4 HA-LAPÍD ============================================ antes do establecimento da Inquisição. Pro- ceder diversamente tiraria a esta iniciativa toda a justificação ideal, além de poder alie- nar-lhe a simpatia dos hebreus em geral, fazendo o jogo do obscurantísmo local, que contra este movimento não pode apresentar nenhuma logica objecção. VII Falta de Rabinos Um grave problema a resolver e o das guias espirituais. Muitos nucleos de Maranos reclamam "o padre" (como lhe chamam por força do habito) e dizem estar dispostos a pagar-lhe a mesma decima que pagaram as paroco local. Mas não ha ninguem que possa prover a esta aspiração. As novas Comunidades são abandonadas a si proprias, praticando como melhor pude- rem, misturando duma maneira comovente o velho com o novo. O remedio sonhado por Barros Bastos e a instituição no Porto de uma especie de es- cola teologica para a qual possam ser manda- dos da província, para serem instruídos, rapazes que depois de graduados, regressando aos seus paizes, desempenharâo os serviços religiosos das varias Comunidades. Mas este projecto exige importantes recursos, o que, salvo se intervem algum rico mecenas a fi- nancia-lo, deverá por agora ficar em estado de sonho. Em tudo quanto expuz, ha abundante ma- teria para crítica. Trata-se dum trabalho de pioneiros, mas duma tal especie que até agora não tinha sido tentado: não ha expe- riencia alguma do passado que possa servir de guia. Em mais dum ponto o critico poderá escolher um detalhe que poderia ter sido se- guido diversamente, e que ele preferiria ver modificado. Mas isso não tem influencia alguma nos resultados a conseguir. Barros e' a unica pes- soa activa deste movimento que já está edu- cado nesse meio, que é indiscutivelmente português de sentimento e de origem, que tem completa familiaridade com a situação local e com a psicologia dos Maranos. E' o homem do momento: a verdadeira pessoa com quem se pode contar. Se comete qualquer erro, é por excesso de entusiasmo. Todo o seu comportamento está demons- trando que não teme a critica e que está sempre pronto a aceitar sugestões e a fazer tesouro delas. Ele é ali o representante de toda a Casa de Israel, e toda a Casa de Israel tem a de- ver de facilitar-lhe o seu aperfeiçoamento. VIII A ajuda dos Irmãos De facto ha muito a fazer. A assistencia financeira não é senão uma das maneiras. (Pois que não se pode pensar que todo este trabalho possa fazer-se sem fortes despezas, nem que as Comunidades possam estar em condições ainda por alguns anos de mante- rem-se por si). A assistencia financeira é pois sómente um dos aspectos do problema, se bem que seja a chave de todos os outros. As novas Comunidades teem necessidade destas coisas: livros, jornais, revistas (os edi- tores e os escriptores fariam uma obra de caridade sem sacrifício se mandassem exem- plares das suas publicações), rolos da Lei e suas alfaias; Mezuzoth, Taletim e toda a qua- lidade de objectos sagrados. Melhor uso não se podia fazer do superfluo de muitas Comu- nidades ricas quer da Europa, quer da Ame- rica. Estas novas comunidades portuguesas não estão ainda em condições de usufruir completamente de todos estes objectos, mas, neste momento, podem servir de símbolo, como um ponto tangivel em volta do qual podem retomar a sua consciencia hebraica. Forçosamente com a proxima geração os ger- mens agora semeadas serão chegados á ma- turação, e a gloria do Hebraismo portugues poderá viver ainda, como no passado. As sinceras manifestações de simpatia e de so- lidariedade que lhes cheguem vindos dos irmãos da diaspora não deixarão de produzir um benéfico efeito na consciencia hebraica destas almas perdidas, que estão agora apro- ximando-se do seu caminho, apoz quatro sé- culos, para se reunirem ao nucleo central do seu povo. Trata-se pois de aproveitar o mo- mento oportuno, e para isto a próxima ge- ração chegaria demasiado tarde. No domingo de manhã, prepararamo-nos para partir num comboio extraordinariamente matinal. Encontravamo-nos a braços com os segredos dum horario português, no angulo
N.º 026, Tebet 5690 (Dez 1929)
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