N.º 026, Tebet 5690 (Dez 1929) > P04
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página

Ha-Lapid הלפיד


N.º 026, Tebet 5690 (Dez 1929)







fechar




 4             HA-LAPÍD
============================================

antes do establecimento da Inquisição. Pro-
ceder diversamente tiraria a esta iniciativa
toda a justificação ideal, além de poder alie-
nar-lhe a simpatia dos hebreus em geral,
fazendo o jogo do obscurantísmo local, que
contra este movimento não pode apresentar
nenhuma logica objecção.

                VII

           Falta de Rabinos

Um grave problema a resolver e o das
guias espirituais. Muitos nucleos de Maranos
reclamam "o padre" (como lhe chamam por
força do habito) e dizem estar dispostos a
pagar-lhe a mesma decima que pagaram as
paroco local. Mas não ha ninguem que possa
prover a esta aspiração.

As novas Comunidades são abandonadas
a si proprias, praticando como melhor pude-
rem, misturando duma maneira comovente o
velho com o novo.

O remedio sonhado por Barros Bastos e a
instituição no Porto de uma especie de es-
cola teologica para a qual possam ser manda-
dos da província, para serem instruídos,
rapazes que depois de graduados, regressando
aos seus paizes, desempenharâo os serviços
religiosos das varias Comunidades. Mas este
projecto exige importantes recursos, o que,
salvo se intervem algum rico mecenas a fi-
nancia-lo, deverá por agora ficar em estado
de sonho.

Em tudo quanto expuz, ha abundante ma-
teria para crítica. Trata-se dum trabalho de
pioneiros, mas duma tal especie que até
agora não tinha sido tentado: não ha expe-
riencia alguma do passado que possa servir
de guia. Em mais dum ponto o critico poderá
escolher um detalhe que poderia ter sido se-
guido diversamente, e que ele preferiria ver
modificado.

Mas isso não tem influencia alguma nos
resultados a conseguir. Barros e' a unica pes-
soa activa deste movimento que já está edu-
cado nesse meio, que é indiscutivelmente
português de sentimento e de origem, que
tem completa familiaridade com a situação
local e com a psicologia dos Maranos. E' o
homem do momento: a verdadeira pessoa com
quem se pode contar. Se comete qualquer
erro, é por excesso de entusiasmo.

Todo o seu comportamento está demons-

 

trando que não teme a critica e que está
sempre pronto a aceitar sugestões e a fazer
tesouro delas.

Ele é ali o representante de toda a Casa
de Israel, e toda a Casa de Israel tem a de-
ver de facilitar-lhe o seu aperfeiçoamento.

                VIII

A ajuda dos Irmãos

De facto ha muito a fazer. A assistencia
financeira não é senão uma das maneiras.
(Pois que não se pode pensar que todo este
trabalho possa fazer-se sem fortes despezas,
nem que as Comunidades possam estar em
condições ainda por alguns anos de mante-
rem-se por si). A assistencia financeira é pois
sómente um dos aspectos do problema, se
bem que seja a chave de todos os outros.

As novas Comunidades teem necessidade
destas coisas: livros, jornais, revistas (os edi-
tores e os escriptores fariam uma obra de
caridade sem sacrifício se mandassem exem-
plares das suas publicações), rolos da Lei e
suas alfaias; Mezuzoth, Taletim e toda a qua-
lidade de objectos sagrados. Melhor uso não
se podia fazer do superfluo de muitas Comu-
nidades ricas quer da Europa, quer da Ame-
rica.
Estas novas comunidades portuguesas
não estão ainda em condições de usufruir
completamente de todos estes objectos, mas,
neste momento, podem servir de símbolo,
como um ponto tangivel em volta do qual
podem retomar a sua consciencia hebraica.
Forçosamente com a proxima geração os ger-
mens agora semeadas serão chegados á ma-
turação, e a gloria do Hebraismo portugues
poderá viver ainda, como no passado. As
sinceras manifestações de simpatia e de so-
lidariedade que lhes cheguem vindos dos
irmãos da diaspora não deixarão de produzir
um benéfico efeito na consciencia hebraica
destas almas perdidas, que estão agora apro-
ximando-se do seu caminho, apoz quatro sé-
culos, para se reunirem ao nucleo central do
seu povo. Trata-se pois de aproveitar o mo-
mento oportuno, e para isto a próxima ge-
ração chegaria demasiado tarde.

No domingo de manhã, prepararamo-nos
para partir num comboio extraordinariamente
matinal. Encontravamo-nos a braços com os
segredos dum horario português, no angulo


 
Ha-Lapid_ano04-n026_04-Tebet_5690_Dez_1929.png [165 KB]
Primeira Página Página Anterior Diminuir imagem Imagem a 100% Aumentar imagem Próxima Página Última Página