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Ha-Lapid הלפיד


N.º 037, Adar 5691 (Fev-Mar 1931)







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           HA-LAPÍD                   5
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Musica judaica

O nosso correligíonario Leon Algazi foi
entrevistado pelo jornal La Joire Musicale,
de Paris, acerca da existencia da musica
judaica. Dessa entrevista extratamos o se-
guinte, por o julgarmos de interesse para os
nossos leitores.

"Ha uma musica judaica. Em primeiro
lugar uma musica de essencia religiosa:
duma parte, os cantos sinagogais que apre-
sentam o duplo caracter de Soli incumbente
ao Hazan (oficiante) e de tutti destinados á
assembleia dos fieis; doutra parte, os can-
tos do lar, cujo interprete é o pai e ás ve-
zes a mãe.

Os filhos, os convidados, formam mui-
tas vezes um côro por vezes místicos e mu-
sicais.

Finalmente, ha uma completa floração
de cantos populares: berceuses, dansas, can-
ções d'amor, canções para beber, canções
humoristicas, elegias,... Mas ali tambem
as reminiscencias, as alusões religiosas são
frequentes e fazem deste folk-lore um docu-
mento humano completamente original.

Sei que ha quem negue a originalidade
da musica judaica, com o pretexto de que
influencias diversas são sensíveis não só
nos cantos religiosos como nós nossos can-
tos populares, querem que a musica judaica
não seja mais do que um amontoado de
emprestimos ou de furtos heteroclitos. Mas
conheceis um unico folk-lore musical ou
outro, que tenha ficado puro de toda a mis-
tura? O que eu posso afirmar quanto a mim,
é que os especialistas do folk-lore falam
tambem da influencia judaica no canto po-
pular russo, romêno, hungaro, turco, arabe,
como. . . do contrario.

E vós não ignorais a importancia que os
sabios musicologos atribuem hoje ao ele-
mento judaico na formação do cantochão
das igrejas catolicas e ortodoxas orientais.

Conhecem-se os factos musicais judaicos
e basta proceder a um simples trabalho de
comparação para ver que a musica judaica
tem a sua fisionomia propria, a sua perso-
nalidade.

Tomemos, por exemplo, o Kol Nidré,
tornado celebre pela parafrase de Max.
Bruch e, mais recentemente pelo disco e
pelo filme sonoro.

Pois bem, este canto, que não é certa-
mente um dos nossos mais antigos (pois
que o seu texto literario não deve remontar
para alem do seculo XV) e nas versões di-
ferentes do qual se descobriria facilmente
impressões não judaicas, este canto não po-
deria no confundido, nem com uma melo-
pêa arabe, nem com uma doina romêna e
ainda menos ser tomado por um trecho de
canto chão gregoriano ou bisantino. Então,
não tenho o direito de afirmar que é um
canto judaico?

O que caracterisa os cantos judaicos são
algumas particularidades subtis e numero-
sas, porque não ha, note bem isso, um tipo
unico de cantos judaicos. Mas um traço é
comum a toda a musica religiosa judaica. a
qual constitue o fundo da nossa tradição
musical: é a eloquencia.

Uma eloquencia simples, quasi familiar,
mas mais patetica e mais atraente. Nisto o
canto sinagogal difere radicalmente do canto
da igreja, mais extatico, mais magestoso,
talvez, mas seguramente, menos expressivo.

Um, o judeu, tende a comover a miseri-
cordia divina; o outro, o cristão, busca acal-
mar, direi embalar, a miseria humana...

Pouco se sabe sobre a origem de estes
cantos judaicos. Sabemos, por exemplo,
que uma tradição musical existia já no se-
timo seculo da nossa Era, pois que. nesse
momento, vemos sabios judeus (os massore-
tas) tratar de fixar essa tradição (pelo me-
nos no que diz respeito a certos livros bi-
blicos) por meio de sinais.

Para dizer a verdade, estes sinais estão
longe de apresentar o valor da notação mu-
sical moderna. Eles não teem nem a sua
simplicidade nem a sua precisão. Mas cer-
tamente deram origem aos neumes com a
ajuda dos quais foi notado o cantochão da
igreja. Chamam-se em hebreu taamim ou
nigounim e, verdadeiros grupetti, servem
ao mesmo tempo para marcar a pontuação,
o acento tónico, o ritmo e as inflexões me-
lódicas da cantilêna com a qual se acompa-
nha a recitação da maior parte dos textos
biblicos.

A interpretação destes sinais não é, por
toda a parte, exactamente a mêsma, porque
a linha melodica difere segundo as tradi-
ções. Assim, entre os judeus, ditos espa-
nhois, d'oriente, ela tem uma outra allure


 
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