceu em Lisboa em 1819, e sacrificio da sua bela barba, porque encontrou entre os comerciantes de Lisboa numerosos moranos, que, apezar de oficialmente catolicos, continuavam a obser- var em segredo nas suas familias as tradi ções da lei mosaíca. Mr, Samuel residiu durante muito tempo em Portugal, onde foi admitido em nume- rosas familias cripto-iudaicas, tanto em Lisboa como na província, onde passava o verão com a familia dum dos seus amigos cripto-judeus, juiz de paz. Foi M. Samuel que deu ao seu correli- gionario inglês Mr. Salomon as informa- ções acerca da existencia do cripto-judais- mo em Portugal, dizendo-lhe que, em mui- tas familias, todos são judeus, até as creadas. E' pois ao nosso judeu polaco Mr. Phi- lip Samuel que cabe a honra de ser o pri- meiro descobridor de judeus-maranos em Portugal e nós orgulhamo-nos de cem anos mais tarde, ter tido a honra de continuar a obra do nosso compatriota e homonimo Mr. Samuel. ........................................ Foi no ano 1915 que nos foi dado co- nhecer a primeira comunidade cripto-ju- daica de Belmonte, vila montanhesa, do distrito de Castelo Branco, e publicamos mais tarde os resultadss dos nossos estu- dos sobre os cripto-judeus portugueses (Sa- muel Swarz, os Cristãos Novos em Por- tuhal no seculo XX, Lisboa 1925), trabalho que foi dentro em pouco traduzido e publi- cado pela imprensa mundial, levando assim o problema marano perante a opinião pu- blica judaica. Em 1926 o eminente historiador e di- plomata judeu Mr. Lucien Wolf, delegado pela Anglo Jewish Association e pela Alliance Israelite Universelle, vem a Portu- gal para estudar o problema marano, estudo que ele condensou num interessante relato- rio (Lucien Wolf, Report on the maranos or crypto-jews of Portuga!, London, 1926) que serviu de base para a constituição do Portuguese Maranos Comuitte, de Londres. Assim a redenção judaica dos maranos portugueses começou, sob os aospicios do Comité Pro-Maranos. Foi o Porto, capital do norte, que foi escolhida como centro de propaganda ju- daica entre os maranos. Uma pequena comunidade judaica ali se tinha fundado sob o impulso infatigavel do ex-marano Capitão Barros Basto, o qual tomou tambem a seguir a direcção da obra de propaganda e de redenção judaica entre os maranos. Graças á energia indomavel de Barros Basto e á ajuda financeira do Comité de Londres, uma grande Comunidade judaica está a formar-se no Porto, constituida por um grupo sempre crescente de judeus asquenazim e por um, não menos crescente numero de novos proselitos maranos que regressam oficialmente á religião de seus antepassados. Uma nova e soberba Sinagoga está a ser constituida no Porto, que servirá tam- bem como Bet-Hakeneset, centro de reunião e atração para os maranos do norte de Por- tuga. ........................................ ........................................ Assim tinha-mos razão de dizer no co- meço deste artigo que a redenção judaica dos maranos está em marcha e nada a deterá! ........................................ Lisboa 15-Setembro-1929. Samuel Sehwarz N. R.-Traduzimos estes excerptos dum artigo que o distinto engenheiro de minas, o nosso correligionaio Snr. Samuel Schwarz enviou á J. T. A. (Agencia Telegrafica Judaica) e do qual teve a gentileza de nos enviar uma copia.
N.º 024, Heshvan 5690 (Out 1929)
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