N.° 24 PORTO - Heshvan de 5690 (1929 e.v.) ANO IV ============================================================================================================= Tudo se ilumina _______ ___ _______ |=|____ _______ ...alumia-vos e para aquele que |____ ||_ || ___ ||____ ||_____ | aponta-vos o ca- busca a luz. | | |_| \_\ | | / / _ | | minho. | | _____| | / / | | | | BEN-ROSH |_| |_______| /_/ |_| |_| BEN-ROSH (HA-LAPID) Órgão da Comunidade Israelita do Porto ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH) || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARIO DO PORTO, Lda Avenida da Boavista, 854-PORTO || Rua.de S. Bento da Victoria, 10 (Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) || ---------------- P O R T O ---------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Em Bragança, entre os maranos Deixamos o Porto, as suas igrejas dou- radas, as suas Capelas e os seus clautros onde os azulejos, são como uma tapessaria en camaieu dum azul serafico. Deixamos as suas ruas acidentadas por onde passam, al- tivas e harmoniozas, as mulheres levando carrêtos á cabeça, por onde caminham os carros de bois guiados por homens, de pé, cobertos com capotes escuros. O comboio, que nos leva a Bragança, margina o Douro sulcado por caíques e barcos rabêlos. Atravessa bosques de pi- nheiros mansos e de eucaliptos, vinhas, cuja verdura parece encerrar todo o sol e perfumes de Portugal. Agora, a paisagem torna-se mais severa. Montanhas graniticas, escavadas em degraus onde apenas surgem oliveiras, teem um ar de fortaleza expri- mindo a luta do homem contra a pedra. O nosso companheiro de viagem e ci- ceroni, o capitão Artur Carlos de Barros Basto, que se bateu em Franca, nas trin- cheiras do Norte, murmura, indicando-nos os vales rochosos: "E' bem o refugio onde se podiam ocultar os nossos antepassados maranos que fugiam á Inquisição"! "Maranos, do hebreu mar (amargamente) anuss (forçado)", tal é a etimologia que nos dá o capitão: Tenha cuidado, disse ele, em não escrever a palavro com dois rr, o que lhe daria uma significação preparativa, porque marranos em português significa porco. Se algum hebraisante contestar a palavra mar, adjectivo tomado adverbial- mente, mande o ler Isaias... ou mande-0 para mim. Eu me encarregarei de o con- vencer". Sim, os Maranos foram amargamente forçados ao batismo, na epoca em que o rei D. Manuel desposando a iufanta Isabel de Espanha, se comprometeu, por exigen- cia dos reis catolicos, á expulsão dos ju- deus, no prazo dum mês. Esta expulsão teria despovoado e empobrecido o reino de Portugal. Ela transformou-se pois em batismo obrigatorio, o que não impediu, alguns anos mais tarde, as perseguições e os autos de fé. E chama-se a este contrato de casa- mento assinado em agosto de 1497, beijos por lagrimas. Durante quatro seculos, os pseudo-convertidos iam á igreja, mas con- tinuaram, na sua maior parte, a praticar, na sombra, o seu querido judaismo, se não o faziam integralmente, pelo menos, se- guiam os seus principios essenciais. Deformados pelo terror, pela pratica exterior do catolicismo, e pelo tempo, os costumes tradicionais contudo sobrevive- ram. Quasi todos os maranos acendiam a lampada do Shabbath abrigando-a dos olhares inimigos dentro dum vaso de bar- ro; respeitavam o jejum de Kipur e feste- javam a Pascoa. Cantavam psalmos e di- ziam orações inspiradas no Antigo Testa- mento. Veneravam o Deus de Israel. A reserva mental ficava-lhes coma supremo refugio. Quando eles entravam na igreja, pensavam: -Eu não adoro pau, nem pedra, mas
N.º 024, Heshvan 5690 (Out 1929)
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