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Ha-Lapid הלפיד


N.º 038, Nissan 5691 (Mar-Abr 1931)







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 6              HA-LAPID
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O 3.° dia sob a invocação Nergal (Marte).
O 4.° dia sob a invocação Nabu (Mercúrio).
O 5.° dia sob a invocação Marduk (Jupiter).
O 6.° dia sob a invocação lxtar (Venus).
O 7.° dia sob a invocação Minib (Saturno).

Como se vê, é a denominação Hindu apenas tra-
duzindo o nome dos astros. Será coincidencia? Não
sabemos que dizer.

A astrologia era corrente em certa epoca da his-
toria entre os povos do Oriente.

Mas o facto de os judeus os designarem por ordi-
naes nos faz crer que elles adoptassem a semana
hebdomadal como calculo de trabalho, ao passo que
os outros povos ou por imitação ou por coincidencia,
atravez da sua astrolatria, chegaram ao mesmo nu-
mero de dias para a semana.

Tambem pode ter sido-no que estamos de ac-
cordo--imitada dos Judeus, dadas as observações de
Burnouf, Ab, Moraeux, e outros sem deixar de parte
o valor da tradição.

Os Gregos, com o contacto dos judeu-christãos,
receberam a semana judaica e ainda a ordem, fugin-
do assim a infuencia deixada pela astrolotria e aban-
donando a sua tradição, de forma que elles designam
actualmente os dias da semana:

Segunda-Deutera.
Terça--Trite.
Quarta-Tetarte.
Quinta-Pempte.
Sexta-Paraskene ou Prosáobaton.
Sabado-Sabbaton.
Domingo-Kyrlaské

Vê-se pois que entro os povos christãos não só
os Portuguezes estabeleceram a conta ordinal para os
dias da semana.

Exposta dessa forma a indicação da semana em
alguns povos, chegamos á conclusão de que a sema-
na hebdomada é de origem judaica, se bem que haja
quem afirme ser babylonica. O caso é, porem que o
OcciLentea conheceu atravéz do judaismo. Parece
ser sido introduzido no Império Romano, ao tempo
de Theodosio um pouco depois.

A maioria desses povos seguiram a nomenclatu-
ra indo-babylonica claramente influenciada pela astro-
latria. Mas os Gregos, Portuguezes e ainda Mhometha-
nos seguiram a denominação ordinal.

Nos Gregos e Arabes a influencia judaica é evi-
dente. Os primeiros annos do christionismo no medi-
terraneo oriental, o contacto entre judeus e christãos
era de tal natureza que quasi não se differençavam.
Basta dizer que em qualquer communidade judaica se
encontrava um agrupamento christão, de forma que
não é muito dificil explicar a origem de varios usos,
cerimonias, etc., deste culto por influencia daquelle.

Quanto aos Arabes, o contacto com os judeus é
anterior ao romano e mesmo ao grego. A Biblia meu-
ciona-os. Depois este contacto foi maior.

E' sabido que chegou a haver na Arabia o reino
Hymyarita só de judeus, cuja tradição e costumes in-
fluenciou os povos dessa região, dando-se o appareci-
mento do mahometismo.

Indicados assim alguns calendarios e a sua rapi-
da comparação com a semana judaica, vejamos o que
nos diz Candido de Figueiredo, cuja leitura suscitou
em nosso espirito a idéa do presente trabalho:



"A dificuldade não está em aabermos a razao do
vocabulo "feira", com aquella applicação. No latim
da liturgia christã, pelo menos, desde o seculo IV da
nossa era, ou desde os tempos de S. Jeronymo, deu
-se aos dias da semana o nome de féria Secuuda, fé-
ria tertia, féria quarta .. e que por uma lei de Cons-
tantino Magno, a semana anterior á Paschoa e a se
mana immediatamente seguinte eram feriados; pos-
teriormente, prevaleceu o uso de se feriar só a
semana immediata á Paschoa. E assim, sendo semana
de férias, á primeira féria, chamou-se por excellencia,
domingo, (dies domenica, dia do Senhor); mas os
dias seguintes chamaram-se segunda-feira, terça,
quarta, etc...

Ora o vocábulo féría, por evolução ou phonetica
normal, produziu o termo português feira e daqui a
segunda-feira, terça-feira, etc...

O setimo dia tambem era feriado e, por isso, na
velha liturgia, se chamou septima-féria; mas depois
prevaleceu o nome de sabado, que, entre os hebreua,
é o dia do descanso.

A dificuldade, pois, não está em se apontar a ra-
zão do termo fetra, applicado aos dias da semana; 0
que realmente nos parece difficil é explicar satisfacto-
riamente, por que, não sendo os portugueses mais
catholicos que os hespanóes, os italianos e os france-
ses, só nos é que applicamos aos dias da semana os
nomes consignados na antiga liturgia christã catho-
lica. Como a semana immediata á Paschoa era a pri-
meira do anno ecclesiastico, compreende se que o no-
me dos dias, da primeira semana se applicasse aos
dias das outras semanas do anno.

Mas porque foi que só os portugueses adoptaram
tal nomenclatura, desconhecida hoje entre os outros
povos christtios?

Digam-no os sábios, que nós, apenas aventure-
mos a supposição de que o espirito religioso, associa-
do ao patriotismo de um povo, cujos ascendentes lu-
taram contra os romanos, levaria os descendentes dos
lusitanos a preferir as tradições liturgicas á adopção
de uma nomenclatura pagã dos conquistadores da
Peninsula.

Mera supposição, em todo o caso.

Vê-se, pois, que o illustre philologo não atinou
com a razão principal e limitou-se a divagar no terre-
no imaginario das idéas e a attribuir a exaggeros de
antiromanismo a causa da preferencia portuguesa po-
los ordinaes dos dias da semana. A razão mais do
que evidente se encontra na propria Historia de Por-
tugal. Os Judeus, e mais tarde os Arabes, estiveram
na Peninsula até uma época em que a lingua já se fi-
xara de todo. Particularmente os primeiros assistiram
á formação dessa lingua. Os Arabes ahi apparecem no
periodo de transição. Ambos esses grupos ethnicos
eram os senhores do commercio -e da industria. Eram
elles que prodominavam nas transações de ordem
economica; que coneorriam aos mercados ou feiras e
que automaticamente transmittiam aos habitantes do
paiz a linguagem de interesse commercial. Não é
preciso dizer que os nomes de certos pesos e medi-
das como arratel, arroba, alqueire, almude e outros
são francamente de origem arabe. Ora é claro, que
tanto judeus como Arades usando a denominação or-
dinal para os dias da semana e estando em contacto
com o povo em relações da vida diaria fizeram pre-
dominar o seu uso, que teve depois a sancção geral
amparada pela facilidade do apcio domestico.


 
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