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N.º 025, Kislev 5690 (Nov 1929)







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 2            HA-LAPÍD
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sobretudo como hebraisantes, e um notavel
numero destes sofreu a pena capital. Uma
palavra pronunciada por acaso era bastante
para condenar um homem ao patibulo. Ser
surpreendido por qualquer a mudar de roupa
ao sabado ou dias festivos, ou a jejuar no
dia da Expiação, equivalia a uma sentença
de morte.

Em taes condições foi impossivel aos
maranos continuarem a observar um hebrais-
mo integral: separados como estavam de
todas as comunicações com o vastissimo
mundo hebraico estrangeiro e das fontes
classicas do espirito hebraico.

Necessariamente assim muitas das tradi-
ções dos seus Paes, cairam em desuso e é
para admirar tudo quanto conseguiram con-
servar: não só preceitos biblicos, com os
quaes tinham maior ocasião de manter-se fa-
miliarisados, mas tambem algumas praticas
tradicionais de menor importancia. Continua-
ram a observar o Sabado, acedendo sempre
a lampada á sexta-feira á noite para cele-
brar-lhe a entrada; jejuavam no dia da Ex-
piação, se bem que com fim de enganar os
espiões da Inquisição. o retardavam 24 ho-
ras, do decimo para o decimo primeiro dia
depois da lua nova. Celebravam a Pascoa,
comendo pão sem levadura, tambem adian-
do-a de um dia. Muitos outros vestígios da
antiga pratica hebraica ficaram em vigor
entre eles, mas sobretudo salvaram aquilo
que era essencial na fé hebraica: a observan-
cia do mais puro monoteismo e a rejeição
completa das praxes do ambiente cristão que
os cercava.

Na segunda metade do seculo XVIII a
Inquisição foi abolida em Portugal. Todavia
não se deve porisso julgar que os Maranos
podiam imediatamente porem-se em eviden-
cia e regressar á publica observancia da re-
ligião ancestral. Embora o hebraismo não
fosse já um crime capital, o pratica-lo, era
contudo uma coisa de discutivel legalidade.
Os preconceitos do povo continuavam inalte-
rados, e alem disso a tradição do culto se-
creto ia inveterada por tres seculo de habi-
to, não podia facilmente destruir-se. Por
este motivo os Maranos continuaram a sua
duplice vida, prestando com os labios obse-
quio ao Cristianismo, permanecendo porem
hebreus no intimo do coração.

Finalmente a declaração da liberdade de
consciencia, chegada com a proclamação da
republica em 1910 mostrou-se insuficiente

para suprimir os habitos inveterados de se-
culos, e a pratica do cripto-judaismo conti-
nuaram quasi sem modificação: Tão rigoro-
samente se mantinha o segredo, que a gene-
ralídade das pessoas cultas estavam conven-
cidas, que os Maranos de Portugal estavam
já absorvidos pela restante população, e
porisso a sua descoberta feitas nestes ulti-
mos anos foi acolhida nos meios intelectuais
como uma das mais impressionantes revela-
ções dos tempos modernos.

Era esta a atmosfera de cerrado hebrais-
mo, na qual nasceu Artur Carlos de Barros
Basto. A sua origem hebraica póde dizer-se
que se revelou na excepcional e multiforme
actividade que começou, a manifestar desde a
sua joventude. Homem de acção, empregou
a sua vocação na carreira das armas, tornan-
do-se militar. Foi um dos primeiros a aderir
ao movimento revolucionarío de 1910, da qua]
data o movimento do Portugal moderno. Foi
ele que num dia memoravel, deste ano has-
teou a bandeira republicana no Municipio do
Porto, com risco de vida e foi em seguida
levado em triunfo atravez as ruas pelo povo
delirante. Durante a guerra prestou serviço
no corpo expedicionario em França, na frente
britanica duma maneira excepcionalmente
distinta, e foi varias vezes condecorado e
citado na ordem do dia. A ele se deve a
instituição em Portugal dos boy-scouts dos
quaes é um apaixonado campeão.

Ao mesmo tempo notabilisou-se como
escritor e é membro da censura literaria que
se estabeleceu no Porto.

                II

        Os primeiros passos do retorno

Contudo, no meio de toda esta profusão
de actividade, andava pouco e pouco lavrando
em Barros Basto um sentimento de hebrai-
cidade que não podia ser reprimida, uma
incoercivel sensação da potencia da religião
hebraica e da sua identificação com a massa
do povo hebraico.

Já antes da guerra tinha começado a fre-
queutar a sinagoga de Lisboa e a estudar a
lingua hebraica da qual possue actualmente
um conhecimento insolito para um autodida-
ta. Mas a Comunidade oficial, educada nas
pavidas tradições do seculo passado, hesita-
va em conceder-lhe qualquer encorajamento.
(E' preciso lembrar que até á Revolução os


 
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