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Ha-Lapid הלפיד


N.º 025, Kislev 5690 (Nov 1929)







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 4              HA-LAPÍD
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Resgate (como graciosamente se qualifica a
o próprio) veste o uniforme e vai visitar o
comandante da guarnição local, para demons-
trar de uma forma evidente que o seu pro-
grama não tem oposição alguma da autori-
dade. Em sua companhia, ás vezes, apresen-
ta-se depois em casa dum dos mais conspi-
cuos maranos da localidade, onde se fará
uma reunião. Ali, provavelmente pela pri-
meira vez após mais de 4 seculos, celebra-se
uma função publica segundo o rito hebraico
tradicional. Os olhos de muitos dos presen-
tes humedecem-se de lagrimas; lagrimas de
alegria pelo grande acontecimento ao qual
teem a sorte de assistir, lagrimas de receio
que a iniciativa seja ainda demasiado arris-
cada.

Segue-se depois um apaixonado discurso,
e na reunião seguinte constitua-se oficial-
mente uma comunidade com o seu Presiden-
te e com o seu Mahamad e com a sua si-
gnificativa denominação hebraica. Numa des-
tas ocasiões, um medico que tinha acompa-
nhado Barros Basto (ex-marano como ele)
iniciou em dois dias no pacto da aliança um
miniau completo de adultos, pertencentes
todos á fina flôr das familias da cidade. De
tal forma quasi meia duzia de comunidades
foram ressuscitadas durante os ultimos anos.

Acerca desta visita contam-se coisas ex-
traordinarias. Narraram-me que um velho de
cerca de 70 anos, quasi cego, se lastimava
de não poder contribuir com e seu esforço
para a boa obra."

Porém eu tenho os meus filhinhos--disse
-tome conta deles. Encontrei-os no Porto:
belos jovens, de inteligencia vívaz (um no
inicio duma brilhante carreria intelectual),
inteiramente dedicados ao Mestre e aos seus
idiais. Entre os grupos de Maranos repete-
-se com religiosa reverencia a anedota de
um certo, que sendo surdo ha muitos anos,
dirigindo uma oração ao Deus de Israel, en-
quanto se acendia pela primeira vez a lam-
pada perpetua na sinaguga da sua cidade, de
regente instituição, recuperou o ouvido. Nes-
ta localidade logo se apresentou ao governa-
dor uma deputação de senhoras catolicas, as
quais lhe pediram para mandar fechar a si-
nagoga ha pouco inaugurada, que lhes pare-
cia constituir uma ofensa á moralidade pu-
blica, Ele recusou-se decididamente dizendo:
-Que farieis vós se os hehreus me viessem
pedir para mandar fechar a igreja?"

Por outro lado, as dificuldades a vencer



são enormes. O hebraismo secreto e tão
profundamente enraizado em muitas pessoas,
quo lhes parece agora sacrosanto, e a unica
maneira para adorar o seu Deus, e a consi-
deram virtualmente uma impiedade a publi-
ca profissão da sua fé. Outros vivem uma
vida muito afastada da actual, não fazendo a
menor ideia dos progressos nos dois ultimas
seculos, e temem que uma manifesta adesão
ao hebraismo possa leva-los ás garras da In-
quisição. A grande distancia e a deficiencia
de meios aumentou a dificuldade da situa-
ção. Apesar de tudo o trabalho continua a
fazer constantes progressos.

               IV

        Actividade multiforme

Mas estas visitas de propaganda consti-
tuem só um lado da fenomenal actividade de
Barros Basto: era necessário fazer alguma
coisa que estabelecesse o contacto entre os
nucleos isolados e a vida hebraica dos dias
de hoje. Para este fim Barros Basto faz sair
um jornal hebraico-o único do país-intitu-
lado "Ha-Lapid" na direcção do qual poz um
dos seus jovens adeptos. Ali se publicam no-
ticías resumidas de interesse hebraico quer
de Portugal, quer do Estrangeiro, artigos va-
riados e os primeiros elementos da prática
tradicional (especialmente referentes a qual-
quer festa próxima) Estes ultimos são na
sua maior parte extraídos do "Tesouro dos
Diním" que Menassch Ben-Israel compilou
há -três séculos para os maranos de Amster-
dam. Este jornalsinbo e' largamente espa-
lhado entre as várias familias de origem he-
braica e tem prestado muito bom serviço. Os
novos adeptos são, como é natural, comple-
tamente ignorantes do hebraico, porisso Bar-
ros Basto traduziu na lingua do país grande
parte do ritual, que vai publicando em fas-
cículos: a função de sexta-feira à noite, a
Hagadá de Pascoa, as orações e as cerimo-
nias pelos mortos o moribundos, etc. Ao
mesmo tempo continua a sua produção lite-
raria e recentemente, publicou uma no-
tavel monografia sobre a historia dos hebreus
do Porto.

Muitas das coisas eram-me já conheci-
das, e outras me andava contando o Apostolo
dos Maranos, numa sexta-feira á noite,
enquanto passeava-mos pela cidade. Era im-
possivel não ser impressionado com a sua


 
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