HA-LAPID 3 ============================================ hebreus viviem em _Portugal sómente num regimen de tolerancia. A sua denominação ofcial era "A Colonia, hebraica" e o proiecto para a sinagoga de Lisboa, submetidoa apro- vação da autoridade, foi devolvido para ser modificado de forma a que não desse a im- pressão de se tratar dum edificio destinado ao culto!). Seja como for, terminada a guer- ra, o sentimento hebraico de Barros Basto tornou-se demasiado potente para poder ser por mais tempo sufocado. Neste momento, estava lá bem sciente da frieza da Comuni- dade local para o encorajar. Dirigiu-se a Tanger, entrou oficialmente a fazer a fazer parte da grei hebraica e pouco tempo depois pesposou uma graciosa senhora pertencente a uma das mais distintas familias da Comu- nidade de Lisboa, realizando assim a sua aspiração de fundar uma verdadeira casa he- braica. Neste tempo foi colocado na guarnição do Porto com o posto de capitão de infantaria. Quando em 1497 os hebreus portugueses fo- ram forçadamente convertidos, a principal siuagoga desta cidade foi cedida aos benedi- tinos, que a transformaram numa igreja da qual ainda existe parte da estrutura primi- tiva. Visínho dela, na antiga judiaria, foi depois construido um mosteiro, moderna- mente requisitado pelo Estado e transforma- do em uma prisão militar. Deste estabeleci- mento foi nomeado director o capitão Barros Basto: mais curioso exemplo da ironia da historia não se podia imaginar. Mas no Porto, apesar de, em importan- cia, ser a segunda cidade de Portugal, não existia ainda uma comunidade hebraica ofi- cialmente constituida, os poucos emigrantes que ali chegavam nos ultimos tempos do se- tentrião e do Oriente da Europa, eram des- providos do espirito de iniciativa necessario para organisarem a sua vida religiosa. Com a sua caracteristica energia, o nosso militante prosélito lança mao á obra infun- dindo nos outros parte da sua actividade. Em breve tempo foi organísada uma comu- nidade, que tomou o nome significativo de Mekor H'aim (Fonte de Vida) e foi instituída uma sinagoga provisoria. Mas isto era apenas o inicio. Como bom combatente, Barros Basto achava-se resolvi- do a conduzir os seus companheiros maranos á mesma completa reconquista do hebreísmo dos seus avós, da qual ele proprio gosava. Poz-se em contacto no Porto com alguns deles, que conduziu á sinagoga, conseguindo fazer entrar alguns no hebraismo oficial. En- tre estes ultimos, encontrou alguns dos seus colaboradores mais entusiastas. Por aqui não se tratava senão de individuos isolados. O grosso nucleo dos maranos reside nas al- deias e nas vilas da região montanhosa pro- ximo da fronteira espanhola, donde vieram os que actualmente habitam no Porto, isto é na província da Beira, Traz-os-Montes. etc. Era necessario ir ter alguem com essa gente: e a tal fim Barros Barros Basto con- sagrou a maior parte do escasso tempo que lhe deixavrm livre as suas obrigações mili- tares. III Romance Vivido O que aconteceu durante estas duas excursões constitue talvez o episodio mais romanesco de toda a historia contemporanea Algumas destas localidades são ainda excentricas onde se não pode ir là de cami- nho de ferro, e os seus habitantes vivem ainda completamente isolados de todo o resto do mundo. E' tipica, entre outras, a seguinte anedota. Uma deligencia ia rodando por uma estrada poeírenta, enquanto os pas- sageiros se punham a conversar entre si. A um individuo de aspecto amavel que estava nsentado a um canto, foi perguntado para onde se dirigia. Quando ele disse. todos os outros procuraram dissuadi-lo. "Tenha cui- dado, lhe disseram, que essa terra está cheia de hebreus? (Querendo dizer, naturalmente, Maranos.) -"Deveras? --respondeu o forasteiro-e como isso é bastante interessante. porque tambem eu son hebreu." Os outros ficaram interditos, e manifestaram o seu desdem com alguns murmurios. Por outro lado, na primeira paragem, o proprietario da deligen- cia tomou de parte o forasteiro, e the reve- lou que tambem ele era hebreu e que tam- bem ele era hebreu e que adorava o grande Deus do Ceu "Adonai". (E' singular como como sobreviveu entre os Maranos esta ex- pressão, quasi unica da lingua hebraica, que porem era tão familiar aos seus avós). E em seguida foram-lhe fornecidos diversas uteis informações relativas á composição da Co- munidade marana do logar. Chegado ao seu destino, o Mensageiro do
N.º 025, Kislev 5690 (Nov 1929)
> P03