HA-LAPID 5 ====================================== sonalídade, talvez a mais magnética de quantas eu me havia aproximado. E' exuberante de actividade e de ener- gia tem sem duvida qualquer coisa de gas- cão no seu temperamento, mas unido a uma tal jovialidade que o põe acima de toda a critica. O que nele me impressionou mais foi o seu senso de "Humor" fenomeno não muito comum num propagandísta. Os seus olhos brilhavam continuamente de malícia, uma vez ou duas, para pô lo á prova acenei- lhe com qualquer velha historieta hebraica : mas não era preciso andar muito a fundo porque ele estava sempre pronto a dar-me em troca com uma das suas. Não correspon- derá, talvez, exactamente á sciencía o que von dizer, mas eu não posso deixar de pen- sar que para confirmar a sua origem hebrai- ca contribue o seu sentimento hebraico do "Humor". V Em passeio pelo Porto Em geral ele era extraordinariamente bem informado sobre tudo. Podia-se-lhe apresentar argumentos que teriam posto em embaraço muitas pessoas educadas na tradi- ção hebraica integral, estando-se certo da sua simpatica e inteligente compreensão. Eu não teria podido encontrar melhor guia para as antiguidades hebraicas do Porto, que são de notavel interesse. Visitamos a antiga Judiaria do Olival com a sua velha Sinagoga transformada em igreja, e as ruínas dum outro edificio de culto em Monchique, fora da antiga cidade. Depois levou-me a ver o local onde deverá surgir o seu novo templo do qual será por estes dias posta a primeira pedra. Por uma curiosa combinação, e' situado numa rua in- titulada com o nome de Guerra Junqueiro- o maior poeta português do nosso tempo, que era de origem marana e que poderia ter servido de modelo a Rembrandt para um dos seus retratos de Rabinos. Os muros de vedação e as fundações estão já prontas, mas a construção deverá necessariamente seguir de vagar, dada a deficiencia de meios, a não ser que surja qualquer inesperado golpe de fortuna. Com muita razão, eu penso, Bar- ros Basto tende a fazer desta sinagoga um simbolo tangivel do renascimento da vida hebraica em Portugal e um centro em torno do qual possam reagrupar-se os numerosos maranos que visitam o Porto. Assim, outros problemas, que em circunstancias ordinarias poderiam considerar-se mais urgentes, de- vem ser adiados para melhor tempo. Fez-me observar depois, enquanto pas- savamos proximo, uma porção de terreno que ele andava tratando de adquirir para fazer um cemiterio, mas pelo simples motivo de deficiencia de fundos, a prática caminha muito lentamente. "E entretanto como fazem?" lhe pregun- tei. Os olhos lampejaram-lhe de malícia, enquanto respondia com comíca seriedade: "Por ordem de Mahamad é proibido a qual- quer membro da Comunidade do Porto mor- rer, antes de estar pronto um local adequado para a sua sepultura". Quando voltavamos para o centro da cidade encontramos um jo- vem que nos saudou muito cerimoniosamente. O capitão pediu-me desculpa, e andou a fa- lar com ele. Poucos minutos depois voltou e disse-me: -"Este jovem é um dos nossos: é um viajante comercial, que anda em viagem pela província ha algum tempo Disse-lhe que ha- via oficio no templo e prometeu-me que vi- nha". -E' já hebreu oficialmente? lhe pregun~ tei. -"Ainda não, mas sê-lo-ha" foi a opti- mista resposta. Esta não é gente que se en- corage facilmente! (Continua). Cecil Roth. (trad. do italiano). o o o A Quintessencia do Judaísmo Muitas pessoas julgam-se bons judeus porque observam um ou outro dos costumes judaicos. Mas, os costumes judaicos são diversos enquanto que o judaismo é um só. Assim, o costume oriental obriga os ju- deus do Levante, a levarem a mão á fronte, ao coração e á boca, pronunciando o nome do Eterno (como faz Novelli no seu papel de Shylock), costume que não é conhecido
N.º 025, Kislev 5690 (Nov 1929)
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